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Casa da Floresta: onde a Amazônia ensina, acolhe e aponta caminhos para o futuro

Reinaldo Canto - Logo nas primeiras horas desta manhã, às margens tranquilas do rio Guamá, tive a oportunidade de visitar a recém-inaugurada Casa da Floresta, uma iniciativa que nasce com a serenidade das águas do Acará, mas com a força de quem pretende fazer diferença no futuro da Amazônia. Estar ali, respirando aquele ar úmido e carregado de vida, não era apenas uma visita técnica: era uma imersão num modo de pensar que insiste em colocar a floresta no centro das soluções — e não na periferia dos debates.

Atualizado em 14/11/2025 às 17:11, por Reinaldo Canto.

Tabileiro de sementes da Amazônia

Por Reinaldo Canto*

Conversei longamente com João Meirelles, diretor do Instituto Peabiru e um dos idealizadores do projeto. Como sempre, ele falava da Amazônia com a naturalidade de quem convive com ela todos os dias e com a urgência de quem sabe que o tempo para salvar seus modos de vida está se esgotando. “A Casa da Floresta é um lugar de encontro e de experimentação”, me disse, sublinhando que o espaço foi concebido não como um centro de visitação tradicional, mas como um organismo vivo, pulsando ciência, cultura, conhecimento tradicional e uma boa dose de criatividade amazônida.

E faz sentido. A iniciativa é fruto da parceria entre o Instituto Peabiru e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), que pela primeira vez desenvolve uma ação estruturada dentro da Amazônia paraense. Localizada a poucos minutos de Belém, no município do Acará, a Casa da Floresta se apresenta como um centro de referência em tecnologias sociais, conectando de forma harmônica extensão universitária, pesquisa e inovação territorial.

É também uma forma de a Unesp ampliar seus horizontes. A instituição, que historicamente se projeta a partir de seus campi no Sudeste, agora coloca um pé firme — e humilde — no bioma amazônico. É a primeira iniciativa concreta de uma estratégia mais ampla de desenvolver experiências integradas em diferentes biomas brasileiros, ouvindo mais, impondo menos, aprendendo com quem já sabe.

O que vi por lá confirma essa proposta. A Casa da Floresta promove o diálogo entre floresta, ciência e comunidade, estabelecendo um espaço onde cada elemento tem o seu valor. Ali, tecnologias sociais e soluções acessíveis estão não apenas expostas, mas funcionando e sendo aprimoradas diariamente: sistemas de captação de água da chuva, saneamento básico de baixo custo, energia solar, meliponicultura, manejo agroflorestal e outras iniciativas que ajudam a fortalecer o protagonismo comunitário e o respeito aos saberes tradicionais.

Passeando pelo espaço, fica evidente que o projeto não quer “levar” desenvolvimento para a comunidade — quer desenvolver com a comunidade. E essa diferença é enorme. Meirelles reforça que a floresta é o ponto de partida, mas são as pessoas, seus conhecimentos e seus modos de vida que dão sentido à Casa.

Em um momento em que a COP30 atrai para Belém discussões globais sobre clima, transição ecológica e emergência ambiental, a Casa da Floresta oferece um contraponto poderoso. Enquanto o mundo debate a Amazônia a partir de auditórios climatizados e painéis tecnológicos, ali se propõe o inverso: pensar o futuro a partir do território, de dentro da própria floresta, ouvindo e respeitando quem vive nela e com ela.

 

Se há um recado que esse espaço transmite — e que carrega a marca do Peabiru e a mão firme da Unesp — é que a Amazônia não precisa apenas ser defendida; ela precisa ser compreendida, vivida e apreendida. E isso só acontece quando ciência e tradição caminham juntas.

A Casa da Floresta nasce pequena em tamanho, mas imensa em significado. E quem chega ali, como eu cheguei hoje cedo, sai um pouco diferente: com a certeza de que o futuro da Amazônia não se escreve apenas com políticas públicas ou grandes pactos, mas com iniciativas como essa, onde a floresta é mestra e a comunidade, protagonista.

Envolverde