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Em Gana as mulheres criam seu próprio banco

Dunwaa Soayare, de 45 anos, mostra a caderneta de poupança que contém as contribuições semanais da cooperativa Asong-taaba. Foto: Albert Oppong-Ansah/IPS
Dunwaa Soayare, de 45 anos, mostra a caderneta de poupança que contém as contribuições semanais da cooperativa Asong-taaba. Foto: Albert Oppong-Ansah/IPS

 

Denugu, Gana, 6/3/2014 – Os bancos darem as costas às mulheres, sobretudo se são pobres e vivem em zonas rurais, não é nenhuma novidade. A novidade é essas mulheres se organizarem e criarem sua própria cooperativa bancária, com acontece no norte de Gana.

Dunwaa Soayare, uma pequena agricultora de 45 anos, viúva com cinco filhos, não podia conseguir créditos nas instituições bancárias do país. Não tinha conta corrente nem garantia. Não podia dar três refeições diárias aos filhos e muito menos pagar seus estudos. Mas sua vida mudou radicalmente quando se integrou ao Grupo de Mulheres Asong-taaba, uma cooperativa de Denugu, na região Alta Oriental.

Soayare não só conseguiu abandonar a choça de barro onde vivia com sua família e se mudar para uma casa de tijolos, que ela mesma construiu, como também pode garantir uma educação superior aos seus filhos. Dois deles já são professores. “Além de poder dar educação aos meus filhos, ampliei meus cultivos de meio hectare para dois. Agora planto um hectare de milho, meio de painço (milho miúdo) e meio de amendoim”, contou à IPS. Ela explicou que colhe 15 sacas de 84 quilos por hectare, que vende a 70 mil cedis (US$ 380), um preço muito bom.

A cooperativa, criada em 2008, conseguiu juntar U$ 5 mil em 2013 graças à contribuição semanal de seus 25 integrantes, na grande maioria agricultoras e encarregadas de manter suas respectivas famílias. Toda segunda-feira as mulheres se reúnem sob uma árvore de karité e pagam suas contribuições, que variam de US$ 0,50 a US$ 5. Como sócias, podem solicitar um empréstimo para financiar negócios alternativos caso seus cultivos não deem os resultados esperados.

Soayare e sua família já não são vulneráveis nas épocas de escassez. A temporada de chuvas na região Alta Oriental geralmente começa em maio e termina em outubro. Contudo, pelas mudanças do clima, as chuvas estão chegando muito tarde. Quando demoram e os cultivos sofrem, Soayare pede um empréstimo ao grupo para produzir sabão e comprar vegetais para revender. “Não sei o que faria sem essa iniciativa de poupança”, ressaltou.

A Asong-taaba é apenas um dos 500 grupos de seu tipo no distrito de Garu Tempane, que beneficiam quase 12 mil pessoas no total. Essas cooperativas nasceram graças à iniciativa da organização Care International Associação de Poupança Melhorada e Crédito para a Erradicação da Pobreza.

Soayare e milhares de outras mulheres vivem melhor graças a essas cooperativas. Uma pesquisa realizada pelos Serviços Estatísticos de Gana, em 2011, mostra que 31% das famílias do país eram encabeçadas por mulheres.

O diretor regional do Conselho Nacional de População, Zangbalum-Bomahe Amadu, observou que os costumes polígamos no norte de Gana permitem que os homens se desvinculem da criação de seus filhos, deixando toda a carga para as mulheres. “A situação se complica se o homem morre. A maioria das mulheres, que geralmente nas áreas rurais são analfabetas, devem se esforçar para cobrir as necessidades de seus filhos”, detalhou à IPS.

Musah Abubakari, vice-diretor coordenador do distrito de Garu Tempane, disse à IPS que as cooperativas ajudam a reduzir a pobreza. As mulheres “se dedicam a diferentes formas de atividade econômica. Muitas se preocupam com a educação dos filhos, e por isso a matrícula escolar aumentou nos últimos três anos”, destacou.

Collins Kyei Boafoh, especialista em programas comunitários da organização Desenvolvimento Cooperativo Agrícola Internacional/Voluntários em Assistência Cooperativa no Exterior (ACDI/Voca), afirmou à IPS que o conceito de empréstimo e poupança nas aldeias foi fundamental para melhorar o sustento das mulheres e serviu como medida de adaptação à mudança climática.

“É sabido por todos que nos últimos cinco anos o cinturão da savana de Gana, que inclui as regiões Setentrional, Alta Oriental e Alta Ocidental, sofre escassez de chuvas e longos períodos de secas. Isso não ajuda a agricultura, que emprega 80% da população da região”, afirmou Boafoh.

O ativista afirmou que as cooperativas de mulheres agora usam seus fundos para se aventurarem em outras atividades, como o comércio varejista, para complementação de renda. “Depois dos curtos períodos de cultivo, as mulheres reúnem o dinheiro da poupança comunitária e oferecem mutuamente pequenos empréstimos para comercializar e processar produtos. Isso lhes dá uma renda sustentada e segurança de trabalho”, segundo Boafoh.

Ele sugeriu que o governo deveria adotar, modernizar e expandir a iniciativa para reduzir a pobreza nas regiões Setentrional, Alta Oriental, Alta Ocidental e Central.

Solomon Atinga, gerente de programas na Estação Agrícola Presbiteriana em Garu Tempane, outra cooperativa da Care International, estima que a iniciativa se expandiu para cem comunidades do distrito e teve impacto positivo na vida das mulheres, que agora podem cuidar dos filhos e manter suas famílias.

“Na verdade, o nível de vida das mulheres melhorou enormemente. Trata-se de um projeto pequeno com grande impacto. Mesmo sendo pobres, podemos poupar. O mínimo que um grupo coleta ao final de um ano chega a US$ 2 mil”, enfatizou Atinga. Envolverde/IPS