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O desafio é agregar países emergentes à cooperação

Madri, Espanha, 16/12/2011 – O desafio que têm pela frente Espanha e o resto do mundo industrializado para manter e, no possível, aumentar a cooperação para o desenvolvimento dos países do Sul é atrair novos atores e fortalecer as políticas públicas para esse fim, afirmou o ativista Eduardo Sánchez Jacob.

As agências espanholas de cooperação possuem boa saúde, apesar de haver vários problemas pela frente, disse Jacob, presidente da coordenadoria de Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), da Espanha, responsável por um fórum de dois dias que analisou o papel do ativismo na nova arquitetura do desenvolvimento, e que terminou ontem na capital espanhola.

Um dos obstáculos é que quando se fala de cooperação “deve-se entender que é desenvolvimento humano e que deve ir além de projetos concretos”, disse Jacob à IPS. esse algo mais deve impulsionar a comunicação com os povos e os dirigentes políticos das nações beneficiárias para se conhecer melhor e poder atuar em consequência, acrescentou. “E fazer com que lhes chegue clara a mensagem de que não devem voltar a reduzir os fundos destinados à cooperação para o desenvolvimento”.

Nos debates surgiram várias vezes a questão da redução de fundos, destacando-se o caso dos governos das comunidades autônomas que formam a Espanha, vários dos quais decidiram, entre 2010 e 2011, diminuir suas contribuições por um total superior a 160 milhões de euros (US$ 208 milhões).

A ativista Beatriz Almagro, uma das 300 pessoas presentes ao encontro das ONGs, disse à IPS que os discursos dos palestrantes foram assépticos, pois, além de falar de coerência política, deve-se demonstrar “com fatos concretos, e isso não aconteceu nesta reunião”. Almagro, de 25 anos e estudante de jornalismo, afirmou que se deve incentivar uma nova forma de comunicação para fomentar mudanças políticas e educar a população de maneira responsável para criar “cumplicidade” com os diversos setores que a integram, já que se admite que “o mundo é um só”, com igualdades, obrigações e direitos para todos.

No encontro houve várias intervenções a respeito, destacando o reiterado apelo para que se considere a existência de novos atores, como China e Índia, que mudam as formas de funcionamento em matéria de cooperação, as quais não foram explicitadas.

Do fórum participaram, entre outros, Yayo Herrero López, da coordenação da Ecologistas em Ação, Jan Dereymaeker, coordenador da cooperação para o desenvolvimento da Confederação Sindical Internacional, Carlos Cabo González, da direção da Confederação Europeia ONG Emergência e Desenvolvimento, e o licenciado em filosofia Sebastián Mora, vice-presidente da Plataforma da ONGD de Ação Social. Também estiveram presentes José Moisés Martín Carretero, chefe do departamento de Cooperação Multilateral da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, e representantes dos partidos que integram o Parlamento da Espanha.

Em uma das mesas-redondas falou-se sobre o crescimento econômico, destacando-se que é preciso resgatar o papel do “político nas ONGD para lutar contra um modelo global de desenvolvimento não solidário, consumista, desigual e insustentável”. Esta ação deve centrar-se nas causas e não somente nas consequências, como a necessidade de haver um código de conduta das ONGs.

Também se disse que não se trata de uma simples interlocução política, com dirigentes partidários, mas que também se dirija à sensibilização e mobilização da sociedade civil, que consiga consolidar uma sociedade solidária e responsável que apoie suas propostas. Também se destacou que a chave do papel político está em globalizar os direitos humanos, “defendendo o mesmo aqui e lá”, dando como exemplo que o direito à educação deve estar vigente em todas as partes.

Vários participantes do fórum falaram da crise financeira e econômica que afeta especialmente Estados Unidos e União Europeia, lembrando que por sua causa diminuíram muito os fundos destinados às ONGD e que se está questionando o sistema de cooperação internacional imperante.

A esse respeito, palestrantes consideraram que seria uma má política das ONGD não ver esta crise como uma oportunidade para revisar a situação global, destacando a legitimidade social e o apoio do qual estas organizações sociais são credoras atualmente, e o que deveriam receber daqui em diante, pois “o velho não acaba de morrer e o novo não acaba de nascer”.

Segundo os participantes, o objetivo não é oferecer receitas para que as ONGD possam aplicá-las, nem apenas buscar soluções técnicas ou respostas válidas para todas, porque, pressupor que há uma solução geral, faria com que se voltasse a conceitos de comunicação e educação já caducos. Por isso, a proposta deverá ser diferente. Para que isso ocorra, os ativistas consideram que cada ONGD deve tomar a decisão de apostar neste objetivo para sua própria reinvenção ou atualização diante do novo cenário, e construir sua própria estratégia.

As ONGs deverão, de acordo com os participantes, ser capazes de entusiasmar com valores, mostrar cenários alternativos de futuro, possíveis e que apaixonem, bem como refletir adequadamente os grandes sonhos de mudar as coisas e de transmitir paixão à sociedade. Este desafio, prosseguiram, vai além da simples comunicação, pois é fundamental gerar consciência crítica da realidade, propondo e incentivando um desenvolvimento justo e equitativo, com mensagens sintonizadas com as expectativas e aspirações das comunidades sociais nas quais trabalham. Envolverde/IPS