O Mapa da COP-30 derrapou no caminho.
Todos já sabem a gravidade dos fenômenos climáticos extremos. As pessoas estão vivendo seus estragos ao redor do mundo.

Gilberto Natalini -
Também sabemos que as mudanças climáticas, produzidas pela ação humana, na queima dos combustíveis fósseis, caminha muito mais rápido do que as ações que temos feito para preveni-las e combatê-las.
Assim chegamos à 30 ª COP, na esperança coletiva de termos os avanços necessários para virarmos esse jogo.
A COP de Belém foi um evento grandioso. Cerca de 50 mil pessoas e quase 200 países participaram durante quase duas semanas de milhares de negociações, eventos, debates, conversas em grupos e individuais, declarações e discursos.
Mas tivemos dois tipos de problemas: a infraestrutura do local e as conclusões finais.
A área construída para o evento era muito ampla e aparentemente confortável. Mas a refrigeração local sucumbiu diante do calor úmido da Amazônia. Fez um calor enorme lá dentro.
Também a infraestrutura de alimentação, de água, e elétrica, deixaram a desejar, a ponto de termos um incêndio que foi logo controlado.
A cidade de Belém recebeu bem os participantes, oferecendo como pôde sua hospitalidade, sua diversidade cultural e étnica.
Mas, o que importou mesmo foi o conteúdo do evento e seus resultados.
Houve uma grande presença de pessoas na zona verde, onde as ONGs e as diversas representações sociais estiveram. Várias manifestações também aconteceram, inclusive dos indígenas da Amazônia.
Dentro da zona azul, as delegações e os credenciados se desdobravam em assembleias e reuniões bilaterais, foram negociações e contatos pessoais intermináveis.
Tudo indicava que a COP-30 traria novidades ansiadas do chamado Mapa do Caminho para nos livrarmos, gradativamente dos combustíveis fósseis.
Mas, a partir de alguns dias do evento as negociações emperraram.
Os países produtores de petróleo, que tinham lá 1600 credenciados pela ONU, apoiados pela Rússia, pela Índia e pela China, e tendo o ausente EUA manipulando por trás, se colocaram contra qualquer menção a combustíveis fósseis no documento final.
E assim foi!
A COP da esperança se tornou a COP da decepção.
Desviaram toda a atenção para a adaptação, deixando a mitigação de lado. A adaptação é muito importante, mas é consequência.
É como se um paciente com infecção, tratássemos só a febre deixando as bactérias agirem soltas.
Isso foi ruim demais.
Não temos mais tempo para irmos aos tombos, ano após ano.
Sabemos como é difícil fazermos a transição para buscar novas fontes de combustíveis limpos.
Sabemos das dificuldades políticas, econômicas, sociais e tecnológicas para seguir esse “Mapa do Caminho”.
Mas a omissão dessa COP foi um tapa na cara da humanidade.
E a ganância dos petrolíferos falam mais alto que a nossa sobrevivência.
Gilberto Natalini
Médico e Ambientalista
Envolverde

Gilberto Natalini
Médico e especialista em gastroenterologia, combina sua prática com uma longa trajetória política.





