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O legado que a COP30 deixa ao Brasil

Malu Nunes - O Brasil tem potencial para se tornar um verdadeiro celeiro de iniciativas capazes de inspirar soluções ambientais, contribuindo para a resiliência climática e o avanço de ações de impacto positivo

Atualizado em 24/11/2025 às 15:11, por Redação Envolverde.

Frente do pavilhão da COP 30

Por Malu Nunes*

Desde o anúncio da realização da 30ª Conferência das Partes (COP30) no Brasil, em 2023, as expectativas se tornaram altíssimas. Afinal, a chamada “COP da Floresta” ocorreria justamente no coração da Amazônia — um dos principais sumidouros de carbono do planeta e vital para o ciclo da água, com seus “rios voadores”. Em um contexto de ebulição climática, estar nesse lugar simboliza inspiração.

O Brasil tem exercido um papel de liderança agregadora durante essa histórica COP30. Para além do aguardado texto final da Conferência, acredito que um dos principais legados desse grande encontro será a capacidade de manter vivo o espírito de cooperação que vivenciamos em Belém, unindo comunidades e organizações da sociedade civil para seguir trabalhando em conjunto em agendas para um futuro sustentável.

Embora o Brasil esteja no centro das atenções, é fundamental lembrar que a crise climática não é enfrentada isoladamente. O clima não reconhece fronteiras, e cada decisão local repercute em escala global. Como alerta o renomado climatologista Carlos Nobre, ultrapassar o limite de 1,5°C de aquecimento global imposto pelo Acordo de Paris significa colocar em risco a estabilidade do planeta e provocar o colapso de ecossistemas essenciais para a vida e para os negócios.

No período pré-COP30, embora as dificuldades de oferta de hospedagem em Belém tenham sido destaque no noticiário, as articulações diplomáticas e políticas foram fundamentais para consolidar a verdadeira pauta do evento. A organização da Conferência investiu em múltiplos espaços de diálogo e cooperação, reunindo lideranças políticas, econômicas, sociais e ambientais. Grupos temáticos de alto nível foram criados para fortalecer o engajamento global e setorial, com destaque para iniciativas voltadas à justiça climática, ao financiamento de ações sustentáveis e à valorização de povos e comunidades tradicionais.

Entre os exemplos mais significativos desse movimento estão as lideranças indígenas da Bacia Amazônica e as lideranças femininas, que se articularam para garantir vozes ativas nas negociações e influenciar decisões do evento. As crianças também foram ouvidas por meio de diferentes iniciativas, como a das Escolas Azuis com a Unesco e a Aliança pela Cultura Oceânica — um sinal de que esta COP pode ser considerada uma das mais inclusivas e democráticas da história.

Malu Nunes

Também ganham força nesse evento iniciativas como a Coalizão Corais do Brasil, um movimento multissetorial da sociedade civil que reúne a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, a WWF-Brasil e demais parceiros para proteger, restaurar e valorizar os recifes de coral no Brasil, fortalecendo a resiliência dos ecossistemas marinhos diante da crise climática. Segundo o estudo Oceano sem Mistérios: Desvendando os Recifes de Corais (2023), esse ecossistema gera cerca de R$ 160 bilhões em proteção costeira, especialmente no Nordeste do país.

Outra iniciativa é a Incubadora de Projetos Solução Natureza, que dá suporte técnico a municípios brasileiros para estruturarem projetos urbanos que utilizam a própria natureza e seus ecossistemas para aumentar a resiliência frente a eventos climáticos extremos, aproximando-os de importantes financiadores nacionais e globais.

Precisamos dar visibilidade aos bons projetos, especialmente neste momento em que investidores e financiadores internacionais estão com os olhos voltados para o nosso país. O Brasil tem potencial para se tornar um verdadeiro celeiro de iniciativas capazes de inspirar e serem replicadas em outras partes do mundo, contribuindo para a resiliência climática e o avanço de ações de impacto positivo. Este é o nosso momento e, apenas com organização, cooperação e articulação entre diferentes setores, poderemos transformar o mundo em que vivemos em um lugar mais sustentável e adaptado para as próximas gerações.

*Malu Nunes é diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)

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