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Crise europeia contamina América Latina e Caribe

Buenos Aires, Argentina, 22/12/2011 – A economia da América Latina e do Caribe mostra os primeiros sinais de contaminação dos males que afetam o mundo industrial, e as projeções alertam para um impacto maior em 2012, após uma década de desempenho muito bom. Porém, ainda ostenta uma expansão de 4,3%. A temida desaceleração da economia é uma das principais preocupações expressadas no Balanço Preliminar das Economias da América Latina e do Caribe, apresentado ontem em Santiago do Chile pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU).

O tradicional informe anual indica que o crescimento da região, que foi de 5,9% no ano passado, neste será de 4,3%, e em 2012 de 3,7%, desde que a situação na União Europeia (UE) e nos Estados Unidos não piore. No quadro do balanço 2011, se destaca o Panamá, que lidera as projeções com expansão prevista de seu produto de 10,5%, à frente de Argentina com 9%, Equador 8%, Peru 7%, e Chile 6,3%. Em seguida, estão nove países cujas economias mostram um avanço de 4% a 5,5%, entre os quais está o México. Nos últimos lugares da lista encontra-se o Brasil, com crescimento estimado para o ano em curso de apenas 2,9%, uma redução que influiu decisivamente no rendimento global da região.

O estudo da Cepal começa mostrando que a menor taxa de crescimento deste ano, em comparação com os resultados da década anterior, se deve principalmente à débil recuperação da economia mundial e ao esfriamento da demanda interna no Brasil, a maior economia da região. No ano que vem, o Brasil se recuperará um pouco, com aumento projetado de 3,5%, mas a grande maioria dos países da região terão seu crescimento debilitado em relação a este ano, segundo a previsão dos técnicos da Cepal.

A apresentação, transmitida para todos os países envolvidos por meio de videoconferência, coube à secretária-executiva da Cepal, a mexicana Alicia Bárcena, e por outros economistas da Divisão de Desenvolvimento Econômico dessa agência das Nações Unidas. Bárcena destacou que, para 2012, ajudará a recuperação do Japão, que prevê ser a economia do mundo desenvolvido que mais vai se dinamizar, mas alertou que, “se na Europa as coisas piorarem, o impacto na região será muito alto, sobretudo em matéria comercial e financeira”, devido a um menor nível de transações e ao encarecimento do crédito.

Ao analisar a situação da União Europeia, a secretária-geral da Cepal alertou sobre os riscos de não cumprimento dos compromissos financeiros que os países da zona do euro manifestam e previu uma “década perdida” para esse bloco. Também questionou que as medidas fiscais para enfrentar a crise que os afeta “se centram no ajuste fiscal e não em políticas de estímulo ao crescimento”. Sobre os Estados Unidos, Bárcena afirmou que o problema é o “bloqueio político” que trava a recuperação econômica no curto prazo.

Para a Cepal, a falta de coordenação global da crise, que contrasta com a resposta concertada de 2008, preocupa tanto quanto a concentração da reação no ajuste fiscal e pouco no estímulo ao crescimento. Nesse contexto, Bárcena destacou que a América Latina teve desempenho “relativamente menos mau” porque os termos de intercâmbio continuam sendo favoráveis às suas exportações, principalmente minerais, alimentos e hidrocarbonos.

Como desafios, mencionou ter especialmente em conta o possível aumento da inflação, os processos de valorização das moedas locais frente ao dólar, a recuperação do espaço fiscal, a manutenção da dinâmica de crescimento e a ameaça de maior desaceleração pela crise externa. O aumento dos preços foi atribuído pela Cepal à incidência do mercado dos alimentos, destacando que os países, com diferentes estratégias, “conseguiram controlá-la”. Este ano fechará com índice inflacionário médio de 7%, acrescentou.

Bárcena também se referiu ao fortalecimento das moedas locais em alguns países, o que reduz a competitividade de suas exportações. Entretanto, insistiu como sendo positivo que 11 dos 19 países estudados têm superávit fiscal, o que mostra que “há um espaço para as políticas anticíclicas, embora menor do que em 2010”. Como fortalezas, destacou que as reservas monetárias crescem e a dívida pública da região continua caindo, variáveis que representam “um fator adicional de redução da vulnerabilidade” da América Latina diante da crise econômico-financeira em relação a outras anteriores.

A secretária-geral da Cepal comemorou que 2011 feche com uma taxa de desemprego de 6,8%, a menor em duas décadas, e com redução na pobreza de um ponto percentual, embora alerte que a indigência cresce 0,5% pela alta nos alimentos. Neste contexto, Bárcena se perguntou como sustentar a dinâmica de crescimento que começou a diminuir principalmente na metade deste ano, com quedas no consumo, nos investimentos, nas importações e exportações.

Afirmou também que as exportações da América Latina e do Caribe crescem, sobretudo, pelos aumentos de preços, mas não tanto pelo volume, e exortou os governos a terem políticas mais ativas neste ponto. Diante de uma consulta da IPS sobre recentes medidas protecionistas do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), Bárcena disse que preferia “a articulação das cadeias produtivas”, um tema no qual a agência trabalha, junto com os países de toda a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

“A Cepal não recomenda nenhum tipo de protecionismo, mas o aprofundamento do comércio intrarregional e maior investimento em infraestrutura que contribua com a conectividade entre os países”, respondeu Bárcena. Neste ponto, disse que a agência trabalha com os ministros sul-americanos para melhorar os mecanismos financeiros que permitam facilitar o comércio e, principalmente, baixar os custos de transação. Envolverde/IPS