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Energia mais eficiência é igual a desenvolvimento na Guiana

A indústria arrozeira é o segundo setor agrícola mais importante na Guiana, atrás apenas do açúcar quanto à obtenção de divisas. Um grupo de especialistas indianos ajuda o país a reduzir seus custos energéticos nos dois casos. Foto: Desmond Brown/IPS
A indústria arrozeira é o segundo setor agrícola mais importante na Guiana, atrás apenas do açúcar quanto à obtenção de divisas. Um grupo de especialistas indianos ajuda o país a reduzir seus custos energéticos nos dois casos. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Georgetown, Guiana, 7/4/2014 – A Guiana pretende estabelecer um padrão de ouro para o Caribe, com a implantação de uma estratégia de eficiência energética que permita reduzir as emissões de gases-estufa derivadas dos combustíveis fósseis. “A eficiência energética é o principal método para combater a mudança climática e seu impacto, que é mundial, porque a energia suja é o principal contribuinte”, apontou à IPS o diretor-adjunto do Instituto de Recursos Energéticos (Teri) da Índia, Rudra Narsimha Rao.

“Embora as ineficiências no setor da energia sejam um desafio mundial, os esforços da Guiana podem posicioná-la melhor para combater os devastadores efeitos da mudança climática”, acrescentou Rao, cuja entidade ajuda a Guiana a reduzir os custos da energia em seus setores açucareiro e arrozeiro. O Teri colabora com o governo do país dentro de sua Estratégia de Desenvolvimento de Baixo Carbono (LCDS) para realizar uma auditoria energética do setor da agricultura industrial.

As conclusões e recomendações foram entregues aos principais responsáveis no dia 24 de março. Segundo o Banco Mundial, as medidas de eficiência energética podem reduzir as emissões de carbono em até 65%, em alguns casos. Pesquisadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estimam que a região pode reduzir em 10% seu consumo de energia na próxima década, e economizar dezenas de milhares de milhões de dólares adotando tecnologias existentes para aumentar a eficiência.

Projetos financiados pelo BID demonstram que os retornos de investimentos em iluminação eficiente e programas de motores elétricos, por exemplo, são maiores do que os de criar nova capacidade energética. Agora, o Banco ajuda setores específicos, como os de biocombustíveis e o hídrico, a reduzirem seus custos operacionais mediante investimentos em tecnologias mais eficientes. O órgão financia programas que estimularão a produção de eletricidade e prolongarão a vida dos complexos hidrelétricos existentes modernizando suas turbinas.

Além disso, está avaliando programas para reduzir as perdas na transmissão de eletricidade e para criar redes elétricas mais inteligentes dentro dos países e além fronteiras. Rao alertou que ignorar o potencial da eficiência energética causará maiores riscos, em particular para os países em desenvolvimento. O consumo anual de energia da Guiana representa cerca de cinco milhões de barris de petróleo ou equivalentes derivados de uma variedade de fontes energéticas, entre elas diesel, gasolina, gás liquefeito de petróleo, querosene, bagaço, lenha, carvão, biodiesel, biogás, sol e vento.

Nos últimos meses, o Teri vem liderando um projeto de duas fases que dá apoio técnico ao governo nas áreas de mudança climática e energia. A segunda fase do projeto buscava melhorar a produção dos setores arrozeiro, açucareiro e de manufatura. Entre as agências que participaram do projeto constam Corporação Açucareira da Guiana, Conselho de Desenvolvimento Arrozeiro da Guiana, Comissão Florestal da Guiana e Associação de Manufatura e Serviços da Guiana.

Rao afirmou que foram feitos estudos com moinhos de arroz, propriedades produtoras de arroz, serrarias e agências manufatureiras para promover o manejo da energia e da conservação e aumentar a produção. O titular do Escritório de Mudança Climática, Shyam Nokta, disse que a eficiência energética também deveria ser vista como um estilo de vida e um enfoque de comportamento, conceito que se promove no contexto da LCDS da Guiana. Essa estratégia, criada pelo ex-presidente Bharrat Jagdeo (1999-2011), propõe como forjar uma nova economia baixa em carbono na Guiana na próxima década.

“Nenhum país responsável deveria ignorar esse assunto, pois a eficiência energética se soma à trajetória de desenvolvimento da LCDS da Guiana”, pontuou à IPS o ministro da Agricultura, Leslei Ramsammy. Ele também acredita que a região deve reduzir a pegada ambiental da agricultura, reduzir a vulnerabilidade à mudança climática, fomentar a segurança alimentar e potencializar a reserva de energia com a produção de biocombustível.

Ramssammy pediu às nações caribenhas que “considerem uma agricultura climaticamente inteligente” se querem manter uma prosperidade econômica e social. “A mudança climática é real, está afetando nossos países, já os impactou”, ressaltou à IPS. A Guiana também está se beneficiando de conselhos de especialistas sobre todas as possibilidades de energia renovável mediante um pacto com a Iniciativa Climática da Fundação Clinton.

O acordo inclui uma equipe de especialistas que “preparam programas de energia renovável com uma capacidade comercial que atraia finanças importantes”, explicou Jan Hartke, diretor mundial do Projeto de Energia Limpa da Iniciativa Climática da Fundação Clinton. “Somos assessores. Recomendamos, não tomamos decisões. A nação soberana toma todas essas decisões”, enfatizou.

Hartke, que viajou à Guiana em várias ocasiões, disse que está totalmente a par da visão do governo sobre as energias renováveis e das muitas intervenções realizadas por meio da LCDS. Entre elas há um programa de energia solar no interior, que já equipou cerca de 15 mil residências com sistemas fotovoltaicos que acumulam cerca de dois megawatts de eletricidade.

“Os dirigentes políticos daqui demonstram ter visão e compromisso com as comunidades, para garantir que saibam o que está ocorrendo. Penso que esse tipo de liderança política é uma das coisas das quais trata a Iniciativa Climática da Fundação Clinton”, destacou Hartke. A Fundação tem sido um apoio essencial no trabalho preliminar sobre a LCDS da Guiana. A estratégia busca conseguir um equilíbrio entre o manejo sustentado das vastas florestas do país e o desenvolvimento econômico.

O Projeto Hidrelétrico das Cataratas Amaila é um componente muito importante da estratégia, que, se prevê, representará 90% da geração de energia do país e reduzirá a necessidade de combustíveis fósseis. “Estamos profundamente interessados nas energias renováveis”, declarou o presidente Donald Ramotar. “Agora que desenvolvemos essa etapa, penso que podemos nos beneficiar com a redução desse custo e usar energia limpa, acompanhando o que demanda o mundo hoje, com todos os problemas da mudança climática e outros assuntos”, acrescentou. Envolverde/IPS