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COP30: por que não há solução climática sem conservar o que já existe

Jerônimo Roveda - As decisões recentes que antecederam a COP30, em Belém, recolocaram a natureza no centro da agenda climática global. Na reunião de outubro do Órgão Supervisor do Artigo 6.4, em Bonn, a ONU evitou que as soluções baseadas na natureza fossem deixadas de lado no mecanismo de créditos do Acordo de Paris — uma vitória para a integridade climática e para os países do Sul Global.

Atualizado em 18/11/2025 às 14:11, por Dal Marcondes e Redação Envolverde.

Mesa de noviciações da COP 30 com a presença do presidente Lula

O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) é uma iniciativa encabeçada pelo Brasil para viabilizar pagamentos para países que garantam a conservação das florestas.

* Por Jeronimo Roveda - 

Simultaneamente, o governo brasileiro anunciou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), com potencial para mobilizar bilhões de dólares em pagamentos por resultados de conservação. E, em fóruns públicos, a ministra Marina Silva reafirmou que o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) é um dos instrumentos centrais da estratégia nacional de mitigação.

Esses fatos convergem para uma constatação inequívoca: não há solução climática crível sem conservar o que já existe.

Nos últimos meses, uma narrativa tem ganhado espaço no debate público e em parte da imprensa: a de que o mercado de carbono estaria migrando do REDD+ para projetos de restauração florestal (ARR). Essa oposição é não apenas simplista, mas tecnicamente incorreta.

Toda floresta restaurada precisará, um dia, ser conservada. Portanto, toda iniciativa de ARR se tornará, inevitavelmente, um projeto de conservação — ou seja, de REDD+. Separar conservação e restauração é criar uma falsa dicotomia que desorganiza a agenda climática e ignora o caráter interdependente dos ecossistemas. É preciso conservar o que se restaura.

A conservação é a base de todas as demais soluções baseadas na natureza. É ela que garante a integridade ecológica necessária para que a restauração, a regeneração e a agricultura de baixo carbono sejam sustentáveis no longo prazo.

A urgência do impacto imediato

Enquanto tecnologias de remoção de carbono ainda operam em escala experimental, as florestas tropicais já oferecem resultados tangíveis e mensuráveis. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estima que entre 8 e 13 gigatoneladas de mitigação anual podem vir da natureza nesta década — enquanto a captura industrial de carbono não chega a 0,01 megatonelada por ano.

Em outras palavras, a conservação entrega agora o que as tecnologias prometem para o futuro. E o tempo, no contexto climático, é um recurso não renovável. Ignorar o papel imediato das florestas é um erro estratégico: compromete a estabilidade climática global e adia respostas de mitigação que já poderiam estar em curso.

No Brasil, por exemplo, projetos de conservação evitam milhares de hectares de desmatamento e beneficiam diretamente comunidades locais. São exemplos concretos de como o REDD+ combina mitigação, biodiversidade e inclusão social.

Integridade, financiamento e protagonismo do Sul Global

A decisão de Bonn sobre “permanência” do carbono reforçou uma visão essencial: a credibilidade climática não depende apenas do tipo de metodologia, mas da governança que assegura resultados verificáveis. Como especialistas têm destacado, o que deve ser buscado é integridade baseada em evidências, não confiança baseada em método.

Nesse sentido, o TFFF surge como uma oportunidade histórica. Ao vincular o financiamento climático diretamente aos resultados de conservação, ele reconhece que as florestas tropicais — especialmente as do Sul Global —  e seus fundos não são passivos ambientais, mas ativos estratégicos para a estabilidade do planeta, que não seguem o racional do REDD+, mas se complementam.

O papel do Brasil na COP30

Com a realização da COP30 em Belém, o Brasil tem a oportunidade de transformar décadas de prática em liderança política. Mais do que anfitrião, o país pode se afirmar como a voz da conservação e da equidade climática — articulando os esforços de mitigação com justiça socioambiental e valorização dos biomas tropicais.

O REDD+ não é uma etapa superada: é o alicerce de uma agenda climática consistente, integradora e de resultados imediatos. A COP30 será lembrada não apenas pelas promessas assumidas, mas pelas escolhas que definirem se ainda haverá florestas para sustentar essas promessas. O tempo da conservação é agora.

*Jeronimo Roveda, 47 anos, é diretor de relações institucionais na Carbonext, referência em contratos acessíveis para povos tradicionais, professor em cursos de pós-graduação e autor de diversos artigos sobre ESG, direito ambiental e mercado de carbono. Integrante do Laclima (Latin American Climate Lawyers Initiative for Mobilizing Action), possui LLM Business Law pela Unisinos, com experiência em prevenção de conflitos e criação de soluções jurídicas. Com atuação estratégica em projetos de conservação florestal e carbono – especialmente iniciativas REDD+ junto a comunidades tradicionais e povos originários –, integra proteção ambiental, geração de valor e respeito às culturas locais a estratégias de negócios sustentáveis.