Internacional

OMS quer evitar violência contra jovens

Os jovens são vítimas de 43% do total de homicídios no mundo. Deles, 83% são homens, segundo a OMS. Foto: Clarinha Glock/IPS
Os jovens são vítimas de 43% do total de homicídios no mundo. Deles, 83% são homens, segundo a OMS. Foto: Clarinha Glock/IPS

Por Tharanga Yakupitiyage, da IPS – 

Nações Unidas, 3/11/2015 – A cada ano são assassinados cerca de 200 mil jovens no mundo, o que converte o homicídio na quarta principal causa de morte de pessoas entre dez e 29 anos, segundo o novo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS). O informe Prevenção da Violência Contra os Jovens: Um Panorama Geral da Evidência, publicado no dia 27 de outubro pela OMS, ilustra a magnitude e as consequências do problema em nível mundial. A violência contra os jovens tem muitas formas, como assédio, agressão física, violência sexual e homicídios.

O documento revela que os jovens sofrem 43% do total de homicídios no mundo, dos quais 83% são homens. A maioria dos homicidas também é homem. Por outro lado, a maioria dos homicídios nessa faixa etária ocorre em países de rendas baixa e média. As taxas de homicídios juvenis calculadas em alguns países da América Latina, do Caribe e da África subsaariana superam em cem vezes ou mais os índices da Europa ocidental e do Pacífico ocidental, que têm as menores proporções do mundo.

Para cada jovem que perde a vida pela violência, muitos outros dão entrada nos hospitais com ferimentos graves. Por exemplo, em apenas um mês, no Brasil houve quase cinco mil casos de feridos por fatos violentos, mais da metade deles com idades entre dez e 29 anos. Esse tipo de violência tem consequências para toda a vida, como deficiência física e problemas de saúde mental. Um estudo revelou que os estudantes vítimas de assédio e violência escolar apresentam de 30% a 50% mais probabilidades de sofrer depressão.

A violência contra os jovens também gera outras consequências sociais, diz o informe da OMS, como baixo rendimento educacional, sistemas de saúde sobrecarregados, futuras perdas de renda econômica, custos sociais associados ao medo, e redução da coesão social. Nos Estados Unidos, os gastos médicos e a perda de renda em razão da violência contra os jovens chegam a US$ 20 bilhões por ano.

A OMS destaca vários fatores de risco que contribuem para a ocorrência desse tipo de violência, como a participação anterior em atos criminosos, falta de laços sociais, consumo de drogas, pobreza, relações entre pais e filhos, maus tratos e baixo rendimento escolar. Como resultado das numerosas causas possíveis, a OMS avaliou 21 estratégias e políticas para evitar a violência contra os jovens.

“Um dos maiores obstáculos para prevenir eficazmente a violência juvenil é a falta de informação sobre o que funciona”, segundo o informe. Entre as estratégias mais promissoras estão os programas de criação dos filhos e de desenvolvimento na primeira infância, prevenção ao assédio escolar, políticas de supervisão comunitária orientadas para detectar problemas, leis de controle de armas e políticas de melhoramento urbano.

Na Espanha, um programa de prevenção ao assédio escolar, com formação de pessoal docente e discente, conseguiu redução na vitimização de 25% para 15%. O programa brasileiro Fica Vivo, de cunho comunitário, forneceu assistência financeira e social aos jovens para reduzir a dependência dos grupos criminosos. O plano também vinculou agentes da polícia com membros da comunidade, para melhorar seu conhecimento da área e reforçar as relações pessoais. Isso permitiu redução de 69% na taxa de homicídios nos primeiros seis meses.

Na cidade colombiana de Medellín as autoridades melhoraram a infraestrutura nos bairros de baixa renda e construíram um sistema de transporte público entre as comunidades isoladas e o centro urbano. As medidas reduziram a taxa de homicídios em 66%.

Embora muitos dos programas estejam associados à saúde pública, o informe defende a adoção de uma estratégia multissetorial para lidar com a violência contra os jovens. “A saúde é só um dos vários setores cujas contribuições são essenciais para se ter um êxito sustentado na prevenção da violência juvenil”, afirmou o diretor do Departamento de Gestão de Enfermidades Não Transmissíveis, Deficiência, Violência e Ferimentos da OMS, Etienne Krug.

No entanto, a OMS diz que a maior parte da evidência se obtém em países de renda alta, por isso é difícil aplicar nos de baixa renda. Porém, a organização destacou a necessidade de se adotar um enfoque coordenado, sistemático e de longo prazo para a prevenção da violência contra os jovens.

A resolução 67.15, aprovada por 184 Estados membros na 67ª Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2014, inclui compromissos para prevenir a violência contra meninos e meninas. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), recentemente aprovados, contêm compromissos mais amplos para reduzir todas as formas de violência e mortes derivadas dela. Envolverde/IPS