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Diplomatas estrangeiros procuram formação no Brasil

Rio de Janeiro, Brasil, 22/9/2011 – A cooperação do Brasil no campo diplomático eleva a demanda por parte de autoridades africanas que veem no país um sócio para estruturar seus próprios institutos de formação do serviço externo. Cada pedido é analisado em particular para avaliar a viabilidade de oferecer apoio ao país interessado em desenvolver uma cooperação neste campo, disse à IPS o diretor-geral do Instituto Rio Branco, Georges Lamazière, encarregado de selecionar e treinar os diplomatas brasileiros.

“Todos os anos oferecemos um sistema de bolsas para 15 alunos estrangeiros que vão a Brasília, a maioria de países de língua portuguesa da África”, afirmou o embaixador Lamaziére.

Outra modalidade recente é o Curso para Diplomatas Africanos, da Fundação Alexandre de Gusmão, criada por lei e também vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. O curso, em sua segunda edição, acontece entre 12 e 23 deste mês, no Rio de Janeiro, e desta vez reúne delegados de 11 países de língua inglesa, além de África do Sul, Angola, Botsuana, Gana, Quênia, Namíbia, Nigéria, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. Segundo o Itamaraty, o objetivo é consolidar a cooperação Sul-Sul e o intercâmbio de experiências, a cargo de palestrantes brasileiros e africanos.

Nisso acredita a angolana Isabel Patrícia Ribeiro, terceira secretária de cooperação bilateral no departamento África da chancelaria de seu país. “Sempre é bom buscar experiência diplomática em nosso país. Hoje, Brasil e Angola cooperam em várias áreas, como educação, construção civil e infraestrutura para a pós-guerra”, disse à IPS. A jovem diplomata, única representante de Angola no curso, viveu oito anos no Brasil, onde se formou em estudos superiores de relações internacionais.

Para ela, não há barreiras para a cooperação bilateral nem uma ação imperialista do Brasil. “Um país que passou por guerras necessita de sócios, não vejo como uma invasão. Deve haver abertura para que Angola se desenvolva”, acrescentou, referindo-se às guerras que seu país sofreu desde 1975, após a luta pela independência, e que se estenderam até 2002.

Para Bernard Kaporo Legoti, integrante do departamento do Brasil no Ministério das Relações Exteriores da África do Sul, o curso brasileiro foi, paradoxalmente, um caminho para aproximar-se de outros diplomatas africanos e conhecer suas realidades, muito diferentes, apesar de todos viverem no mesmo continente. “É uma oportunidade para estar mais próximo e conversar sobre outros temas para melhorar e compartilhar ideias na diplomacia”, acrescentou Legoti.

Além disso, Brasil e África do Sul, como membros do fórum Ibas, junto com a Índia, poderão aprofundar a compreensão mútua dos desafios que enfrentam os sul-africanos em setores como economia, saúde e agricultura, destacou Legoti. “Temos problemas com relação à aids. Talvez o Brasil possa compartilhar mais informações sobre a distribuição de medicamentos. A pobreza também é um ponto, pois o Brasil possui muitas medidas para reduzir a miséria. Queremos saber como fazer isso também”, acrescentou.

As relações entre as nações do Ibas não apresentam desequilíbrios, disse Legoti. “Não é uma via de mão única. Não há hegemonia de um país entre os emergentes”, destacou.

O Brasil é a segunda nação em quantidade de negros depois da Nigéria, pois metade dos 192 milhões de brasileiros se reconhece como tal. O país mantém relações com todos os Estados da África, onde mantém 37 embaixadas. Dezenove delas instaladas nos últimos oito anos, coincidindo com os mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acelerou o ritmo e a dinâmica das relações com essa região.

“Nunca um presidente brasileiro viajara tanto à África como Lula: visitou mais de 25 países. Estas visitas de alto nível abriram portas”, disse à IPS o diretor do departamento para a África do Itamaraty, Nedilson Ricardo Jorge. No mesmo período, 28 governantes africanos estiveram no Brasil. Nesses vínculos, foi colocada em jogo uma cooperação marcada pela reciprocidade, “de acordo com as demandas e necessidades do país que a está recebendo, em lugar da undirecionalidade característica da cooperação Norte-Sul, acrescentou Jorge.

“A cooperação Sul-Sul traz frutos também para o Brasil e está baseada na solidariedade e no interesse mútuo. As áreas técnicas brasileiras que mais progridem são as que prestam cooperação estrangeira”, afirmou Jorge. “Temos visões muito diferentes das de certos países sobre como ajudar a se desenvolver. Não cremos que seja por meio de operações militares, sanções, bloqueios ou outro tipo de pressão. É por meio da integração, e não do isolamento”, disse Jorge.

O Brasil acaba de superar ou enfrenta problemas muito semelhantes aos das nações africanas. “Existe um diálogo mais natural, isto é um diferencial importante. Apesar do fato de que não usamos a força militar”, ressaltou Jorge. A África apresenta-se como uma região muito promissora. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, dos dez países com maior crescimento anual do produto interno bruto até 2015, sete são africanos: Etiópia (8,1%), Moçambique (7,7%), Tanzânia (7,2%), República Democrática do Congo (7%), Gana (7%), Zâmbia (6,9%) e Nigéria (6,8%).

Entretanto, o Brasil ainda enfrenta obstáculos para inserir-se no continente africano, lembrou Jorge. E o principal é a falta de conexão. “São as conexões aéreas e marítimas. Sem mais rotas aéreas e marítimas, realmente estamos chegando a um limite de expansão” do intercâmbio, afirmou. Mais de 70% dos voos internacionais que saem da África seguem para a Europa e apenas 0,4% se dirigem ao Brasil. Envolverde/IPS