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Falta de krill devasta pinguins

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Colônia de pinguins de Adelia.
Washington, Estados Unidos, 13/4/2011 – A quantidade de duas espécies de pinguins antárticos diminuiu drasticamente nos últimos 30 anos devido a uma crescente redução, por razões climáticas, do krill, sua principal fonte de alimento. A espécie sofre a combinação de outros predadores, sobrepesca e rápido derretimento dos gelos em razão do aquecimento global. A informação consta do estudo “A variabilidade na biomassa de krill vincula colheita e aquecimento do clima com as mudanças nas populações de pinguins na Antártida”, divulgado no dia 11 pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

Baseando-se em pesquisas da década de 1970 sobre o pinguim de barbicha (Pygoscelis antarcticus) e o pinguim Adelia (Pygoscelis adeliae) e os ecossistemas que os mantêm, o informe conclui que suas populações nas Ilhas Shetland do Sul tiveram redução superior a 50% devido, principalmente, a uma severa diminuição de krill, uma criatura similar ao camarão e que depende dos gelos marinhos para se reproduzir.

O pinguim Adelia, que durante o inverno prefere os gelos marinhos, diminuiu ao ritmo de 2,9% ao ano na última década, enquanto a variedade de barbicha, mais adepta às águas, diminuiu 4,3% ao ano no mesmo período, segundo o estudo. Alguns cientistas previram que a redução dos gelos da Antártida, causada pelo aquecimento do ar e da água, teria impacto mais negativo sobre as populações de pinguins Adelia, já que dependem mais desse hábitat.

Segundo esta “hipótese dos gelos marinhos”, espera-se que os pinguins de barbicha aumentem sua população, pelo menos em relação aos seus “primos” Adelia. Entretanto, o estudo conclui que a abundância ou carência de krill parece que tem um papel mais importante na redução das populações das duas espécies. O krill se alimenta do fitoplâncton que cresce sob as superfícies geladas dos mares. Segundo outras pesquisas, as populações de krill no Oceano Antártico diminuíram 80% desde a década de 1970.

“Para os pinguins e outras espécies, o krill é o eixo da cadeia alimentar”, disse Wayne Trivelpiece, principal autor do informe e pesquisador de aves marinhas no Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. “Independente de suas preferências ambientais, vemos uma ligação entre mudança climática e populações de pinguins mediante a perda de hábitat para sua principal fonte alimentar. Enquanto prosseguir o aquecimento, a perda de krill terá profundo efeito em todo ecossistema antártico”, acrescentou.

O Oceano Antártico é um dos ecossistemas de mais rápido aquecimento sobre a Terra. As temperaturas do ar no inverno aumentaram entre cinco e seis graus desde os anos 1970. O aquecimento diminuiu tanto o alcance quanto a duração do gelo marinho de inverno, do qual depende o fitoplâncton, portanto, o krill e, em última instância, os pinguins. “Se o aquecimento continuar, os gelos marinhos de inverno podem desaparecer de boa parte desta região e exacerbar a diminuição de krill e de pinguins”, segundo o estudo.

Entretanto, a redução de exemplares de krill não se deve apenas ao desaparecimento dos gelos marinhos, diz o informe, que também cita a extração comercial dessa espécie por embarcações que praticam a pesca de arrasto, iniciada há quase 40 anos, e à crescente competição pelo krill entre populações em recuperação de baleias e focas.

As populações de pinguins Adelia e de barbicha aumentaram entre as décadas de 1930 e 1970 devido às perdas sofridas pelos dois mamíferos marinhos caçados pelos seres humanos. “Os pinguins são excelentes indicadores de mudanças na saúde biológica e ambiental do ecossistema mais amplo, porque são facilmente acessíveis durante sua reprodução em terra e dependem completamente de recursos alimentares do mar”, segundo Wayne.

“Além disso, ao contrário de muitos outros predadores que se alimentam de krill no Oceano Antártico, como baleias e focas, não foram caçados pelos seres humanos”, observou Wayne. “Quando vemos graves reduções nas populações, como vimos documentando com os pinguins de barbicha e Adelia, sabemos que existe um problema ecológico muito mais amplo”, ressaltou. Envolverde/IPS