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Idosos sem terem para aonde ir

Nova Délhi, Índia, 9/8/2012 – Há três anos, Jayakumar, um filantropo solteiro de 73 anos, pertencente a uma próspera família industrial do Estado indiano de Karnataka, decidiu que era o momento de se aposentar. Começou a buscar um lar para idosos onde pudesse viver comodamente, sem perder as coisas de que mais gosta: fazer longas caminhadas e ler livros espirituais e filosóficos. E encontrou o que queria em Panchvati, um lar comunitário localizado no distrito de Délhi Sul, projetado especialmente para pessoas de idade avançada como Jayakumar.

“O que me atraiu neste lugar é que não há restrições para os moradores. Procurava um lugar onde pudesse ter liberdade, e encontrei aqui. Faço longas caminhadas em um parque público próximo e participo ativamente da administração do estabelecimento”, contou à IPS. Porém, Jayakumar é parte de uma pequeníssima minoria privilegiada da Índia, que pode se dar ao luxo de pagar um lugar confortável e seguro para idosos. Segundo o censo do ano passado, 10% dos 1,2 bilhão de indianos têm mais de 60 anos.

São pouco mais de cem milhões de adultos idosos, na maioria marginalizados politicamente e cada vez mais dependentes dos limitados serviços públicos e de suas famílias, das quais, em geral, estão afastados. A maioria dos idosos da Índia é obrigada a morar em asilos de má qualidade, que não oferecem nem assistência pessoal nem um ambiente confortável. Os funcionários públicos aposentados recebem pensões entre oito mil e 50 mil rúpias (entre US$ 144 e US$ 896) por mês. Mas as casas para idosos custam entre cinco mil e 20 mil rúpias (de US$ 89 a US$ 358).

De fato, as estatísticas oficiais mostram que apenas 3% das pessoas em idade avançada que buscam proteção institucional em sua aposentadoria são capazes de pagar um lugar para ficar. A expectativa de vida ao nascer na Índia é de 65,4 anos, segundo o Informe de Desenvolvimento Humano 2011 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. “A verdadeira questão é a longevidade. As famílias já não podem enfrentar financeiramente as demandas de saúde de seus idosos, já que o governo não oferece subsídios nem isenções de impostos para os cuidados com pessoas em idade avançada”, explicou à IPS o chefe de programas e emergências da organização HelpAge India, Avenash Datta.

Dados compilados por este grupo mostram que, em 2010, havia apenas 484 casas para idosos, atendendo cerca de 24.500 pessoas em 15 regiões metropolitanas e não metropolitanas. Porém, uma pesquisa de 2009 indica que havia 1.270 desses asilos, atendendo uma população de 44.765 pessoas em idade avançada, cada um com capacidade para 35 moradores. Cada um desses lugares tem uma longa fila de espera. A informação coletada pela organização também mostra que cada vez mais jovens indianos vão trabalhar no exterior ou viver longe de suas comunidades de origem, deixando seus familiares idosos sozinhos. A situação das pessoas com idade avançada ainda é pior nas aldeias, onde praticamente não há lugares para atendê-las.

“Dos adultos idosos da Índia (cerca de sete milhões), 70% vivem em áreas rurais. Destes, 90% possuem apenas o necessário para viver e devem trabalhar até morrer”, disse Datta à IPS. Além disto, a maioria trabalha no setor informal, como trabalhadores braçais nas épocas de safra, pequenos agricultores, trabalhadores domésticos, empregados temporários na indústria têxtil e de tijolos, carpinteiros, pescadores, vendedores de verduras, cabeleireiros, alfaiates e motoristas de riquixá (veículo de duas rodas movido a tração humana), entre outras muitas ocupações.

Embora constituam uma importante parcela da população indiana, os idosos não têm voz na política nacional, lamentou Aabha Chaudhary, fundadora do Anugraha, centro de atenção para pessoas de idade avançada no distrito de Délhi Leste. Chaudhart afirmou à IPS que os Estados indianos ainda devem cumprir uma lei que os obriga a fornecer os cuidados necessários aos idosos. “A Lei de Manutenção e Proteção dos Cidadãos Idosos, de 2007, contém uma cláusula que exige dos governos estaduais a instalação de um lar para idosos em cada distrito do país, mas isto ainda não acontece”, destacou.

A HelpAge agora também pressiona o governo federal para que instale mais três abrigos nas aldeias. “Enviamos uma proposta ao governo para uma referência no Plano Quinquenal para o bem-estar dos idosos, especialmente dos pobres, já que em sua maioria os asilos com instalações apropriadas são particulares e apenas uns poucos seguem o modelo de ajuda benéfica”, detalhou Datta. “Sugerimos definir três níveis: abrindo asilos estatais com 200 camas, criando outros em nível distrital e estabelecendo abrigos de baixo custo nas aldeias”, acrescentou.

Para a pequena minoria que pode pagá-los, os abrigos como o Prachvati são casas-modelo, projetadas especialmente para combater o estigma associado às pessoas idosas nesta economia de rápido crescimento. Sua fundadora, Neelam Mohan, o define como “um lar longe do lar, com o tradicional ambiente familiar e onde os residentes podem escolher suas próprias receitas, participar do funcionamento da casa e chamar amigos e familiares para visitá-los quando querem”.

Esta empresária transformou sua fábrica de quatro andares em um lar para idosos, com 38 quartos duplos e individuais, cada um com cama, banheiro, biblioteca e sala de estar. Mas Neelam também destaca que o Prachvati promove regularmente programas de capacitação em atenção aos pobres. “Com assistência da HelpAge India, proporcionamos psicoterapia a domicílio gratuitamente em toda a região, e estamos conversando com o governo de Nova Délhi para abrir mais abrigos para idosos”, ressaltou à IPS. Envolverde/IPS