Sustentabilidade em números

Há sete anos no mercado, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&F Bovespa é a tradução em números do valor do desenvolvimento sustentável

Abraçadores de árvores. Era desta maneira, com um tom pejorativo, que a vanguarda do movimento ambientalista era chamada há algumas décadas no Brasil. O termo remonta a uma história indiana, de habitantes de um vilarejo que morreram para proteger as árvores da região. Apesar da origem nobre, o apelido vinha acompanhado de descrédito e preconceito. Não se pode dizer que a expressão tenha sido totalmente esquecida, visto que alguns desavisados continuam a utilizá-la, mas o movimento ambiental já atingiu um novo patamar. Ganhou uma dimensão mais completa, com entendimento de que o social e o econômico estão atrelados a ele, e um novo nome: sustentabilidade.

Com essa nova definição, deixou de ser encarado como sentimentalismo e chegou a um lugar onde nem mesmo o mais otimista “abraçador de árvores” imaginaria. A criação, em 2005, do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da BM&F Bovespa, marcou sua entrada no coração financeiro da maior cidade do país, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Segundo a diretora de sustentabilidade da Bovespa, Sônia Favaretto, a criação do ISE foi resultado de demandas do mercado e segue uma tendência mundial. Ele foi o quarto índice de ações no mundo elaborado com o objetivo de mostrar o desempenho da gestão sustentável de empresas, e o primeiro da América Latina. “Um banco nos propôs a criação do índice de sustentabilidade e rapidamente a Bolsa concordou, entendendo que este era um caminho natural”, diz Sônia. Para ela, o índice é uma consequência do reconhecimento do mercado de que os recursos naturais são o alicerce dos recursos econômicos, e que “empresas sustentáveis são mais seguras e é papel da Bolsa oferecer ferramentas para que os investidores possam reconhecê-las”.

Para elaborar as bases do índice, teve início então um processo participativo. Foi criado um comitê com vários atores de mercado e estabelecida uma parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) da Fundação Getulio Vargas (FGV). As conversas resultaram em um questionário, baseado no conceito internacional triple botom line (TBL), que avalia de forma integrada elementos ambientais, sociais e econômico-financeiros. Inicialmente as perguntas estavam encaixadas dentro de seis dimensões: geral, natureza do produto, governança corporativa, econômico-financeira, ambiental e social. Para seleção das empresas que iam compor a carteira de 2012, foi incluída ainda a dimensão mudanças climáticas.

Para fazer parte do ISE, a empresa precisa ser convidada pela Bolsa a responder o questionário. Este ano, foram chamadas 182 companhias, que detêm as 200 ações de maior liquidez da bolsa paulista. Deste total, 54 responderam às questões, sendo seis delas como “treineiras”. Foram aprovadas 38 empresas de 18 setores da economia, que estão no índice de 2012. Estas instituições somam um valor de mercado de R$ 961 bilhões, que equivale a 43,62% do valor de mercado de todas as companhias com ações negociadas na bolsa. Destas, apenas duas ingressaram este ano e as demais já faziam parte de carteiras anteriores. Outra novidade incluída no sistema de seleção de 2012 foi a possibilidade de as empresas divulgarem suas respostas para o público, no site do ISE. Apenas oito corporações permitiram a abertura de seus questionários.

“Mesmo quando a empresa não é aprovada, o reflexo é positivo, pois na maioria dos casos os gestores se engajam no objetivo de melhorar as políticas de sustentabilidade da empresa, para que o ano seguinte o resultado seja diferente. Além disso, ele serve também como um diagnóstico das ações socioambientais, para que a empresa saiba em que pontos precisa melhorar”, avalia a diretora da Bolsa.

Atualmente, o ISE possui um limite de 40 empresas em sua certeira. “Ainda não sentimos a necessidade de rever esse teto. Mas, este é um ponto que, no momento certo, será reavaliado”, explica Sônia.

As respostas das empresas no questionário são avaliadas de maneira quantitativa e qualitativa. A certificação é feita por amostragem. De acordo com a BM&F Bovespa, até o momento não houve casos onde a auditoria encontrou situações diferentes das descritas pelas empresas.

Sobre o desempenho do Índice, Sônia destaca um ponto relevante sobre o qual, segundo ela, ainda não existe uma análise segura, mas que merece atenção. “Desde que o ISE foi lançado a gente faz uma comparação com o Ibovespa (mais importante indicador do desempenho médio das cotações do mercado de ações brasileiro). No pico da crise financeira de 2008, o ISE descolou positivamente. Isto para mim deixou claro que na hora de uma crise, o investidor entende que as empresas do ISE protegem mais o seu recurso financeiro. Elas apresentam menos risco, mais cuidado com a governança corporativa, estão mais atentas aos impactos sociais e ambientais e se tornam uma boa opção para quem quer um investimento de qualidade”, relata.

Assim como há quatro anos, desde maio de 2012, o ISE vem apresentando um desempenho superior ao do Ibovespa. Sônia associa esse comportamento à crise econômica que assola muitos países europeus. “Todo índice de bolsa é afetado pela situação macroeconômica mundial. O desempenho consistente nos últimos meses comprova que as empresas que adotam as melhores práticas de sustentabilidade são consideradas investimentos melhores e mais seguros”.

Em agosto o ISE apresentou retração de 2,48%, enquanto o Ibovespa acusou valorização de 1,72%. Considerando os últimos 12 meses, de setembro de 2011 a agosto de 2012, o movimento dos dois indicadores foi bastante diferente. O ISE aponta expressiva valorização de 17,39% e o Ibovespa uma evolução de apenas 1%.

As 38 empresas que compõem a carteira do ISE de 2012 são: AES Tietê, Anhanguera, Bicbanco, Bradesco, Banco do Brasil, AES Eletropaulo, Braskem, BRF Brasil Foods, CCR, Cemig, Cesp, Coelce, Copasa, Copel, CPFL Energia, Duratex, Ecorodovias, Eletrobras, Embraer, Energias do Brasil, Even, Fibria, Gerdau, Gerdau Met, Itausa, Itaú Unibanco, Light S.A., Natura, Redecard, Sabesp, Santander, SulAmérica, Suzano Papel, Telemar, Tim Part S/A, Tractebel, Ultrapar e Vale. (Envolverde)