Internacional

Áreas rurais do Malawi terão internet

Given Mbwira (esquerda) e Obed Nkhoma trabalham com internet na redação do The Nation, na cidade de Blantyre, no Malawi. Logo a população rural do país contará com um acesso barato e rápido à rede graças ao projeto WhiteSpaces. Foto: Bobby Kabango/IPS
Given Mbwira (esquerda) e Obed Nkhoma trabalham com internet na redação do The Nation, na cidade de Blantyre, no Malawi. Logo a população rural do país contará com um acesso barato e rápido à rede graças ao projeto WhiteSpaces. Foto: Bobby Kabango/IPS

por Charity Chimungu Phiri, da IPS –

Blantyre, Malawi, 3/11/2016 – A partir deste mês, muitas pessoas no Malawi, especialmente nas zonas rurais, poderão se conectar à internet, e será tão fácil quanto abrir uma torneira. Pelo menos esse é o sonho da C3, uma provedora de serviços de telecomunicações e a primeira empresa comercial que distribuirá a TV White Spaces (TVWS) por um período de testes de noves meses em todo o país.

A maioria dos mais de 16 milhões de habitantes do Malawi vive em áreas rurais e é pobre, e somente 6,5% têm conexão com a internet. Para que ela chegue a toda a população, a C3 constrói uma nova rede que depende de frequências não utilizadas na televisão e conhecidas como “banda branca da TV”, com a ideia de estendê-la a todo o território.

A conectividade é facilitada aos usuários mediante uma nova tecnologia eficiente e de acesso dinâmico ao espectro e espaços em branco, graças ao qual os usuários podem se conectar à rede por meio de uma conexão sem fio Wi-Fi. “É uma forma barata e efetiva de ter internet”, disse Elizabeth Kananji, de 17 anos e cursando a segunda série do curso Politécnico do Malawi.

“Nem todos podem ter acesso à rede porque é preciso pagar ao provedor, o que é difícil por ser caro, mas com a TVWS não se tem de pagar, desde que se tenha os aparelhos. Está pronto para começar”, observou a adolescente à IPS.

O Malawi terminou há pouco o projeto de teste técnico da TVWS, um esforço conjunto da Autoridade Reguladora das Comunicações (Macra), do departamento de física da Universidade Chancellor College e o laboratório italiano Marconi Wireless Lab T/ICT4D. A iniciativa busca promover a pesquisa e o desenvolvimento em matéria de tecnologias da informação e da comunicação, segundo o subdiretor de gestão do espectro da Macra, Jonathan Pinifolo.

A TVWS teve vários projetos-piloto na cidade de Zomba, em 2013, na escola secundária Saint Mary, na área de aviação da Força de Defesa do Malawi, no hospital rural de Pirimiti e no universitário Departamento de Estudos Geológicos. Há outros países que realizaram projetos semelhantes, como Estados Unidos, Grã-Bretanha, África do Sul e Quênia.

O Malawi será o primeiro país no mundo a expandir a TVWS para todo o território, uma iniciativa que recebeu elogios de todo o mundo. A União Internacional das Telecomunicações e a Organização das Nações Unidas (ONU) destacaram que é uma forma viável e rentável de levar a internet às zonas rurais.

A TVWS se mostrou como alternativa para levar o serviço às áreas afastadas, de difícil acesso e mais atrasadas, sem usar a tradicional banda larga (radiofrequência), que, segundo alertam os especialistas, está ficando saturada. No Malawi, a C3 é a única companhia que demonstrou interesse em levar adiante o projeto, segundo a Macra.

“Prevemos o lançamento inicial de algumas partes da infraestrutura este mês, mas como não visamos apenas à TVWS, construímos torres e instalamos pontos de acesso Wi-Fi e conexões troncais. Então poderemos anunciar a data oficial de lançamento”, detalhou à IPS Richard Chisala, da C3.

“Fizemos pesquisas para avaliar os provedores de serviços de internet no Malawi e concluímos que são mais caros do que no Quênia, por exemplo, o que faz com que apenas 10% da população tenha acesso à rede. Isso se deve principalmente à cobiça e à ineficiência”, afirmou Chris Shaeke, diretor-geral da C3. “Assim, decidimos mudar, mesmo com nossa licença da Macra dizendo que temos que nos concentrar nas áreas rurais”, acrescentou

O serviço será confiável e acessível, pontuou Shaeke. “Como a eletricidade é intermitente no Malawi, nossos equipamentos funcionam com energia solar. Além disso, montamos nossa infraestrutura onde a população rural possa ter acesso fácil à internet de onde estiver”, explicou.

Shaeke contou à IPS que se associaram com a Malawi Posts Corporation (MPC) para que os usuários rurais possam ter acesso à internet por meio de sua caixa postal. A pessoa só terá que conectar seus dispositivos e fazer conexão com a rede como faz quando quer ter eletricidade ou água. Atualmente, a C3 adquire o necessário para montar a infraestrutura com apoio econômico da Microsoft, que também financiou um projeto semelhante no Quênia.

“Recebemos apoio econômico e técnico dessa empresa e somos beneficiários da Microsoft Affordable Access Initiative (Iniciativa de Acesso Rentável), que procura fazer com que milhares de milhões de pessoas no mundo tenham um acesso rentável à internet”, ressaltou Chisala. “Temos um centro de dados em Lilongwe e outro de recuperação de desastres na cidade de Blantyre, que serão os primeiros na África a fornecer o que se conhece como serviços de nuvem. Somos uma rede de acesso aberto”, acrescentou.

As soluções de armazenamento e de nuvem informática oferecem aos usuários particulares e às empresas várias possibilidades de armazenamento e de processamento de dados em centros de terceiros e que podem estar longe dos usuários. Entre as instituições que utilizarão a rede da C3 se destacam organizações não governamentais, ministérios e agências do governo, bem como micro, pequenas e médias empresas, além de revendedores.

Entre as companhias que demonstraram interesse pelo serviço está a Health Point Media, que planeja oferecer mensagens audiovisuais aos centros de saúde e hospitais distritais e instalar telas, disse seu diretor, Tapiwa Bandawe. “Nossas mensagens estão dirigidas às 1,9 milhão de pessoas que visitam nossas instalações mensalmente. Como a proporção de pacientes por profissional de saúde é muito elevada no Malawi (um para mil), é difícil para os médicos dedicarem tempo explicando como prevenir doenças”, destacou.

Bandawe acrescentou que a ideia é que “com nossas mensagens as pessoas aproveitem para se inteirar de questões importantes para a saúde enquanto aguardam nas salas dos hospitais.

A estudante Kananji contou que o projeto da TVWS a inspirou a estudar engenharia eletrônica e telecomunicações. “Conheci o projeto em 2013, quando foram à minha escola (secundária Saint Mary) para instalação de antenas na fase piloto. No começo não sabia o que fazer na universidade, mas a TVWS me mostrou como as telecomunicações podem mudar o mundo”, ressaltou à IPS. Envolverde/IPS