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O Talibã desmoraliza as forças do Paquistão

Enterro de soldados mortos em um ataque do Talibã. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 12/12/2012 – Cresce o desânimo entre as forças de segurança do Paquistão diante da campanha de terror do movimento islâmico Talibã, que “conseguiu um recorde mundial de barbárie”, afirmou um inspetor de polícia da cidade de Peshawar. “Massacraram soldados e pessoas comuns com facas e colocam suas cabeças em locais públicos a fim de enviar a mensagem a todas as forças para que não os persigam em nome do governo”, contou o oficial.

Os combatentes islâmicos realizaram 1.962 atos terroristas desde 2008 na província de Khyber Pakhtunkhwa, fronteiriça com o Afeganistão, onde morreram 6.200 pessoas e outras nove mil ficaram feridas, segundo o governo local. Entre estes ataques, houve 146 atentados suicidas que acabaram com a vida de 826 policiais, 22 guardas de fronteira e 300 soldados do exército.

“A polícia está menos equipada do que os combatentes, que contam com lança-foguetes, bombas e granadas de mão”, disse à IPS o inspetor de polícia, Jawad Ali. Ali acrescentou que a ferocidade dos talibãs desmoralizou as forças de segurança, ao ponto de a maioria das delegacias e postos de controle permanecerem fechados durante a noite.

Muitos uniformizados começaram a pedir licença médica para não trabalhar, o que levou o governo a limitar os dias de licença para circunstâncias excepcionais. “Quem estiver realmente doente poderá ir, mas os que têm boa saúde deverão permanecer alertas às ameaças”, explicou Ali. “Recebemos cerca de 450 solicitações de policiais pedindo licença por motivos de saúde, e apenas 15 tinham problemas que mereciam repouso. Os outros tentavam apenas obter um atestado médico”, contou Wasan Khan, médico do Hospital de Serviços Policiais.

Cerca de 1.400 membros da Polícia de Fronteira, com um total de 50 mil efetivos, deram baixa há dois anos quando se negaram a participar de uma operação contra o Talibã nos arredores de Peshawar, capital de Khyber Pakhtunkhwa. O governo lançou uma campanha para elevar o moral das forças. “Morrer em combate contra o inimigo é o martírio, e não devem se render em nenhuma circunstância diante dos combatentes islâmicos. Mas isso aconteceu em muitos casos, e só fortalece os atacantes”, detalhou Ali.

O inspetor citou o caso de 17 soldados que, após se renderem aos talibãs em Dir, um dos 25 distritos de Khyber Pakhtunkhwa, foram decapitados, na província afegã de Kunar em junho deste ano. Os talibãs haviam degolado uma semana antes sete soldados na mesma região. No dia 12 de outubro, combatentes islâmicos atacaram o posto de vigilância de Mattani, perto de Peshawar, e mataram seis uniformizados, incluindo o superintendente de polícia Khursheed Khan, que foi decapitado. Sua cabeça apareceu pendurada em um mercado local no dia seguinte. Em 12 de novembro, sete policiais, incluindo o superintendente Hilal Han, morreram vítimas de um ataque suicida em Qissakhwani.

“Todos esses ataques tiveram a intenção de aterrorizar a polícia e as forças de segurança para que deixem de defender a população. Decapitá-los é uma estratégia para espalhar o medo entre as forças”, disse à IPS o oficial de polícia Abdalá Shah. Os terroristas também danificaram ou destruíram 300 centros de internet e comércios de venda de discos, 325 escolas e cem estações de eletricidade.

Nos últimos cinco anos, houve mais de 600 ataques contra delegacias e veículos policiais, segundo o governo de Khyber Pakhtunkhwa. Nesse período a equipe antibombas desativou 644 explosivos colocados pelos talibãs. O governo provincial destinou cerca de US$ 240 milhões para equipar a polícia com novas armas e instalações.

“Agora temos 90 mil policiais na província, contra apenas 35 mil quando chegamos ao poder em 2008”, disse o ministro da Informação de Khyber Pakhtunkhwa, Mian Iftikhar Hussain. “Também damos terras e dinheiro às famílias dos policiais mortos pelos combatentes islâmicos”, acrescentou. Os Estados Unidos forneceram veículos e equipamentos no valor de US$ 17 milhões para ajudar a combater o Talibã, ressaltou Hussain. Envolverde/IPS