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Vigiando o império do ar

Aviões não tripulados, dos EUA

Washington, Estados Unidos, 22/6/2012 – Os aviões não tripulados geraram antipatia em todo o mundo, salvo no país que recorre a essa tecnologia com regularidade: os Estados Unidos. Um estudo do centro de pesquisas Pew indica que 62% dos entrevistados aprovaram seu uso e apenas 28% foram contra.

Segundo Nick Turse e Tom Engelhardt escreveram em seu aterrador livro Terminator Planet, os aviões não tripulados são parte da excepcionalidade norte-americana. Foram introduzidos no final da década de 1990 para realizar operações de vigilância no conflito de Kosovo, e em seguida se tornaram um importante elemento do domínio aéreo norte-americano. Como afirmam os dois autores, mesmo antes da introdução dessa tecnologia, a superioridade aérea dos Estados Unidos era tal que o secretário da Defesa, Robert Gates, pôde dizer em um discurso feito em 2011 que este país não perdeu nem um avião e nem um soldado em ataques inimigos em 40 anos.

Com a persistente crise econômica pressionando sobre a redução de gastos do Departamento da Defesa, esta tecnologia se tornou um método de baixo custo para preservar o domínio militar e o status do país como única superpotência mundial. Como disse Engelhardt, os aviões não tripulados são parte integral da “preservação do império, com poucos recursos e furtividade”, por intermédio da CIA (Agência Central de Inteligência).

Porém, a tecnologia também teve um papel crucial ao estender a tradição de excepcionalidade norte-americana. O governo de Barack Obama, que herdou o programa antiterrorista de seu antecessor, ampliou o uso de aviões não tripulados para matar dirigentes da rede extremista Al Qaeda e líderes do movimento islâmico afegão Talibã. “Não mais guarda-chuva com ponta envenenada, como em antigas operações da KGB, nem cigarros tóxicos, com nas da CIA, agora que os assassinatos passaram para o céu como atividade cotidiana ao longo do ano”, escreveu Engelhardt. KGB é o acrônimo da agência de inteligência da antiga União Soviética.

Os Estados Unidos se atribuíram o direito de cometer esses assassinatos fora de zonas de guerra diante da opinião pública, de informes da Organização das Nações Unidas (ONU) e do direito internacional. Na coleção de ensaios que originalmente apareceram no site TomDispatch, Nick Turse oferece uma cartografia integral do novo mundo de aviões não tripulados criado pelo Pentágono e pela CIA. Os dispositivos chamados Reapers, Predators e Global Hawks decolam da base aérea de Al-Udeid, no Catar, de Incirlik, na Turquia, e de Sigonella, na Itália, e também de outros lugares novos em Djibuti, Etiópia, Seychelles, Afeganistão, e inclusive outros na Ásia.

O exército depende cada vez mais desta tecnologia. Um em cada três aviões militares são robôs. Em 2004, os Reapers voaram 71 horas. Em 2006, esse número subiu para 3.123, e em 2009 o tempo de voo chegou a 25.391 horas. Os aviões não tripulados surgem como uma alternativa atrativa com a força de terra atada às operações no Afeganistão, com os movimentos contra as bases questionando as grandes concentrações de soldados norte-americanos no estrangeiro, e com os políticos de Washington tentando desesperadamente reduzir o orçamento nacional.

“Caminhamos para um deslocamento maior da guerra para coisas que não podem protestar, não podem voar com seus pés (ou asas) e para os quais não há ‘frente interna’ e nem mesmo lar”, afirma Engelhardt. A antipatia mundial por esses aviões procede em grande parte de sua falibilidade. Os pilotos e os vigilantes cometem vários erros, vendo imagens a partir da segurança das bases dos Estados Unidos, e acabam matando muitos civis, centenas deles só no Paquistão, entre os quais cerca de 200 crianças.

Até agora, os cidadãos norte-americanos estão imunes a essas consequências, pois o governo de Obama lhes garantiu que tais dispositivos extirpam o câncer mediante um processo cirúrgico que deixa são o tecido em volta. Além disso, os Estados Unidos continuam mantendo uma grande vantagem tecnológica na pesquisa e no desenvolvimento destes dispositivos. O risco de ataques contra seu território continua sendo baixo, embora o governo de George W. Bush tenha justificado seu ataque contra o Iraque, em parte, dizendo que o presidente Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa que poderia utilizar contra os Estados Unidos empregando aviões não tripulados.

Entretanto, os ataques com esta tecnologia geraram um enorme sentimento antinorte-americano, como indica a pesquisa Pew. O frustrado atentado em 2010 em Times Square, em Nova York, esteve motivado, em parte, por ataques com aviões não tripulados no Paquistão. Além disso, países como Israel, Rússia, China e inclusive o Irã entraram no negócio. É uma questão de tempo até os Estados Unidos perderem seu domínio no mercado. Envolverde/IPS