O oco do lápis, onde se encaixava o giz, é ínfimo diante da “tora” usada para dar uma cara ecológica ao brinde. Eu aceitaria apenas o giz!

O lápis desta foto foi um brinde entregue pelo “Banco do Planeta” durante uma edição da Conferência Internacional Ethos, provavelmente a de 2010. Enquanto eu examinava o brinde, me perguntando por que o Banco se achava ecológico ao entregar uma tora de madeira cuja apenas a ponta (que era de giz de cera vermelho) seria útil; ao meu lado, um amigo jornalista se fazia outra questão: Banco do Planeta, por que o planeta precisa de um banco?

A resposta da minha pergunta, alguns anos depois, parece ser a seguinte: apesar do discurso seguro de quem faz tudo de modo sustentável, as empresas ainda patinam quanto tentam praticar a sustentabilidade. Às vésperas da Rio+20, a ONU nos pergunta como a Economia Verde está presente nas nossas vidas. Isso é pergunta que se faça? Assim, partindo do pressuposto que a Economia Verde já está aí para quem quiser ver?

Estamos nos acomodando a pensar que a questão ambiental é um probleminha técnico: troquemos o papel pelo tablet e tudo ficará lindo, pelo menos até que alguém lembre que o eletrônico está cheio de componentes tóxicos e micro-resíduos difíceis de reciclar. Não, não é para condenar a tecnologia. É só para lembrar que não existe vilão e mocinho quando a questão é ambiental. Tudo depende da origem, da demanda, da racionalidade do descarte.

Muito mais complexa que um probleminha técnico, a questão ambiental é política. Guardemos essa lição para além da Rio+20, quando as cartas do jogo serão dadas pela capacidade da governança global,  ou vamos continuar vendo notícias sobre tanques de guerra “verdes”e “mansões “ecológicas”, como se a violência e a concentração de renda não tivessem nenhuma indisposição com a sustentabilidade – e alguém poderia dizer: imagina, qualquer um pode entrar na casinha da sustentabilidade! Sim, é a Mãe Joana do século XXI.

Depois de percebermos que o investimento em equilíbrio ambiental não detrime os processos de inclusão social, que não vai contra a nossa qualidade de vida e nem contra nosso desenvolvimento; resta passar pelo crivo do Mercado.

Estamos nos perguntando se a Economia Verde é possível e se é conveniente. Se vai incluir os Direitos Humanos e se vai realmente combater a pobreza. Ora, a economia marrom já tem essas capacidades! O que a versão Verde precisa não é de qualidades e possibilidades. É de limites. A Economia Verde deveria ser exclusivamente aquela que deixa de olhar para o seu próprio umbigo e passa a atender à sociedade, dentro dos limites do planeta. Não deveríamos estar buscando uma fórmula para a sustentabilidade ter um sentido dentro da atual lógica econômica, mas o contrário: que a sustentabilidade dê sentido para a economia.

Aqui chegamos à pergunta do meu amigo: por que o planeta precisa de um banco? Porque o Mercado ainda tem medo. Não sabe como fazer o que fala e prefere embutir a ecologia na parte menos complicada da produção – normalmente, o rótulo. Cooptam o sentido amplo da sustentabilidade como se ela ameaçasse, combatesse e pudesse aniquilar o Mercado. Na verdade, ela apenas nos obriga a repensá-lo.

Vamos precisar de alguma audácia dos chefes de Estado durante a Rio+20 para que a Economia Verde ocupe seu lugar de ferramenta da sociedade em vez de uma posição de Deus. Depois, é só rezar para que o Mercado incorpore as devidas reformas – sem se fazer de santo.

* Ana Carolina Amaral é jornalista formada pela Universidade Estadual Paulista, tem mais de dez anos de atuação em questões socioambientais e atualmente produz o especial Caminhos da Reportagem, pela TV Brasil. Escreve sobre Mulheres e Sustentabilidade nos portais Mercado Ético e Tempo de Mulher. Acredita na mudança de baixo para cima. Twitter: @acarolamaral