Impacto das big techs é ponto cego nas metas climáticas da maioria dos países
Intercept Brasil - Falta de detalhamento da pegada das gigantes da tecnologia, que respondem por até 4% das emissões globais, dificulta ações, diz agência digital da ONU

por Laís Martins, do Intercept Brasil -
Praticamente 90% das metas climáticas apresentadas pelos países para serem discutidas na COP30 citam “tecnologias digitais” como soluções para mitigação e adaptação climática. Mas quase nenhuma delas propõe compromissos para reduzir a própria pegada ambiental da indústria tecnológica, que hoje responde por entre 1,5% e 4% das emissões globais totais de gases do efeito estufa.
Essa falta de detalhamento sobre as emissões produzidas pelo desenvolvimento de tecnologias digitais, que crescem vertiginosamente com os avanços e a popularização da inteligência artificial, dificulta a tomada de medidas de mitigação e adaptação. É como um ponto cego que pode retardar a responsabilização das big techs pelo seu impacto nas mudanças climáticas.
Essa é uma das conclusões de um relatório do International Telecommunications Union, o braço de tecnologia da Organização das Nações Unidas, publicado nesta quarta-feira, 12, durante a COP30. Tecnologia e inteligência artificial foram dois temas escolhidos pela presidência da COP30 para os dois primeiros dias de evento.
Para se ter uma ideia, quatro das gigantes digitais – Amazon, Meta, Microsoft e Google – registraram um aumento médio de 150% em suas emissões indiretas de gases de efeito estufa entre 2020 e 2023, segundo outro relatório da ITU publicado em junho deste ano.
Os países deixam de detalhar as emissões do setor de tecnologia por uma questão metodológica. As NDCs, sigla para “contribuição nacionalmente determinada”, são o instrumento em que países formalizam em quanto – e como – irão reduzir suas emissões. Esse compromisso se dá por setores pré-definidos pelas diretrizes do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática.
Isso significa, por exemplo, que os países apresentam compromissos para reduzir emissões do setor de energia ou indústria, de maneira geral. Mas a falta de segmentação por subáreas dificulta o diagnóstico e a cobrança de medidas específicas de alguns setores, como as big techs.
“Já que eles não estão medindo de maneira separada, não é possível entender, ou eu estou certa de que os países sequer sabem quais são as emissões vindas do setor digital ou de IA especificamente”, disse Ana Fernández, gerente de programas na ITU e uma das autoras do relatório.
Segundo Fernández, as emissões do setor digital podem estar espalhadas pelas outras categorias. O relatório explica que as emissões ligadas à eletricidade para data centers podem estar consideradas na categoria de “energia”, enquanto as emissões resultantes da fabricação de dispositivos e hardware estariam sob a categoria “indústria”.
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Esta reportagem foi produzida por Intercept Brasil, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original em https://www.intercept.com.br/2025/11/16/impacto-das-big-techs-e-ponto-cego-nas-metas-climaticas-da-maioria-dos-paises/
Intercept Brasil/Envolverde





