Internacional

ONU fica sem fundos para refugiados palestinos

O porta-voz da UNRWA, Chris Gunness, alerta que, a não ser que se intervenha para aliviar a crise financeira que a agência da ONU sofre, “serão os refugiados inocentes que voltarão a sofrer”. Foto: Mel Frykberg/IPS
O porta-voz da UNRWA, Chris Gunness, alerta que, a não ser que se intervenha para aliviar a crise financeira que a agência da ONU sofre, “serão os refugiados inocentes que voltarão a sofrer”. Foto: Mel Frykberg/IPS

Por Mel Frykberg, da IPS – 

Jerusalém, Israel, 6/7/2015 – Os refugiados palestinos na Síria, Líbano, Gaza e Cisjordânia poderão ficar sem serviços essenciais devido à grave crise financeira que atravessa a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA), a menos que entre dinheiro novo até do final de setembro.

“Temos déficit de US$ 101 milhões e, como estão as coisas agora, a UNRWA terá que lutar para funcionar depois de setembro, porque não temos dinheiro suficiente para financiar nem mesmo nossas atividades essenciais nos últimos meses do ano”, afirmou à IPS o porta-voz da UNRWA, Chris Gunness. “No entanto, após adotar uma série de rígidas medidas de austeridade, poderemos ser capazes de continuar com os serviços de emergência, que salvam vidas, até o final do ano”, acrescentou.

Devido à crise financeira, os contratos de 35% dos 137 funcionários internacionais contratados terminarão em 30 de setembro sem prorrogação ou renovação. A organização tomou essa medida para reduzir seus custos e ao mesmo tempo tentar não diminuir os serviços básicos aos refugiados palestinos na Síria, Líbano, Gaza e Cisjordânia.

A “UNRWA atravessa crises financeiras em todas as frentes. Em termos gerais, temos duas fontes de financiamento”, explicou Gunness à IPS. “Temos nosso fundo geral, que financia nossos serviços básicos como educação, assistência sanitária e serviços sociais. E também contamos com nossos fundos de emergência, que são para Gaza e Cisjordânia, porque existe um bloqueio e uma ocupação, respectivamente”, acrescentou.

“Além disso, lidamos com mais de 400 mil pessoas deslocadas na Síria, os 45 mil refugiados que fugiram para o Líbano e os 15 mil que escaparam pela fronteira para a Jordânia”, prosseguiu o porta-voz.

Após a devastadora campanha militar de Israel contra Gaza, em julho e agosto de 2014, a UNRWA lançou uma iniciativa de reconstrução, no valor de US$ 720 milhões, na conferência internacional de doadores para arrecadar fundos para esse fim, realizada no Cairo, em outubro.

Parte do dinheiro foi destinada a subsídios de aluguel para moradores de Gaza cujas casas ficaram inabitáveis devido aos danos sofridos, e outra parte foi para a reconstrução. “Em fevereiro deste ano, tivemos que suspender esse programa porque havia déficit de US$ 585 milhões. Assim, nenhuma casa foi construída em Gaza, por isso há uma verdadeira crise no tocante à reconstrução”, pontuou Gunness.

Em 2014, a UNRWA pediu US$ 417 milhões para a Síria, mas só recebeu 52% desse dinheiro. O déficit obrigou a organização a reduzir pela metade seus programas de distribuição de dinheiro. Essa distribuição se converteu em um dos principais programas de emergência da UNRWA na Síria, já que numerosas instalações da ONU foram bombardeadas e destruídas na guerra civil que vive esse país, o que paralisou seus meios normais de assistência aos refugiados.

Com o dinheiro recebido para a Síria, a UNRWA só pôde repartir uma média de US$ 0,50 por refugiado por dia. “Imagine-se tentando sobreviver com meio dólar por dia. É quase impossível e, embora nossos doadores tenham sido muito generosos, não o foram o suficiente”, apontou Gunness.

No Líbano, os refugiados palestinos da Síria dependem da UNRWA para diversas coisas, incluídos os subsídios de aluguel para ter acesso a moradia. “Estávamos entregando um subsídio mensal de aluguel no valor de US$ 100. Com isso se conseguiu muito pouco no Líbano, que é um país caro”, assegurou o porta-voz dessa agência.

“A última vez que estive no Líbano, visitei uma família de refugiados palestinos na pobreza do acampamento de Shatila, em Beirute. Pagavam US$ 200 mensais para viverem em uma casa de 36 metros quadrados, com um banheiro e cozinha pequeníssimos”, contou Gunnes. “O subsídio foi reduzido no final de junho, e suspeito que agora a família esteja vivendo na rua. Essa é a realidade da crise para uma só família de refugiados da Síria que ficou sem teto”, destacou.

“E essa é apenas uma das histórias relacionadas com os fundos de emergência que a UNRWA recebe”, enfatizou Gunness. “Em relação à parte geral de nosso financiamento, o que vemos nos últimos anos é um aumento gradual do déficit estrutural de nosso fundo geral, que provocou o déficit atual de US$ 101 milhões”, ressaltou.

Os gastos para funcionamento da UNRWA chegam a US$ 35 milhões mensais. Isso inclui os salários de 30 mil membros do pessoal, dos quais 22 mil são professores, e a distribuição de artigos de primeira necessidade, como alimentos. “Assim, a menos que se intervenha para aliviar a crise, talvez seja necessário tomar decisões ainda mais duras nas próximas semanas, e serão os refugiados inocentes que voltarão a sofrer”, finalizou Gunness. Envolverde/IPS