Internacional

Acordo ratificado, agora é hora de agir

Menino atravessa com sua bicicleta um longo e estreito caminho de barro em Bangladesh, um dos países mais vulneráveis à elevação do nível do mar e à frequência extrema dos fenômenos meteorológicos extremos. Foto: GMB Akash/Pnud
Menino atravessa com sua bicicleta um longo e estreito caminho de barro em Bangladesh, um dos países mais vulneráveis à elevação do nível do mar e à frequência extrema dos fenômenos meteorológicos extremos. Foto: GMB Akash/Pnud

 

Por Helen Clark* –

Nações Unidas, 14/11/2016 – O mundo comemorou, em dezembro de 2015, quando foi alcançado um novo acordo mundial sobre mudança climática, em Paris. Menos de um ano depois, esse acordo entrou em vigor, um êxito significativo. Agora precisamos de ação climática rápida e efetiva.

A adoção total do Acordo de Paris requer que o uso insustentável de energia, o desmatamento e outras fontes de gases-estufa sejam enfrentados de forma decisiva. O objetivo é construir um futuro de zero carbono, resiliente ao clima e sustentável. Sabendo disso, nosso foco deve seguir o caminho traçado na capital francesa.

As transformações necessárias custarão anos de trabalho árduo e trilhões de dólares para ter resultados. Mas, se conseguirmos um compromisso coletivo para esse futuro, também poderemos criar empregos, melhorar a saúde pública, impulsionar a inovação, proteger ecossistemas vitais e preservar recursos hídricos, só para citar alguns dos benefícios vinculados à adaptação e à mitigação dos efeitos da mudança climática.

Helen Clark, administradora do Pnud. Foto: Cortesia da autora
Helen Clark, administradora do Pnud. Foto: Cortesia da autora

Para os países ao redor do mundo, a nova “era de implantação” do Acordo de Paris significa transformar seus compromissos climáticos, expressos em suas Contribuições Previstas Determinadas em Nível Nacional (INDC), em ações concretas.

O Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), como sócio estratégico para a ação climática, está pronto para dar assistência aos países na implantação das ferramentas necessárias para mobilizar os recursos que apoiem uma ação substancial e imediata.

E, para ir das intenções aos planos de ação, três coisas são necessárias.

Primeiro, é crítico o acesso ao financiamento. Para muitos países, isso significa mobilizar recursos locais de diversos setores e ministérios. Para outros, se traduz em atrair apoio bilateral e multilateral. Para todas as nações, implica assegurar que os programas climáticos atraiam o investimento público e privado.

Na experiência do Pnud, o acesso a financiamento climático se fortalece quando ocorre em contextos favoráveis. As políticas e as barreiras regulatórias do investimento público e privado em sustentabilidade devem ser removidas.

Em segundo lugar, o fortalecimento de capacidades é essencial. Os países propõem compromissos ambiciosos vinculados à adaptação e à mitigação em seus INDC, mas requerem apoio para desenvolver as capacidades institucionais e técnicas necessárias para alcançá-los. O Pnud, junto com seu extenso portfólio de projetos climáticos, está comprometido com essa tarefa.

As nações mais vulneráveis ao clima necessitam de apoio hoje para construírem resiliência diante dos cada vez mais voláteis fenômenos climáticos que ameaçam a vida e os recursos de suas populações. Em outubro, o furacão Matthew devastou o Haiti, destruindo casas e infraestrutura, matando mais de 500 pessoas e tendo impacto em centenas de milhares de haitianos.

No leste e sul da África, o recente fenômeno El Niño contribuiu para a pior seca que muitos países da região sofreram em mais de 30 anos, levando milhões de pessoas à escassez de alimentos e água, e à perda de seus meios de vida.

Investir em novas tecnologias e fortalecer as capacidades institucionais para a adaptação é crucial. Mais cultivos sustentáveis, infraestrutura híbrida, seguros contra os riscos, sistemas de alerta e preparação diante de desastres são todos parte da equação.

No Malawi, atingido fortemente por uma recente seca e, no ano passado, por uma inundação, um novo projeto de US$ 16 milhões  – financiado pelo Fundo Verde para o Clima – aumentará o uso de informação climática oportuna e sistemas de alerta

Por fim, para alcançar um desenvolvimento inclusivo zero-carbono e resiliente ao clima na escala necessária, precisamos com urgência de alianças sólidas. Governos, sócios bilaterais e multilaterais, setor privado, sociedade civil, organizações não governamentais e filantropos têm papéis fundamentais. E uma nova aliança pelos INDC será lançada proximamente

Enquanto os países se reúnem em Marrakesh, desde o dia 7 deste mês, na 22ª Conferência das Partes (COP 22) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, para a nova rodada de negociações climáticas, deve haver um chamado coletivo à ação pelo clima. Este é o momento para levar adiante as INDC e colher os benefícios do crescimento inclusivo, da inovação e da sustentabilidade.

Para os que, como nós, trabalham no apoio a esses esforços, nossos papéis e nossas responsabilidades estão claros: impulsionar ação em qualquer momento e espaço possível.

O acordo foi fechado em Paris. Agora devemos voltar nossa atenção para o trabalho por um futuro zero-carbono e sustentável. Envolverde/IPS

* Helen Clark é administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).