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Frenesi profissional adoece as indianas

Indianas. Foto: la_imagen

Thiruvananthapuram, Índia, 21/11/2012 – Com 35 anos, a executiva indiana Sreelakshmi já é diabética e vulnerável a desordens que vão desde obesidade e depressão até hipertensão e dor crônica nas costas. Ela trabalha em um importante laboratório de exames em Thiruvananthapuram, capital do Estado indiano de Kerala, e, ao encerrar sua jornada de trabalho de 11 horas, volta para casa à noite, onde a espera uma montanha de tarefas domésticas.

Especialistas em saúde alertam que seu caso é representativo de uma quantidade cada vez maior de indianas que ocupam altos postos e fazem malabarismo para compatibilizar as responsabilidades profissionais com as domésticas. Buscam contentar todos à sua volta, mas, ao mesmo tempo, esquecem que seu frenético estilo de vida afeta suas mentes e seus corpos.

Para mulheres da classe média como Sreelakshmi, que procedem de uma área de subúrbio de Thiruvananthapuram, o escritório e o lar são igualmente importantes: não podem se dar ao luxo de escolher um em detrimento do outro. O resultado é uma prejudicial combinação de estresse, ansiedade e esgotamento.

Manjula, cientista médico do instituo de saúde do governo em Thiruvananthapuram, disse à IPS que muitas mulheres que trabalham fora sofrem “doenças vinculadas ao estilo de vida”. Um estudo de 2009, realizado pela Câmara Associada de Comércio e Indústria, com sede em Mumbai, concluiu que 68% das mulheres que trabalham fora de casa sofrem doenças como obesidade, diabete e depressão, todas relacionadas com o tipo de vida que levam.

Mohan Rao, professor no Centro de Medicina Social e Saúde Comunitária, na Universidade Jawaharlal Nehru, com sede em Nova Délhi, disse à IPS que a fome, a anemia e as doenças infecciosas são as principais prioridades epidemiológicas para as mulheres que trabalham neste país, a maioria delas no setor informal em troca de baixos salários.

“A mulher que trabalha se debate entre as responsabilidades da produção e da reprodução. Frequentemente sacrificam sua própria saúde pela saúde de sua família”, explicou Rao. “Precisamos melhorar o sistema estatal para que as mulheres tenham acesso a uma variedade de centros, e não meramente a serviços de saúde reprodutiva. Também temos que melhorar as condições de trabalho, os salários e dar acesso aos sistemas de distribuição pública e universal”, acrescentou.

A pesquisa Aumento da Obesidade no Local de Trabalho Entre as Mulheres Indianas, realizada pela Healthji.com em associação com a firma Leisa’s Secret, que vende produtos para emagrecimento, revelou que cerca de 80% das mulheres urbanas com idades entre 25 e 45 anos que trabalham engordam em consequência de um estilo de vida sedentário.

“A maioria das mulheres diz que não tem tempo para caminhar ou fazer exercícios devido à pressão do trabalho”, segundo o presidente da Heal Foundation, R. Shankar. Por sua vez, Sreelekha Nair, pesquisadora do Centro para os Estudos sobre o Desenvolvimento das Mulheres, em Nova Délhi, disse à IPS que os problemas de saúde gerados pelo sedentarismo já registram níveis de pandemia, com consequências econômicas, ambientais e sociais de longo alcance.

A depressão é outro importante desafio para as mulheres que trabalham. Segundo os psiquiatras, a incapacidade de ter o esperado bom desempenho no trabalho, a não concretização de objetivos, o não cumprimento de prazos estabelecidos e a constante preocupação com as responsabilidades familiares pode causar uma depressão clínica.

O psiquiatra Roy Kuruvila, de Chennai, disse à IPS que os ambientes de trabalho estressantes afetam mais as mulheres do que os homens, já que elas têm menos vias para liberar sua ansiedade ou frustração. “É necessário apoio social e incentivo para reduzir as tensões das mulheres que trabalham”, destacou.

O problema tem impacto profundo na vida familiar, por exemplo, na paternidade. Uma equipe de estudo de cinco membros, liderada por M. K. C. Nair, diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil na faculdade de medicina do governo em Thiruvananthapuram, concluiu que as mulheres que trabalham amamentam menos seus filhos do que as que não trabalham. Cerca de 77% das que trabalham “citaram a falta de uma licença maternidade superior a três meses como o principal impedimento para exclusivamente amamentar”, concluiu o estudo.

Os médicos dos sistemas indianos de medicina dizem que a maioria das mulheres que trabalham não faz check up de rotina por falta de tempo. Eles as aconselham a realizarem controles de endometriose, câncer de mama, espondilose, insônia, hipotireoidismo e perda de cabelos. V. S. Ambal, médico do Centro Santhigiri de Pesquisas sobre Cuidados com a Saúde em Pothencode, em Thiruvananthapuram, disse que o excesso de trabalho também causa desordens menstruais e outros problemas ginecológicos.

O sistema “ayurveda não permite combinar alimentos distintos, que prejudicam os órgãos internos, e aconselha a ingestão de alimentos naturais. Houve uma importante mudança nos hábitos alimentares das mulheres que trabalham nas cidades, que preferem consumir refeições rápidas e já preparadas devido à pressão do trabalho, ao padrão de vida e à conveniência”, explicou Ambal à IPS.

Vários estudos sugerem que o consumo de refeições rápidas, que contêm uma alta porcentagem de sal, açúcar e conservantes, está crescendo. Uma pesquisa da Câmara Associada de Comércio e Indústria feita este ano mostra que 67% das mulheres que trabalham admitiram ter deixado de lado alimentos tradicionais que são nutritivos, simples e fáceis de digerir, e passaram para refeições rápidas carregadas de calorias vazias. Envolverde/IPS