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Israel planeja expulsão maciça de beduínos na Cisjordânia

Lar beduíno improvisado em um acampamento a leste de Jerusalém, rumo a Jericó. Foto: Mel Frykberg
Lar beduíno improvisado em um acampamento a leste de Jerusalém, rumo a Jericó. Foto: Mel Frykberg

 

Ramalá, Palestina, 21/10/21014 – Naifa Yussef, de 30 anos, e outros 50 integrantes de sua comunidade beduína vivem em condições precárias, à margem da estrada que leva de Jerusalém ao Mar Morto e à antiga cidade de Jericó. E agora correm o risco de serem retirados à força pelas autoridades de Israel. O leste de Jerusalém, onde está assentado o grupo de beduínos, consiste em um conjunto de moradias precárias além de barracas de campanha instaladas em colinas rochosas e escarpadas que margeiam a estrada.

As moradias não estão ligadas à rede elétrica nem aos serviços de água e coleta de lixo. No inverno, a fria chuva e o vento as castigam, e o barro e o esgoto se acumulam formando piscinas em volta das barracas. Os moradores são obrigados a buscar água no povoado mais próximo, Anata, a cinco quilômetros e 15 minutos de carro, e pagar US$ 2 por pessoa.

A comunidade de Yussef vive em condições de extrema pobreza. Os homens se esforçam para manter suas famílias, trabalhando como diaristas e pastoreando suas cabras e ovelhas, mas em uma área cada vez mais limitada pelos assentamentos de Israel. A comunidade se assentou na região há 50 anos, após sua expulsão do deserto do Neguev, em 1948. A maioria das comunidades beduínas da Cisjordânia foi expulsa do deserto nesse mesmo período.

Nos próximos anos, as autoridades israelenses preveem expulsar e reassentar cerca de 27 mil beduínos da Área C, o território palestino da Cisjordânia sob completa ocupação e administração israelense, para construir mais colônias judias. Em agosto, o governo de Israel anunciou que planejava confiscar mais 404,6 hectares da Cisjordânia, a maior apropriação de terras por Israel em três décadas.

A Cisjordânia está dividida na Área A, sob controle nominal das autoridades palestinas; Área B, sob administração conjunta palestino-israelense; Área C, cerca de 60% de todo o território, sob total controle de Israel, embora, em última instância, toda Cisjordânia seja responsabilidade de Tel Aviv enquanto potência ocupante.

O argumento israelense é que, segundo os Acordos de Oslo de 1993, a Área C não pertence aos palestinos e que a maioria das construções existentes foi sido feita sem autorização. Mas, na realidade, é extremamente difícil para os palestinos obter permissão para construir em Jerusalém oriental e na maior parte da Cisjordânia, e é quase impossível na Área C. Os críticos da política israelense afirmam que se trata de uma política deliberada das autoridades para manter o território ocupado como parte do Estado de Israel.

As autoridades israelenses advertiram a família de Yussef e seus vizinhos que têm menos de dois meses para deixar a área. Também os informaram que, no caso de se negarem a sair, serão expulsos pelas forças de segurança. “Não temos para onde ir. Há muitos anos vivemos aqui e não temos outra terra. Tampouco temos os meios para viver em uma aldeia palestina porque não podemos pagar alugue.”, lamentou Yussef.

Milhares de famílias beduínas como a de Yussef sofrem o mesmo problema, e outras milhares o sofrerão, na medida em que Israel avançar em seu esforço para expulsar quase todos os palestinos da maior parte da Cisjordânia, para que nela só vivam colonos judeus. Em preparação do que alguns chamam de onda acelerada de limpeza étnica, funcionários da Administração Civil israelense, encarregada da Cisjordânia, derrubam construções palestinas na Área C, moradias precárias, barracas de campanha, abrigos de animais, entre várias outras que consideram “ilegais”.

Nesse reassentamento forçado, mais de 12 mil beduínos serão reassentados perto da cidade de Jericó, na Cisjordânia, onde estarão rodeados por uma zona de tiro, colônias judias e um posto de controle israelense, o que limitará suas possibilidades de pastorear gado, que é a principal fonte de subsistência desse povo pastor.

Várias comunidades de beduínos foram reassentadas na década de 1990. Viviam próximo a Jerusalém oriental e foram levadas para um terreno perto de um lixão em Abu Dis, na Área B. A expulsão de beduínos naquela ocasião se deu principalmente pela necessidade de expandir o assentamento israelense de Maale Adumim, um dos maiores da Cisjordânia.

Além de ampliar Maale Adumim, parte do plano de Israel foi manter uma área conhecida como corredor E1, que une essa colônia a Jerusalém oriental, contígua e sob controle israelense, mediante a construção de mais assentamentos, fazendo com que a Cisjordânia ficasse, de fato, dividida em dois.

A iniciativa também isola mais a Cisjordânia de Jerusalém oriental, de grande importância para os palestinos por motivos culturais, educativos, familiares, empresariais e religiosos. Além disso, a capital do futuro Estado palestino deveria ser Jerusalém oriental.

“O plano da Administração Civil atenta flagrantemente contra o direito humanitário internacional, que proíbe a transferência forçada de pessoas protegidas, como é o caso das comunidades de beduínos, a menos que o deslocamento seja temporário ou necessário para sua segurança ou para cumprir um requisito militar”, afirma a organização de direitos humanos israelense B’tselem.

Mas “a expulsão prevista pela Administração Civil não cumpre nenhuma dessas condições. Israel, enquanto potência ocupante, está obrigado a agir em beneficio e pelo bem-estar dos residentes do território ocupado. A expansão de assentamentos não inclui nenhum desses requisitos”, destaca a organização. Envolverde/IPS