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Tempestades transtornam economias caribenhas

As inundações em Puerto Espanha, capital de Trinidad e Tobago, em maio passado. Foto: Peter Richards/IPS
As inundações em Puerto Espanha, capital de Trinidad e Tobago, em maio passado. Foto: Peter Richards/IPS

 

Puerto Espanha, Trinidad e Tobago, 21/8/2913 – O Caribe corre o risco de se converter em uma “região de caloteiros em série”, entre outras coisas, porque os desastres naturais estão afetando severamente a capacidade dos governos para enfrentar suas obrigações de dívida. As nações caribenhas são algumas das mais vulneráveis às catástrofes climáticas. A região sofreu 187 eventos extremos nos últimos 60 anos.

“Os efeitos dos desastres naturais no crescimento e na dívida (da região) são significativos”, indica um estudo do Fundo Monetário Internacional intitulado Pequenos Estados do Caribe: Desafios de Uma Alta Dívida e um Baixo Rendimento. “Muitas economias caribenhas enfrentam uma dívida alta e crescente”, acrescenta o documento.

Para os governos caribenhos é mais fácil entrar em suspensão de pagamentos do que reduzir seus gastos, argumentou um especialista de finanças internacionais da America University, citado pelo serviço de informação financeira Bloomberg em uma matéria sobre a reestruturação dos créditos na região, depois que alguns países não pagaram seus bônus. Nos últimos três anos, vários países caribenhos tiveram que reestruturar esses papéis. A Bloomberg citou os exemplos de Belize, Granada e Jamaica.

Michael Hendrickson, oficial de assuntos econômicos na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), explicou a pressão que significaram os desastres naturais nas economias da região na última década. “Em Granada, o produto interno bruto caiu principalmente devido às consequências do furacão Ivan”, disse o especialista. “A taxa de crescimento registrou queda de 9,5%, em 2003 (antes do furacão), para -0,7%, em 2004 (ano do furacão), se recuperando em 2005, com crescimento de 13,3%, sem dúvida graças aos investimentos na reconstrução, mas, voltou a cair em 2006”, acrescentou.

“A Jamaica também sentiu o impacto do Ivan, e sua taxa de crescimento caiu de 3,7%, em 2003, para 1,3%, em 2004. Isto se reflete em setores como agricultura, mineração e turismo”, apontou Hendrickson. “E mais: os impactos se estenderam a 2005, quando a economia cresceu apenas 0,9%. Em Belize, a taxa de crescimento caiu de 5,1%, em 2006, para 1,1%, em 2007, em parte como resultado do impacto do furacão Dean, que prejudicou a agricultura e a infraestrutura produtiva”, acrescentou.

A tendência dos governos da região de financiar o crescimento social e econômico com créditos, em lugar de criar um apropriado contexto para o desenvolvimento sustentável, também contribuiu para gerar uma alta dívida em relação ao PIB. Alguns países caribenhos “têm níveis de dívida que podem ser considerados insustentáveis”, afirmou Hendrickson. Os pagamentos dessas obrigações consumiram cerca de 30% dos ingressos dos governos em 2011. “Isto reduz sua capacidade para financiar os investimentos públicos e os programas de proteção social”, ressaltou.

O estudo do FMI, divulgado em fevereiro, indica que “parte do aumento da dívida pode ser atribuída ao custo dos desastres naturais, a sucessivos anos de déficit fiscal e aos empréstimos e gastos não planejados das empresas públicas”. Em um documento de trabalho intitulado Implicações Macroeconômicas dos Desastres Naturais no Caribe, o Fundo alerta para “um aumento no gasto” e “uma pequena redução nos ingressos totais”. E afirma que “isto não surpreende, pois era de se esperar que os governos e a população em geral pedissem empréstimos em resposta às comoções” causadas pela mudança climática.

Como os desastres naturais afetam os dois setores mais importantes da região, o turismo e a agricultura, o impacto no crescimento econômico dos países é considerável. O informe da Cepal, A Economia da Mudança Climática na América Latina e no Caribe, estima que as catástrofes associadas com o aquecimento global custarão à sub-região até 5% de seu PIB anual entre 2011 e 2050. Contudo, devido ao status de países de renda média, a maioria dos Estados caribenhos não pode se beneficiar de programas de alívio de dívida, diz o estudo do FMI. Além disso, “apenas uns poucos países caribenhos ainda se qualificam para empréstimos em condições favoráveis do Banco Mundial”.

O estudo sugere que, “em razão dos custos excepcionalmente altos que implicam os desastres naturais, os pequenos Estados do Caribe devem ser considerados os candidatos de primeira fila para receber financiamento de apoio diante da mudança climática”. Em uma reunião de governadores do Banco de Desenvolvimento do Caribe, seu presidente, Warren Smith, defendeu maior cobertura de seguro para enfrentar o impacto dos desastres naturais decorrente do aquecimento do planeta. Smith destacou a necessidade de usar mais o Fundo Caribenho de Seguros Contra Riscos de Catástrofes (CCRIF).

Simon Young, presidente da companhia Caribbean Risk Managers Ltd., que supervisiona aspectos técnicos do CCRIF, disse à IPS que 16 países da região contam com apólices do Fundo. “Essas apólices cobrem furacões e terremotos, e o valor total da cobertura é pouco mais de US$ 600 milhões” para as 16 nações, explicou. “Não é suficiente”, reconheceu, mas destacou que isso “depende da capacidade dos países para pagar prêmios que possam comprar uma adequada cobertura”.

Young afirmou também que os prêmios do CCRIF custam menos da metade das cobradas no mercado comercial. Porém, muitos países têm dificuldades para pagar um seguro, mesmo com taxas preferenciais. Como resultado, a cobertura é pequena. De todo modo, Young insiste que a cobertura de seguro não é a resposta ao problema. “Os países do Caribe devem buscar vias mais rentáveis para reduzir o risco de desastres”, e o CCRIF é apenas uma das várias ferramentas. Envolverde/IPS