Grandes empresas pedem maiores cortes nas emissões de CO2 da UE

Mais de 70 companhias se unem para pressionar a Europa a aumentar sua meta de redução de emissões de GEEs para 30% até 2020.

A conscientização a respeito das mudanças climáticas parece estar alcançando cada vez mais setores da sociedade. Nesta semana, 72 empresas europeias, nas quais estão incluídas líderes mundiais, assinaram uma declaração para pedir à União Europeia (UE) que aumente sua meta de redução de emissões de dióxido de carbono e de gases do efeito estufa (GEEs) para 30% até 2020 em relação aos níveis de 1990.

“Signatários dessa declaração são parte de uma comunidade empresarial crescente convencida de que uma meta de 30% pode levar a uma transformação de mercado necessária para garantir a posição da Europa como líder global em um futuro de baixo carbono”, afirmou Luc Bas, diretor de programas europeus do Climate Group.

Dentre as companhias, estão gigantes como a Allianz, a Coca-Cola, o Carrefour, a Danone, a Google, a Sony Europe, a Unilever etc. Além dessas firmas, empresas ligadas ao setor de energias renováveis e às tecnologias limpas, como a Better Place, a Centrica, a Dong Energy, a First Solar, a National Grid, a Scottish and Southern Energy e a Vestas, também participaram do protesto.

John Brock, presidente e CEO das Empresas Coca-Cola, disse que a empresa apóia “o apelo à UE para adotar um compromisso de 30% de redução de carbono em longo prazo” e que acredita que “empresas como a nossa possam associar-se a ONGs e responsáveis políticos para chegar a uma mudança positiva”.

“O apoio de grandes corporações como a Ikea, a Coca-Cola e a M&S colocará uma pressão maior na UE para aumentar a meta de redução de emissões pra 30% e para estabelecer incentivos claros para um crescimento debaixo carbono o mais rápido possível”, explicou Chris Huhne, Secretário de Energia e Mudanças Climáticas do Reino Unido.

Para as empresas que assinaram a declaração, a UE precisa das políticas certas para manter sua liderança e competitividade em uma economia de baixo carbono global, e deve garantir segurança energética através de investimentos maiores em energias renováveis. As companhias acreditam que a recessão tornou os cortes de emissões mais fáceis e baratos, mas incentivos de mercado são necessários para estimular ações nesse sentido.

“Essa declaração sublinha o que os verdadeiros líderes empresariais vêm dizendo repetidamente, que um crescimento de baixo carbono estimulado por uma ambição maior de políticas climáticas da UE não é apenas viável, mas vai levar a uma recuperação econômica e a uma base melhor para a prosperidade futura na Europa”, declarou Sandrine Dixson-Declève, diretora da UE do Programa de Cambridge para Liderança Sustentável.

Declève acrescentou ainda que “líderes empresariais que trabalham conosco estão convencidos de que metas de curto e médio prazo mais ambiciosas são essenciais para ajudar a subir o preço do carbono e incentivar investimentos de baixo carbono necessários para atingir as metas climáticas da UE e sair da recessão”.

Estudos recentes mostram que aumentar as metas poderia incentivar as inovações e os investimentos em eficiência energética e em energias renováveis, aumentando a segurança energética na Europa. As importações de petróleo e gás poderiam ser reduzidas em cerca de US$ 63 bilhões até 2020, e em mais de US$ 850 bilhões por ano até 2050.

As firmas defendem também que um aumento nas metas de redução de emissão de CO2 impulsionaria o crescimento econômico e ajudaria a criar cerca de seis milhões de empregos ‘verdes’ direta e indiretamente na Europa até 2020. Além disso, estima-se que políticas de energia limpa mais consistentes ajudariam a aumentar os investimentos cumulativos europeus em 20% entre 2010 e 2020.

“Mais e mais empresas percebem que a prosperidade do futuro europeu está na economia de baixo carbono. Há um perigo na atual falta de resolução da UE que freará as aspirações de crescimento de algumas das maiores empresas da Europa”, comentou Huhne. “Agora, mais do que nunca, empresas percebem que uma revolução industrial limpa é a única forma de chegar ao crescimento sustentável e à criação de empregos na Europa e no mundo”, ressaltou Bas.

Essa não é a primeira tentativa de se chegar a uma meta maior de redução na emissão de GEEs. Um grupo de países, incluindo a Alemanha, a França e o Reino Unido, está pressionando o bloco para fixar uma meta mais ambiciosa de 30%, argumentando que o aumento da meta pode ser atingido com custos relativamente baixos.

No entanto, essa proposta está sendo rejeitada por outros países europeus, e os setores de grande intensidade de carbono solicitam que a meta de 20% seja mantida. Agora, espera-se que a declaração das 72 empresas coloque ainda mais pressão para que se aprove a meta de redução de 30%.

Keith Allott, diretor de mudanças climáticas do WWF-Reino Unido, defende que “políticos de toda a Europa devem ouvir essa mensagem clara de empresas com visão de futuro, que sabem que uma estrutura política mais forte será de seu interesse por causa dos investimentos e oportunidades que isso pode desencadear”.

“Manter a meta atual de 20% simplesmente perpetuaria um ciclo de pequenas ambições que vão levar inevitavelmente a perigosas mudanças climáticas. A meta de 30% é uma posição da qual a economia europeia não se arrependerá, e é lógico ir ao encontro dela agora”, continuou Allott.

Gavin Neath, vice-presidente sênior de Comunicação e Sustentabilidade da Unilever acredita que “sustentabilidade e crescimento não são mutuamente excludentes. Algumas companhias têm estratégias que procurar dissociar o crescimento de seus negócios de impactos ambientais”. No entanto, Neath enfatizou que para conseguirem reduzir suas emissões, é necessário que “governos façam sua parte do negócio”.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.