Outros GEEs devem ser combatidos além do CO2, diz NOAA

Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA aponta que cortar as emissões de metano e dos demais gases do efeito estufa poderia reduzir o aquecimento global em 0,5°C até o fim do século.

Gráfico mostra o efeito no aquecimento global dos GEEs sob quatro cenários: Em vermelho com as emissões continuando constantes com relação aos níveis de 2008. Em laranja se houver um corte de 80% nos gases que não o CO2. Em azul se houver um corte de 80% no CO2. Em verde se os dois cortes forem feitos / NOAA.

O dióxido de carbono (CO2) sempre foi o principal foco das políticas climáticas internacionais. É a sua emissão que é controlada em muitos países e é baseado nela que ferramentas como os mercados de carbono funcionam.

Agora, um estudo da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA) publicado nesta semana na revista Nature busca destacar a importância de se limitar também os demais gases do efeito estufa (GEEs), muitos mais potentes que o próprio CO2, para frear o aquecimento global.

Segundo os pesquisadores, a inclusão do metano, do óxido nitroso e de outros GEEs em políticas climáticas reduziria a temperatura média global em 0,5°C até o fim do século. Além disso, por terem uma vida mais curta na atmosfera, o controle desses gases levaria a resultados mais velozes.

“Sabemos que as mudanças climáticas são motivadas principalmente pelo CO2 emitido durante a queima de combustível fóssil e também compreendemos que esse problema vai persistir por muito tempo porque o CO2 tem uma longa vida na atmosfera. Mas ao diminuir as emissões de outros gases, conseguiremos mitigar o aquecimento global de uma forma mais rápida”, afirmou Stephen Montzka, coautor do estudo.

Apesar do estudo destacar que a relação entre os GEEs e o clima não é totalmente entendida, e que os processos naturais também tem um papel na equação do aquecimento global, os pesquisadores consideram que não possuir uma estratégia para gases como o metano é um erro.

Segundo a NOAA, até as negociações climáticas internacionais poderiam ser mais fáceis se fossem incluídos os gases que hoje são negligenciados. Isto porque medidas de controle para esses GEEs afrouxariam o cronograma das ações mais impopulares para controlar o CO2, como taxas sobre as indústrias.

“A necessidade de reduzir a presença de CO2 na atmosfera em longo prazo não deve impedir ações mais imediatas. Nosso trabalho mostra a contribuição que limitar as emissões dos demais GGEs pode dar no combate às mudanças climáticas”, concluiu James Butler, coautor do estudo.

Mistério do Metano

A Nature desta semana traz também duas outras pesquisas que podem ajudar a responder uma das dúvidas que mais intrigam climatologistas: porque as emissões de metano, depois de décadas seguidas de crescimento, caiu entre 1980 e 2006.

Segundo o Centro de Pesquisas de Cingapura do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a queda nas emissões de metano se deve ao maior uso de fertilizantes e à redução no consumo de água e de compostos orgânicos nas plantações de arroz.

“Observando o que mudou nos últimos 30 anos chegamos à conclusão que a modernização da agricultura na Ásia é uma das principais razões para a queda nas emissões de hidrocarbonetos leves, como o óxido nítroso e o metano”, explicou Fuu Ming Kai, um dos autores do estudo “Reduced methane growth rate explained by decreased Northern Hemisphere microbial sources”.

Já a pesquisa da Universidade da Califórnia afirma que a maior eficiência na queima de combustíveis fósseis e o crescimento do uso de gás natural são as causas para a redução das emissões.

“Concluímos que o aumento da competitividade do gás natural com relação a combustíveis mais poluentes e o desenvolvimento de tecnologias limpas são os principais responsáveis pela queda da presença de metano na atmosfera”, afirmou  Murat Aydin coautor do “Recent decreases in fossil-fuel emissions of ethane and methane derived from firn air”.

Apesar dos estudos apresentarem razões diferentes, ambos apontam para as ações humanas como causa da variação do metano.

“É muito importante saber que mecanismos estavam por trás da queda da presença do metano na atmosfera no passado, pois assim poderemos traçar medidas para alcançar esse mesmo efeito de uma forma deliberada”, concluiu Fuu Ming Kai.

Os principais emissores de metano são a queima de combustíveis fósseis, o cultivo de arroz, a mineração, a pecuária e o desmatamento das florestas tropicais.  O aumento da frequência deste último fator pode ser o responsável pela volta de crescimento das emissões do metano após 2006.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.