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Fissão nuclear nas urnas

Taipei, Taiwan, 12/1/2012 – Os habitantes de Taiwan irão às urnas no dia 14 para escolher o novo presidente e os membros do parlamento, e também para decidir o destino de uma usina nuclear de US$ 9,3 bilhões. Cerca de 14 milhões dos 23 milhões de habitantes poderão participar das eleições para eleger entre três candidatos: o atual presidente e líder do Partido Nacionalista Chinês (Kuomintang, ou KMT), Ma Ying-jeou, de 61 anos, a presidente do Partido Progressista Democrático (DPP), Tsai Ing-wen, de 56 anos, e o líder do Partido Primeiro o Povo, James Soong, de 69 anos.

A questão de este país insular da região Ásia Pacífico continuar, ou não, dependendo da energia atômica para cobrir um quinto de suas necessidades de eletricidade se tornou um grande tema de campanha depois do desastre do complexo nuclear japonês de Fukushima, causado por um maremoto seguido de tsunami no dia 11 de março do ano passado.

As três centrais existentes em Taiwan, todas operadas pela estatal Power Co, foram construídas na década de 1970, quando o KMT estava no governo. Duas usinas no norte da ilha têm, cada uma, dois reatores de água em ebulição, projetados pela General Electric, semelhantes aos que funcionavam em Fukushima. Sua vida operacional terminará em 2018. A terceira central, que fica ao sul, conta com dois reatores de água pressurizada Westinghouse, e sua data de fechamento está prevista para o final de 2025.

Uma quarta usina está sendo construída pela empresa Taipower, na localidade de Gungliao, na costa nordeste da ilha. Contará com dois reatores avançados de água em ebulição de 1.350 megawatts, projetados por General Electric e Toshiba. Mas o projeto encontra forte resistência entre a população, o DPP e ambientalistas, que há anos pedem um referendo para decidir sobre o tema.

Pouco depois do desastres de Fukushima, Tsai propôs o “Plano Lar Livre de Energia Nuclear 2025”, que busca aposentar as três plantas existentes seguindo o cronograma vigente e não permitir que a quarta inicie suas operações comerciais. Isto, segundo a candidata, evitaria acrescentar uma quarta “bomba de tempo” a um dos territórios com maior risco de terremotos no planeta. Ao falar perante as seis principais federações industriais e comerciais de Taiwan no final de novembro, a presidente do DPP afirmou que “a energia nuclear não é uma fonte limpa e barata de eletricidade, sendo, de fato, a mais cara fonte de energia quando se considera outros custos, como o tratamento do lixo radioativo”.

Tsai reconheceu que a tentativa de deter a construção da quarta usina, chamada de Nuclear Four, em outubro de 2000, pelo último governo do DPP (2000-2008), após 55 anos de domínio do KMT, fracassou pelo “insuficiente diálogo e pela falta de consenso social”. A ordem emitida em outubro de 2000 pelo então primeiro-ministro Chang Chun-hsung para deter a Nuclear Four foi anulada pelo parlamento, controlado pelo KMT, que retomou o poder em 2008 sob a liderança de Ma.

“Depois de Fukushima, nossa sociedade se deu conta de que a energia nuclear não só é cara como também é insegura”, disse Tsai, que pediu que Taiwan seja transformada em um “lar livre de energia atômica”, e destacou que isto é imprescindível para obter sustentabilidade e “justiça de gerações”. Além de impedir que a Nuclear Four inicie operações comerciais, Tsai propõe uma mescla de estratégias para reduzir e finalmente terminar com a dependência da energia atômica.

Estas medidas incluem promover as indústrias verdes, eliminar os subsídios para a energia à base de carvão e a outros setores intensamente contaminantes, melhorar a eficiência energética e a conservação, impulsionar o uso de usinas térmicas e aumentar ao menos em 1% ao ano a capacidade das energias renováveis. Tsai afirmou que o plano de seu partido é “responsável e viável”, já que se tem 13 anos para desenvolver fontes renováveis e alternativas para substituir a energia nuclear.

Por sua vez, Lin Shang-kai, professor de economia na Universidade Nacional de Taiwan, disse à IPS que impedir por intermérdio do Executivo que a Nuclear Four receba combustível para funcionar evitaria a necessidade de um projeto de lei para deter sua inauguração. “Se Tsai for eleita, seu governo pode simplesmente decidir não ligar a chave”, afirmou Lin, garantindo que “Taiwan poderia fechar as outras três usinas imediatamente sem sofrer escassez de eletricidade”.

O presidente Ma garantiu inicialmente a segurança das usinas e apoiou a rápida entrada em funcionamento do projeto Nuclear Four, mas moderou sua posição em novembro. Nessa ocasião afirmou que se for reeleito, para um segundo mandato de quatro anos, permitirá que a Nuclear Four inicie suas operações comerciais antes de 2016, mas “com base em uma segurança garantida”.

Ma disse que o país poderia avançar para a eliminação da energia atômica desde que “não haja restrições ao fornecimento elétrico, mantendo preços razoáveis e cumprindo os compromissos internacionais para reduzir as emissões de carbono”. O presidente acrescentou que se os reatores da nova usina entrarem em funcionamento antes de 2016 seu governo não estenderá a vida útil da primeira, em Chinshan, norte da ilha.

Contudo, após ouvir uma apresentação da companhia Taipower sobre medidas para enfrentar problemas estruturais, o vice-presidente do Conselho de Energia Atômica, Huang Ching-tung, anunciou que o projeto continuaria sob “supervisão intensiva”, apesar das objeções da sociedade civil. O secretário-geral da Aliança Verde de Ação Cidadã, Tsui Shu-hsin, disse que o plano da Taipower “não pode resolver os problemas estruturais da Nuclear Four”.

Por sua vez, o legislador Tien Chiu-chin, do DPP, disse que nem Huang nem o vice-presidente da empresa, Hsu Hwai-chiung, responderam à questão de “quanto dinheiro além dos US$ 9 bilhões já investido será necessário para garantir uma segurança de 100%”. Para ele, “é impossível garantir uma operação 100% segura na Nuclear Four, mas Taiwan ficaria devastada por um acidente nuclear como o de Fukushima e não pode se permitir um incidente como esse”, acrescentou. Envolverde/IPS