Política Pública

Oito homens concentram riqueza do mundo

Por Baher Kamal, da IPS – 

Roma, Itália, 18/1/2017 – Oito homens concentram a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas que fazem parte da metade mais pobre da humanidade, segundo estudo elaborado pela Oxfam, organização que reúne 19 entidades que trabalham em mais de 90 países. O informe Uma Economia Para os 99%, apresentado no dia 16 pela Oxfam Internacional, conclui que a brecha entre ricos e pobres é “muito maior do que nunca”.

Segundo o estudo, “os ricos acumulam riqueza a um ritmo tão surpreendente que em 25 anos poderão aparecer os primeiros trilionários. Para se ter uma perspectiva dessa quantia, seria preciso usar um milhão de dólares por dia nos próximos 2.738 anos para gastar um trilhão de dólares”.

O documento também detalha a forma como as grandes companhias e os super-ricos avivam a crise de desigualdade ao fugirem do pagamento de impostos, o que faz baixar os salários, e ao utilizarem seu poder econômico para incidir em assuntos políticos. “Novos e melhores dados sobre a distribuição da riqueza global, em particular na Índia e na China, indicam que os mais pobres do mundo têm menos riqueza do que se pensava”, destaca a Oxfam.

Os novos dados retificam a estimativa feita pela organização sobre a relação entre ricos e pobres, pois seriam nove os bilionários que concentram a mesma riqueza que os 50% mais pobres da humanidade, e não 62%, com havia calculado no ano passado.

“É obsceno que haja tanta riqueza concentrada em mãos de uns poucos, quando uma em cada dez pessoas sobrevive com menos de US$ 2 por dia”, opinou Winnie Byanyima, diretora executiva da Oxfam Internacional. “A desigualdade deixa centenas de milhões de pessoas presas na pobreza, racha nossas sociedades e socava a democracia. No mundo há mais gente que fica para trás”, acrescentou.

A evasão fiscal das empresas transnacionais custaria à África milhares de milhões de dólares ao ano, denunciou a Oxfam. Foto: Marianela Jarroud/IPS

 

Segundo Byanyima, “enquanto seus salários ficam estagnados, seus chefes levam os bônus de milhões de dólares para casa, os serviços de educação e saúde sofrem cortes, enquanto as corporações e os super-ricos evadem o pagamento de impostos, e seus governos dançam no ritmo das grandes corporações e da elite rica”.

O informe mostra “como nossa economia quebrada volta a riqueza para a elite rica às custas dos mais pobres da sociedade, a maioria deles mulheres”. A evasão fiscal custa aos países pobres pelo menos US$ 100 bilhões ao ano. Com esse dinheiro seria possível oferecer “educação aos 124 milhões de crianças que não têm escolaridade e financiar intervenções sanitárias que poderiam evitar a morte de pelo menos seis milhões de meninos e meninas ao ano”, pontua o estudo.

O documento detalha como os super-ricos utilizam uma rede de paraísos fiscais para não pagar os impostos correspondentes, bem como um exército de ricos gerentes que garantem a rentabilidade de seus investimentos, o que não está disponível para os simples mortais poupadores.

Ao contrário da crença popular, muitas das pessoas ricas não se fizeram de baixo para cima. A Oxfam revela que mais da metade dos bilionários herdou a riqueza ou a acumulou por intermédio de indústrias propensas à corrupção e ao nepotismo. Também indica como as grandes corporações e as pessoas super-ricas utilizam seu dinheiro e seus vínculos sociais para garantir que as políticas governamentais sirvam aos seus interesses.

“Os governos não estão indefesos diante do avanço tecnológico e das forças o mercado. Se os dirigentes políticos deixarem de se obcecarem com o PIB (produto interno bruto) e se concentrarem em prover a toda a cidadania, e não apenas a uns poucos ricos, é possível conseguir um futuro melhor para todos”, afirma a Oxfam. A proposta da coalizão para conseguir uma economia mais humana se concentra em uma série de medidas que deveriam ser adotadas pelos governos para acabar com a extrema concentração da riqueza e acabar com a pobreza.

Algumas das sugestões incluem o aumento de impostos para os mais ricos e as pessoas de maiores rendas, para garantir um campo de jogo mais parelho e gerar os fundos necessários para investir em saúde, educação e emprego, bem como colaborar para que os trabalhadores recebam um salário decente, frear a evasão fiscal e a espiral descendente dos tributos corporativos.

As medidas propostas pela Oxfam também preveem o apoio às empresas que oferecem benefícios aos seus trabalhadores, e não somente aos seus acionistas. Além disso, os governos deveriam garantir que a economia funcione para as mulheres, e contribuir param eliminar as barreiras para o progresso econômico da população feminina, como melhorando o acesso a educação e a injusta carga de trabalho de cuidados não remunerado.

Tanto os governos nacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a União Europeia e as grandes organizações da sociedade civil estão conscientes da obscena desigualdade atual. Como pode ser que não se faça nada de efetivo para evitá-la ou pelo menos reduzi-la?”, questiona a Oxfam. A esse respeito, Anna Ratcliff, responsável por mídia, desigualdade e pela campanha Even it Up (Acabemos com a Desigualdade Extrema) da Oxfam, ressaltou à IPS que “enfrentar a desigualdade como se deve significaria romper com o modelo econômico que temos há 30 anos”.

“Também significaria fazer frente e superar os poderosos interesses dos super-ricos e das corporações que se beneficiam do status quo. Portanto, não surpreende que, apesar da indignação global pela crise de desigualdade, nada tenha mudado”, acrescentou Ratcliff.

Porém, alguns governos se movimentam para reduzir a desigualdade, para ouvir as reclamações da maioria, e não da minoria, observou Ratcliff, que citou a Namíbia, onde foram aumentados os impostos para as pessoas mais ricas e esta arrecadação foi destinada à consolidação de uma educação secundária gratuita e para ajudar a reduzir a brecha entre ricos e pobres.

Países como esse “mostram que outro mundo é possível se pudermos rejeitar este modelo econômico roto e frear a indevida influência dos ricos”, enfatizou Ratcliff.

Os oito homens mais ricos do mundo

  1. Bill Gates, dos Estados Unidos, fundador da Microsoft, tem patrimônio líquido de US$ 75 bilhões.
  2. Amancio Ortega, da Espanha, fundador da Inditex, dono da cadeia de vestuário Zara, tem patrimônio líquido de US$ 67 bilhões.
  3. Warren Buffett, dos Estados Unidos, diretor executivo e maior acionista da Berkshire Hathaway, tem patrimônio líquido de US$ 60,8 bilhões.
  4. Carlos Slim Helu, do México, dono do Grupo Carso, tem patrimônio líquido de US$ 50 bilhões.
  5. Jeff Bezos, dos Estados Unidos, fundador, presidente e diretor executivo da Amazon, tem patrimônio líquido de US$ 45,2 bilhões.
  6. Mark Zuckerberg, dos Estados Unidos, presidente, diretor executivo e um dos fundadores do Facebook, tem patrimônio líquido de US$ 44,6 bilhões.
  7. Larry Ellison, dos Estados Unidos, um dos fundadores e diretor executivo da Oracle, tem patrimônio líquido de US$ 43,6 bilhões.
  8. Michael Bloomberg, dos Estados Unidos, proprietário e diretor executivo da Bloomberg LP, tem patrimônio líquido de US$ 40 bilhões.

O cálculo da Oxfam se baseia nos dados sobre a distribuição da riqueza global, de 2016, fornecidos pelo Crédit Suisse. Envolverde/IPS

* Este é o primeiro de três artigos sobre o alarmante aprofundamento da desigualdade no mundo.