Depois da tigela: a jornada sustentável do caroço de açaí
Na semana passada, embarquei em uma viagem especial chamada Rota do Resíduo do Caroço de Açaí. Confesso: nunca tinha parado para pensar no destino do caroço depois que a polpa roxa, doce e gelada chega ao meu copo ou à minha tigela.
Reinaldo Canto, especial para a Envolverde* –
Foi nessa jornada que descobri um dado surpreendente: apenas 20% do açaí é polpa . Os outros 80% correspondem ao caroço , que, no passado, era descartado sem qualquer propósito. Ou seja, a maior parte do fruto ficava invisível — e sem destino.
O roteiro começa na Amazônia, onde o açaí é colhido e processado. A polpa segue seu caminho saboroso, e o caroço, antes tratado como lixo, é separado. A partir daí, começa sua segunda vida. Ele passa por uma secagem para perder umidade e ficar pronto para viajar — sim, viajar, porque seu destino pode ser tão distante quanto um forno da Votorantim Cimentos em Primavera, a aproximadamente 194 km da capital Belém.
É aí que descobri um dos usos mais inesperados: combustível. Hoje, o caroço seco se transforma em energia na fábrica da Votorantim localizada em Primavera. Em vez de depender exclusivamente de combustíveis fósseis, a Votorantim Cimentos, com apoio da sua unidade de gestão de resíduos, a Verdera, passou a usar essa biomassa para alimentar seus fornos. É como se aquele caroço que um dia boiou numa tigela de açaí agora contribuísse para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
Mas a rota não termina aí. O caroço também pode se transformar em biofertilizante — na forma de biochar, enriquecendo o solo — ou servir como matéria-prima para cosméticos, filtros de água e outras inovações ainda por vir. Nesse processo, quem colhe e processa o açaí encontra novas fontes de renda, e a Amazônia ganha um aliado valioso na defesa da sustentabilidade.
Enquanto percorria essa rota, refleti sobre o poder simbólico de tudo isso: algo antes invisível, relegado à categoria de “resto”, se transforma em motor de inovação, renda e cuidado com o planeta. É a economia circular demonstrando que nada precisa ter fim — apenas novos começos.
No fim das contas, a Rota do Resíduo do Caroço de Açaí conecta dois mundos: o verde intenso da floresta e o cinza industrial das fábricas de cimento. Um elo improvável, mas que prova que soluções criativas nascem quando olhamos com atenção para o que antes não tinha valor.
E eu, que achava que conhecia o açaí, percebi que ele tem muito mais história para contar do que caberia numa tigela.
*O jornalista viajou ao estado do Pará a convite da Verdera e da Cimentos Votorantim
Envolverde

Reinaldo Canto
LONG BIO Jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente, diretor de projetos especiais do Instituto Envolverde. LONG BIO Jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente, diretor de projetos especiais do Instituto Envolverde. LONG BIO Jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente, diretor de projetos especiais do Instituto Envolverde. LONG BIO Jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente, diretor de projetos especiais do Instituto Envolverde. LONG BIO Jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente, diretor de projetos especiais do Instituto Envolverde.





