Arquivo

O vinho sul-africano busca maior presença nas mesas da China

A inclusão da África do Sul no Brics deveria implicar um impulso imediato e maciço para a indústria vitivinícola, Foto: John Fraser/IPS

Johannesburgo, África do Sul, 6/12/2012 – Na condição de sócia em um bloco de economias emergentes, é normal que a África do Sul tenha aumentado suas exportações de vinho para o mercado chinês. Porém, a indústria vitivinícola deste país considera que o apoio das autoridades ainda não é o adequado. Os governos de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) se uniram para formar uma aliança, mas alguns operadores comerciais acreditam que poderiam fazer mais para incentivar o intercâmbio além de sua atividade política em organismos multilaterais.

“A inclusão da África do Sul no Brics deveria significar um impulso imediato e maciço à indústria do vinho, mas, em minha opinião, isso nem mesmo é sentido”, disse Mike Ratcliffe, dono da adega Warwick em Stellenbosch, no coração dos vinhedos do Cabo. “Alguém otimista poderia dizer que aumentou a quantidade de litros de vinho vendidos à China, mas isso seria enganoso, pois se faz muito pouco para consolidar uma marca com a expectativa razoável de um crescimento sustentável”, explicou.

“A maioria dos vinhos sul-africanos está entre os mais baratos, o que aumenta o risco de criar uma má percepção e prejudicar a reputação de qualidade da África do Sul”, acrescentou Ratcliffe, que se mostrou reticente com as atuais iniciativas do Departamento de Indústria e Comércio para incentivar a exportação de vinhos para a China. Os esforços teriam que ser canalizados pelo órgão de exportação específico: Vinhos da África do Sul (Wosa).

“As viagens patrocinadas pelo departamento ao mercado chinês não são bem planejadas, são mal recebidos, por isso vejo que é um uso irracional de fundos estatais”, se queixou Ratcliffe. “As autoridades deveriam dar esses fundos à Wosa, que se dedica a promover especificamente a indústria vitivinícola, e assegurar que fossem usados de forma efetiva e eficiente”, ressaltou.

O chefe de televisão e consultor de vinhos Michael Olivier disse à IPS que deve haver esforços melhor coordenados entre os diferentes atores para melhorar as vendas dos vinhos sul-africanos na China. “Desejaria que o Brics ajudasse, mas é preciso um mercado consistente para se conseguir avanços. Creio que a indústria tem influência, mais em separado do que de forma coletiva. A Wosa também deve se envolver”, opinou.

Uma preocupação de Ratcliffe é a indústria “ainda ter de abrir um escritório na China, nomear um representante chinês ou começar algum tipo de campanha na mídia e de mercado efetiva” nesse país. “Esta situação não é totalmente consequência da falta de vontade política, mas principalmente da escassez de recursos”, afirmou. “Os fundos genéricos para promover a exportação devem sair dos cofres provinciais e nacionais para apoiar uma indústria de mão de obra intensiva”, enfatizou.

O especialista em mercado e crítico de vinhos Jeremy Sampson concorda que o apoio do governo sul-africano à indústria vitivinícola não é suficiente nem há provas disso. “Parece que estão ocupados com isso, mas onde estão as provas?”, perguntou. Sampson disse à IPS que é preciso mais imaginação para promover as exportações, e se referiu ao aumento dos leilões de vinhos premium em Hong Kong para dizer que é uma plataforma que deveria ser melhor explorada.

Ratcliffe está convencido de que as exportações para a China podem, e devem, ser promovidas. “Para que a África do Sul seja reconhecida como uma nação de vinhos de grande qualidade tem que haver uma exposição internacional”, observou. “Nosso vinho pode ser uma efetiva ferramenta nacional de mercado, localizado entre os melhores do mundo em cada gôndola de supermercado. Não tem coisa melhor que poder levar ao mundo um pedacinho de uma África do Sul tangível de forma efetiva e barata”, ressaltou.

A recompensa será enorme, pois a China tem uma potência virtualmente ilimitada como mercado de vinhos, enfatizou Ratcliffe. “A demanda é enorme, o interesse nos vinhos sul-africanos se mantém intacto e sua qualidade é venerada. A África do Sul tem uma oportunidade histórica de aproveitar essa demanda, mas não se esforça ao máximo para consegui-lo”, apontou. Os vinhos sul-africanos não puderam avançar nos Estados Unidos, “e devemos ser cautelosos para não perder a oportunidade da China, deixar que a concorrência tome a dianteira” nesse país, alertou Ratcliffe, e Sampson concordou, dizendo que “o mercado chinês é enorme, e todo mundo já está ali”.

Um dos desafios é que há centenas de produtores de vinhos e marcas diferentes na África do Sul, mas Ratcliffe argumenta que não é uma característica exclusiva deste país e que não deve representar um obstáculo. “Há apenas umas poucas adegas suficientemente organizadas e com possibilidades de aproveitar a oportunidade chinesa. Essas empresas deveriam entrar na China e funcionar como plataforma para o restante da indústria”, acrescentou.

Os vinhos sul-africanos não se beneficiam das vantagens alfandegárias que a competição negociou com Pequim por meio de acordos de livre comércio. Por exemplo, pontuou Ratcliffe, os exportadores de vinho australianos pagam bem menos impostos do que os sul-africanos. “A diferença entre os impostos para importações pagos pelos vinhos sul-africanos em comparação com os australianos é surpreendente e vergonhoso”, protestou. Envolverde/IPS