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Nova ferramenta contra a mudança climática no Caribe

As inundações severas são um dos muitos efeitos devastadores da mudança climática. A caribenha Dominica as experimentou em 2011. Foto: Desmond Brown/IPS
As inundações severas são um dos muitos efeitos devastadores da mudança climática. A caribenha Dominica as experimentou em 2011. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Castries, Santa Lúcia, 18/7/2013 – Se os estudos feitos pelo Conselho Internacional de Códigos estiverem corretos, a região do Caribe experimentará em 2025 um significativo aumento da recorrência de furacões de categorias 4 e 5, passando da média atual de 1,4 para quatro. E se por si esses estudos, que se centram nos desenhos seguros para a construção, não forem suficientemente atemorizantes, outra pesquisa, da Universidade das Índias Ocidentais projeta um aumento da intensidade das chuvas durante furacões e tempestades tropicais.

Nesse contexto, os países do Caribe lançaram, no dia 12, uma ferramenta fundamental de apoio na internet, para promover construções inteligentes em matéria climática, ajudando a inserir uma ética do manejo de riscos nos processos de tomada de decisões em toda a área. “Este lançamento é oportuno. Para começar, acontece durante a temporada 2014 de furacões atlânticos tropicais, que, segundo previsões científicas, terá uma atividade de furacões superior à normal”, explicou o ministro de Desenvolvimento Sustentável de Santa Lúcia, James Fletcher.

Devido à mudança climática, o Caribe pode esperar um aumento na severidade dos furacões e, portanto, também um aumento na capacidade destes sistemas meteorológicos de prejudicar seriamente a região, disse Fletcher à IPS. “Os estudos indicam, por exemplo, a futura inundação de vários portos marítimos e aeroportos na região, e algumas estimativas apontam para o custo da mudança climática, que até 2100 representará 21% do produto interno bruto em alguns países caribenhos”, pontuou.

“Limitações como localização geográfica, o tamanho pequeno e as economias abertas e relativamente pouco diversificadas já conspiram para deixar nossos países particularmente suscetíveis às comoções externas”, ressaltou Fletcher, acrescentando que “apenas agora a mudança climática colocou outra camada de risco à consequência do aumento do nível do mar, das temperaturas elevadas, da mudança climática nas precipitações e de furacões mais intensos”.

O Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos e o Instituto Scripps de Oceanografia anunciaram que a concentração de gases-estufa na atmosfera terrestre superou o limite de 400 partes por milhão (ppm). A Aliança de Pequenos Estados Insulares reclama há muito tempo que as concentrações de gases-estufa sejam estabilizadas bem abaixo das 350 ppm, para garantir que o aumento do nível do mar não encubra seus países. “Agora que nosso planeta conseguiu este marco duvidoso, a perspectiva é de uma mudança climática mais pronunciada e prolongada”, ponderou Fletcher.

Myrna Bernard, da secretaria da Comunidade do Caribe (Caricom), disse, durante o lançamento da nova iniciativa, que, segundo estudo do Fundo de Seguro Contra Riscos de Catástrofes para o Caribe, as perdas causadas por desastres naturais na região representam 6% do PIB, e podem aumentar até três pontos percentuais até 2030.

O Centro de Mudança Climática da Caricom (CCCCC), com sede em Belize, desenvolveu a Ferramenta Caribenha de Risco e Adaptação em Internet (CCORAL), com financiamento do Departamento de Desenvolvimento Internacional (da Grã-Bretanha) e da Aliança Clima e Desenvolvimento (CDKN), com sede em Londres e que opera em 40 países, tentando responder a brecha “do que chamamos desenvolvimento compatível com o clima”.

“Sabemos que a mudança climática é um fenômeno mundial, sabemos que a provisão de mais bens públicos e conhecimento em torno dele é crucial em múltiplos níveis, e penso que esta é uma ferramenta que pode ter um papel fundamental nisto”, disse Sam Bechoseth, da CDKN. A passagem da tempestade tropical Chantal pelas Antilhas Menores o fez recordar algumas das ameaças que a região do Caribe enfrenta, afirmou.

“O ponto é que temos de integrar a mudança climática em nossas trajetórias de desenvolvimento. Isto, de modo algum é opcional, e precisamos de ferramentas de avaliação do risco que possam nos ajudar nesse processo”, acrescentou Bechoseth. E também afirmou à IPS que, tanto o setor público, quanto o privado, estão avaliando os riscos, mas que é preciso “olhar isto de um modo diferente e sob uma luz diferente, em vista dos impactos atuais e futuros da mudança climática’.

O diretor-executivo do CCCCC, Kenrick Leslie, disse que o desenvolvimento da CCORAL é uma resposta direta a uma das ações definidas no Contexto Regional para Alcançar o Desenvolvimento Resiliente à Mudança Climática. Os governos caribenhos aprovaram o contexto do plano de implantação regional entre 2009 e 2012, e Leslie disse que a CCORAL é um elemento crucial do forte contexto de ação antecipada que emerge na região para criar resiliência climática. Leslie acrescentou que a “CCORAL ajudará a região a definir enfoques e soluções que darão benefícios agora e no futuro. A CCORAL é um enfoque prático para projetos rentáveis de investimento em resiliência climática”.

Keith Nicholas, do CCCCC, e que foi elogiado por seu trabalho na CCORAL, disse que “o desenvolvimento da ferramenta de avaliação do risco surgiu depois de um longo processo de consultas com atores regionais” para garantir sua autenticidade e relevância. Bechoseth descreveu a CCORAL como “uma ferramenta fantástica”, mas alertou que “uma ferramenta só é útil quando começamos a utilizá-la de modo a solucionar problemas da vida real”. Envolverde/IPS