Internacional

Florestas de frutas evitam futuro difícil

Sipian Lesan, pastor seminômade de Lekuru, um povoado do Quênia, com uma de suas plantas frutíferas. Foto: Robert Kibet/IPS
Sipian Lesan, pastor seminômade de Lekuru, um povoado do Quênia, com uma de suas plantas frutíferas. Foto: Robert Kibet/IPS

Por Robert Kibet, da IPS – 

Samburu, Quênia, 3/8/2015 – Sipian Lesan se inclina para verificar os tamarindos-bola que plantou há quase dois anos na aldeia de Lekuru, norte do Quênia. Tem muito cuidado para não danificar os brotos aveludados, em forma de bola, dessa planta resistente à seca. “Por aqui tudo é seco”, disse este pastor seminômade de 51 anos.

Lekuru fica nas terras baixas da cordilheira de Samburu, uma zona salpicada de fazendas conhecidas como manyattas, 358 quilômetros ao norte da capital, Nairóbi. Aqui os povoados são áridos, com predomínio de acácias espinhosas e áreas de terra vermelha que revelam o excesso de pastoreio. O condado de Samburu é uma das regiões do Quênia afetadas pelas secas recorrentes, e a maior parte da população vive abaixo da linha da pobreza.

A mudança climática fez com que o pastoreio seja uma opção de vida cada vez mais insustentável na região, e muitas famílias não têm acesso nem a uma refeição diária, o que dizer de uma dieta equilibrada.

“Os animais morrem e continuarão morrendo devido à gravidade da seca”, afirmou Joshua Leparashau, um dirigente local. “A comunidade ainda se aferra à ideia de que ter muitas cabeças de gado é uma fonte de orgulho. Isso precisa mudar. Se como comunidade não adotarmos uma atitude ativa na redução da ameaça, deveremos nos preparar para sermos destruídos sem piedade pela natureza”, advertiu.

Enquanto cuida de seus tamarindo-bola (Vangueria infausta), Lesan conta à IPS que há algumas décadas, antes que os homens “cobiçantes” começassem a cortar as árvores para atender a crescente demanda por produtos florestais autóctones, seu povo se alimentava dos abundantes frutos silvestres nas épocas de fome. Agora, aplicam um conceito novo para eles, conhecido com florestas ou jardins de alimentos, pelo qual plantam em suas terras árvores e arbustos que são resistentes ao severo clima local.

O conceito foi levado ao Quênia pelo ambientalista israelense Aviram Rozin, fundador da Sadhana Forest, uma organização dedicada à reativação ecológica e dos meios de vida sustentáveis. Em uma missão voluntária para ajudar a combater a degradação da terra e a insegurança alimentar nessa parte do norte do Quênia, Rozin afirmou que sua meta é que cada manyatta tenha sua própria floresta de alimentos.

“A velocidade com que a comunidade adota o conceito é algo positivo. Esperamos que cada manyatta tenha sua pequena floresta de alimentos, que cresça em círculos concêntricos até se encontrar com as outras, se conectarem e se expandirem, criando uma floresta contínua de alimentos”, afirmou Rozin.

Plantação comunitária de árvores em Samburu, condado semiárido do Quênia. Foto Robert Kibet/IPS
Plantação comunitária de árvores em Samburu, condado semiárido do Quênia. Foto Robert Kibet/IPS

O trabalho da Sadhana Forest não se limita ao reflorestamento, explicou Resinoi Ewapere, de 35 anos e pai de oito filhos. “Costumava sair cedo pela manhã em busca de água e voltava depois do meio-dia. Meus filhos frequentemente faltam às aulas por causa da escassez de água e alimentos”, contou.

Mas essa rotina diária acabou depois que a Sadhana Forest perfurou um poço de onde retira água, com ajuda de energias renováveis em um sistema que combina um moinho de vento com energia solar. “Além da formação que recebemos sobre o plantio de árvores frutíferas e permacultura, uma prática agrícola de baixo custo, atualmente recebemos água deste centro sem custo algum”, detalhou Ewapere à IPS.

Segundo Rozin, a iniciativa da Sadhana Forest para ajudar a comunidade de Samburu a plantar as 18 espécies de árvores frutíferas autóctones, resistentes à seca e ricas em nutrientes, também faz parte de um esforço maior de conservação. Esse esforço implica que a combinação da “segurança alimentar em pequena escala e a conservação das árvores autóctones gere um vínculo entre as pessoas e as árvores que protegerá a comunidade. Produzimos as mudas e depois as entregamos aos moradores sem custo, para que plantem em suas manyattas”, acrescentou.

Com um manejo cuidadoso das estruturas da terra e de captação de água, mediante valetas cavadas nos extremos, a água chega diretamente às plantas. A qualidade do solo melhora com plantas fixadoras de nitrogênio, como os feijões, enquanto a terra é irrigada e coberta com adubo para evitar a evaporação e assim permanecer fértil.

Uma das espécies plantadas para criar as florestas de alimentos é afisélia (Afzelia africana), cujos frutos são ricos em proteínas e ferro. A farinha de suas sementes é usada para cozinhar. Outra espécie é a moringa (Moringa stenopetala), conhecida localmente como “ajudante de mãe”, porque seu fruto ajuda a aumentar o leite nas mulheres lactantes e reduz a desnutrição das crianças.

“Os habitantes daqui entendem que sua vida seminômade tem que se adaptar ligeiramente para garantir sua sobrevivência”, afirmou George Obondo, coordenador da estatal Junta de Coordenação das Organizações Não Governamentais, que foi o principal vínculo para que a Sadhana Forest recebesse US$ 50 mil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para o projeto em Samburu.

O dinheiro foi usado para instalar um centro de formação com mais de 35 voluntários de diferentes países, entre eles Haiti, para capacitar as pessoas, produzir as mudas e construir o sistema de energia renovável para a extração de água de poço. “As coisas estão mudando e Samburu sabe que tem de alterar seu estilo de vida e também ligá-lo a uma maior dependência dos cultivos de plantas, e não depender apenas do gado”, destacou Obondo.

Por essa razão, a iniciativa da Sadhana Forest é importante, porque está capacitando as pessoas e dando a elas os conhecimentos e a capacidade para gerar a resistência necessária para evitar um futuro difícil, acrescentou o coordenador. Envolverde/IPS