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Somente empresas ocupam Xangai

Xangai, China, 22/11/2011 – Enquanto centro financeiro e pináculo da riqueza nacional da China, a cidade de Xangai poderia ser cenário principal de um movimento nacional de “indignados”, semelhante aos de Nova York e Londres. Contudo, permanece como símbolo do potencial deste país para se converter em nova superpotência econômica mundial. Frequentemente se compara seu pessoal de escritório com uma “tribo de formigas” que trabalha longos horários, criam obedientemente mais valor para a economia chinesa e pouco se importam com a justiça social.

Quando foi perguntado se em Xangai poderia surgir um movimento como o novaiorquino Ocupe Wall Street, ou como o que protesta no distrito financeiro da capital britânica, o agente financeiro Zhao Hui se mostrou perplexo. “Por que? Os banqueiros não são as pessoas mais odiadas na China. Os funcionários corruptos e os magnatas das empresas públicas são os que têm mais dinheiro e deveriam temer a ira da população”, respondeu.

Yang Jianlong, professor na Universidade Normal de Xangai e dedicado a estudar a cultura de “porto comercial” desta cidade, disse que esta se encontra afundada em uma tradição mercantil empreendedora e que não se alinhará atrás de um movimento popular como o Ocupe Wall Street. “A população de Xangai não se inclina muito diante da autoridade, mas sua mentalidade de fazer dinheiro é muito forte”, explicou à IPS. “Protestariam contra um projeto comercial que considerem prejudicial ao meio ambiente, mas é improvável que a cidade se converta em um centro de ativismo político”, acrescentou.

Por outro lado, os movimentos de protesto em Nova York e Londres encontraram maior ressonância entre os moradores de províncias chinesas como Henan, historicamente consideradas celeiros de rebeliões camponesas. Os habitantes dessas áreas orquestraram protestos simbólicos de curta duração em apoio aos seus “irmãos ideológicos do Ocidente” na luta contra o capitalismo. Por sua vez, os intelectuais chineses têm diferentes opiniões sobre os movimentos populares surgidos nos últimos meses nos Estados Unidos, na Europa e em outras partes do mundo.

Os movimentos de indignados receberam o apoio dos esquerdistas chineses mais ortodoxos, para os quais o governo de Mao Tsé-Tung (1949-1976) concretizou melhor o ideal socialista do que a China atual, surgida nos últimos 30 anos com as reformas de mercado iniciadas por Deng Xiaoping. Porém, os mais liberais mostram cautela. Muitos ainda se lembram com pesar das campanhas radicais da Revolução Cultura (1966-1976) e temem que os movimentos populares atuais caiam em situações semelhantes. Mao utilizou o grupo de estudantes radicais conhecido com “Guardas Vermelhos” para calar a oposição e consolidar o poder do Partido Comunista sobre os intelectuais.

Os analistas chineses agora resistem a dar um veredito sobre os movimentos populares, mas alguns alertam que poderosos grupos de interesses podem estar jogando contra eles. Em um longo artigo sobre a Primavera Árabe, publicado este mês no jornal China Times, o especialista em Oriente Médio Ma Xiaolin criticou as “limitações e o caráter superficial” dos movimentos árabes, que os tornaram presas fáceis para que as forças ocidentais os manipulem.

O resultado final – a vitória dos partidos islâmicos sem exceções – pode não ter sido planejado pelas potências atuais, mas tem sua lógica, afirmou Xiaolin. “Assim, um movimento sem cor política, voltado a dar poder à população e buscar a justiça social se tornou uma revolução com cor”, concluiu.

O crescente impulso dos movimentos populares causa certo medo na China, que entrou na Organização Mundial do Comércio há dez anos, e passou uma década dolorosa adaptando-se ao livre comércio e aprendendo as regras da globalização. Xu Xiaonian, professor da China Europe International Business School, criticou o apoio do presidente norte-americano, Barack Obama, aos movimentos populares, qualificando-os de “estratagema pré-eleitoral”. “Existe um gesto torpe de um político que busca agradar os eleitores. Este tipo de resposta não pode resolver os problemas reais da atualidade”, acrescentou. Envolverde/IPS