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Estados Unidos desenvolvem arsenal de luta pela Internet

Nova York, Estados Unidos, 22/6/2011 – Milhões de iranianos que vivem sob forte vigilância na internet há anos logo poderão se beneficiar de novas tecnologias para driblar os censores. O jornal The New York Times informou na semana passada que o governo de Barack Obama lidera “um esforço mundial para desenvolver sistemas ‘sombra’ da internet e telefones celulares que dissidentes poderiam usar para evitar governos repressivos que tentam silenciá-los censurando ou fechando as redes de comunicação”.

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Da esquerda a direita: Ehsan Norouzi, Issac Mao, Cyrus Farivar e Mehdi Yahyanejad.
Um desses projetos é a “internet-pasta”, financiada com US$ 2 milhões do Departamento de Estado. Essa pasta pode entrar por contrabando em um desses países e rapidamente instalar uma comunicação sem fio sobre uma ampla área, conectando-a à internet. “Há muitos grupos de pesquisadores trabalhando na criação de ferramentas e redes digitais alternativas para evitar a censura em todo o mundo”, disse à IPS Medhi Yahyanejad, cofundador da Balatarin.com, popular site iraniano que teve um papel fundamental nas mobilizações populares após as polêmicas eleições de 2009 nesse país. “A esperança é que pelo menos a notícia desses esforços freie a decisão de Teerã de criar uma Rede Nacional de Internet, que isolaria o Irã do resto do mundo”, afirmou.

Nos últimos anos, Teerã expandiu agressivamente seu controle sobre a Internet. Em 2010, as autoridades anunciaram a criação de uma Polícia da Internet, encarregada de supervisionar todo o conteúdo produzido no país. O Irã também tenta criar, há tempos, uma Rede Nacional de Internet para isolar o país do restante do mundo, projeto este que custaria cerca de US$ 1,5 bilhão. Desde as eleições de 2009, a oposição iraniana e os dissidentes utilizaram a internet como força mobilizadora para levar o povo às ruas, denunciando as autoridades e questionando o discurso dominante na imprensa oficial.

No começo de março, o Ministério das Comunicações e Tecnologia informou que a Rede Nacional de Internet estaria operacional em 18 meses, ou no final de 2012. No dia 4 de março, o Ministério explicou que essa rede não substituirá a conexão com o resto do mundo. Entretanto, muitos acreditam que o ambicioso plano do Irã para isolar o país é ilusório e caro. “O Irã, ao contrário de outros países com acesso restrito à internet, como Coreia do Norte, Cuba e Birmânia, tem uma economia funcionando e conectada internacionalmente”, disse à IPS Cyrus Farivar, autor do livro “The Internet of Elsewhere” (A Internet de Outro Lugar). “É difícil simplesmente se desconectar”, acrescentou. “Recordemos que o acesso à internet no Irã é de aproximadamente 35%, isto é, um em cada três iranianos. É muito”, ressaltou.

Segundo o autor, o plano do Irã para construir essa rede nacional é difícil, mas não impossível. “Devemos ter em mente que todos os ISP (provedores de serviços da internet) no país estão atualmente controlados pelo governo”. E acrescentou: “Podem não apenas filtrar, censurar e vigiar a internet, como também deixá-la lenta (como fizeram em junho de 2009) e cortá-la completamente, se desejarem. A razão pela qual digo que seria difícil não é por questões técnicas, mas socioeconômicas”.

Outros veem que o Irã se aproxima de políticas restritivas como as da China, embora com diferenças significativas. “A China é muito mais aberta do que o Irã para se conectar ao mundo, e tem muito mais empresários na internet”, disse à IPS o diretor da Social Brain Foundation, Isaac Mao, radicado em Hong Kong. “É pouco provável que a China se separe do resto do mundo ou que sustente seu sistema de censura por muitos anos mais. Na prática, o Irã é mais como a Coreia do Norte”, afirmou.

Ehsan Norouzi, jornalista e ativista da internet iraniana, disse à IPS que Teerã trava na rede mundial de computadores outra guerra ideológica. “O governo iraniano nada tem a oferecer, apenas um discurso”, afirmou. Atualmente, quase todos os sites e blogs que criticam o governo, as redes sociais como Facebook e Twitter, além do YouTube, estão censurados no Irã. Envolverde/IPS