Sociedade

História e futuro da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental

Por Roberto Villar Belmonte* – 

Artigo publicado originalmente em 2015 –

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED, na sigla em inglês) foi responsável pela consolidação do jornalismo ambiental como prática especializada de jornalismo no Brasil. A mobilização dos jornalistas para cobrir a Cúpula da Terra, que trouxe ao Rio de Janeiro (RJ) representantes de 172 países em junho de 1992, foi a origem também da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA).

Quase todos os jornalistas que fizeram parte das primeiras configurações da RBJA participaram dos cursos preparatórios realizados antes da conferência, em diversos estados brasileiros. A ideia de uma articulação especializada surgiu antes mesmo da internet e foi sugerida pela jornalista Liana John no Seminário para Jornalistas sobre População e Meio Ambiente realizado no mês de novembro de 1989, em Brasília (DF), pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

– Creio que devemos nacionalizar alguns temas que sejam locais e que mereçam uma cobertura mais global de toda a imprensa. Então, eu não sei se a Fenaj centralizaria isso, ou se a gente formaria algum clube para passar algumas dessas informações. Por exemplo, uma pessoa de Goiás que descobre lá um rio contaminado, alguma coisa que julgue de importância a ser discutido com toda a imprensa, que passe essa informação, que às vezes a gente não tem e cada um faria sua matéria na forma de uma campanha de toda a imprensa em torno desses temas.

Esta proposta da jornalista Liana John apresentada no final dos anos 1980 foi colocada em prática por um grupo de jornalistas na primeira metade dos anos 1990 nas conferências eletrônicas do Alternex, serviço pioneiro de comunicação lançado em 1992 pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Poucos jornalistas utilizavam e-mail na época. Em função disso, a presença nas conferências era limitada. A RBJA ainda não estava pronta.

A Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental nasceu de fato no segundo semestre de 1998. A meu ver não podemos apontar uma data de nascimento, apenas um período, pois nestes primeiros meses foram várias tentativas de configuração. A sua formatação, como uma rede de e-mails tramada para articular os jornalistas interessados nos temas ambientais, ocorreu depois de vários encontros presenciais e de alguns anos de experimentação online.

Além da troca de experiências e ajuda profissional, era também objetivo original da RBJA avaliar a qualidade do jornalismo ambiental brasileiro, nesta época já consolidado como uma especialização temática. Este viés crítico é característica do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJRS), entidade responsável, junto com a Pangea/Agir Azul, pelos primeiros anos de vida da rede que em 2020 completa 22 anos. Está, portanto, já na idade adulta.

A maturidade da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental passa necessariamente, a meu ver, pela sua transformação em entidade (Liana John sugeriu um clube em 1989) nos moldes da Andi e da Abraji no Brasil, ou do IRE e da SEJ nos Estados Unidos. Criar projetos colaborativos – de reportagens e de pesquisa – é a vocação da RBJA e uma grande oportunidade neste mundo de realidades compartilhadas e de mudanças estruturais no Jornalismo.

Obs: Em 2017 a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental se formalizou juridicamente como uma organização da Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos, uma ONG. (#Envolverde)

* Roberto Villar Belmonte integrou a primeira equipe de moderadores da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.