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Venezuela elege presidente sob a onipresente sombra de Chávez

Nicolás Maduro e Henrique Capriles se preparam para a hora da verdade. Foto: Comandos de campanha dos candidatos

 

Caracas, Venezuela, 12/4/2013 – Os eleitores venezuelanos voltarão às urnas no dia 14, para eleger o sucessor do falecido presidente Hugo Chávez. A opção está entre seu herdeiro político e favorito nas pesquisas, o esquerdista Nicolás Maduro, e o líder de uma oposição com força renovada, o centrista Henrique Capriles.

Nestas eleições que abrirão a era pós-Chávez, os 18,8 milhões de venezuelanos aptos a votar deverão escolher entre dar continuidade ao projeto identificado como “socialismo do século 21”, que agora Maduro lidera, ou apoiar a fórmula que Capriles anuncia como “progresso” econômico e social. Neste cenário, a campanha eleitoral foi dominada pela figura de Chávez e a poderosa onda emotiva causada pelo sua morte em 5 de março, 21 meses após ter diagnosticado câncer no abdômen.

Maduro foi chanceler entre 2006 e 2012, vice-presidente desde outubro passado e, em março, quando Chávez viajou a Cuba para tratamento, assumiu a Presidência. O candidato do governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) “não teve tempo para construir imagem e liderança próprias, se mesclou ao legado, e seu estilo é uma espécie de cópia do que tinha seu líder desaparecido”, disse à IPS a especialista em comunicação política Mariana Bacalao.

O analista Manuel Malaver, de tendência opositora, afirmou: “a contenda ocorre entre um governo muito poderoso com um péssimo candidato e uma oposição fraca com um excelente candidato. Creio que se a campanha fosse mais longa, Capriles poderia perfeitamente ganhar de Maduro, mas o curto tempo favorece muito este último”. O especialista político Nicmer Evans, afinado com o governo, disse que “há três atores na cena política: Maduro, Capriles e também Chávez, que de maneira transversal continua sendo o candidato principal nestas eleições, pois o que se debate é se aceita-se, ou não, o que propôs ao país”.

Chávez venceu as eleições de outubro para um novo mandato presidencial até 2019, com quase 8,2 milhões de votos, equivalentes a 55% dos votos emitidos. Seu principal competidor, o mesmo Capriles, candidato da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), obteve 6,6 milhões de votos, ou 44,3% do total.

A Constituição do país determina que em caso de falecimento do presidente nos primeiros quatro anos de mandato a população deve ser convocada para, em 30 dias, eleger seu substituto. Essa obrigação deixou apenas dez dias aos candidatos para uma campanha de norte a sul e leste a oeste neste país de 916 mil quilômetros quadrados, 24 Estados, 333 municípios e 30 milhões de habitantes.

Tanto Maduro quanto Capriles se deslocaram em velocidade de um extremo a outro do país, visitando até três cidades em um só dia, para galvanizar, em primeiro lugar e sobretudo, o eleitorado fiel que se manifesta em um contexto de polarização. Os candidatos atraem concentrações iguais ou maiores do que as da campanha de 2012, o que faz prever que ocorra novamente uma alta participação dos eleitores, embora especialistas indiquem que não se chegará aos 81% registrados em outubro, um recorde neste país onde o voto não é obrigatório.

“Se Capriles aumentar um pouco sua votação e parte do eleitorado chavista se abstiver (estudos indicam que um em cada quatro não quer Maduro), a opção para a oposição é muito real”, disse a correspondentes estrangeiros, ao iniciar a campanha, o seu coordenador, Carlos Ocariz.

Todas as pesquisas conhecidas até o último fim de semana, com estudos feitos em março, indicam que Maduro obtém a maior quantidade de adesões, em um faixa entre sete e 18 pontos percentuais de diferença para Capriles. “Nenhum de nossos cenários contempla uma possível vitória de Capriles” afirmaram à IPS os pesquisadores Germán Campos da Consultores 30.11, e Jesse Chacón, da GIS XXI.

Cerca de 57% dos entrevistados pela Consultores 30.11 disseram que votariam em Maduro, enquanto a pesquisa da GIS XXI conclui que pode se repetir o resultado de outubro, de 55% a 44%. As empresas de pesquisa mais tradicionais, como a IVAD e a Datanálise, também mostraram, após seus estudos de março, uma cômoda vantagem de Maduro, mas, como outros, descartaram informar sobre novas consultas uma vez iniciada a campanha. A lei eleitoral proíbe divulgar pesquisas na semana que antecede as eleições.

Horas antes de entrar em vigor essa proibição, as firmas Datincorp e Datamatica observaram um avanço de Capriles, com tendência a um cruzamento da linha ascendente ao seu favor com a descendente do candidato oficialista, segundo seus responsáveis. A brecha Maduro-Capriles registrada por alguns institutos tradicionais caiu para a metade cinco dias antes das eleições, segundo dados aos quais a IPS teve acesso.

Os dois candidatos, pela curta campanha, se comportaram com grande contundência diante do rival, acentuando a aguda polarização que marca a política na Venezuela desde que Chávez ganhou pela primeira vez a Presidência, em 1998.

“Caprichinho, burguesinho”, diz Maduro sobre seu rival. “Mentira fresca”, responde o adversário, em meio à troca de ofensas, críticas ao arbitral Conselho Eleitoral e apelos à população para permanecer alerta para supostas armadilhas e supostos planos de desconhecer os resultados por parte do perdedor.

Maduro, de 50 anos, ex-motorista de ônibus e casado com a também dirigente do PSUV Cilia Flores, caçoa da solteirice de Capriles, de 40 anos, enquanto este último ri das falhas do outro em geografia venezuelana e de sua afirmação de que uma manhã sentiu a presença de Chávez graças a um pequeno pássaro.

“É lamentável a linguagem que os dois principais candidatos à Presidência estão usando. Apostando na polarização que tanto dano causa”, lamentou Marino Alvarado, da organização humanitária Provea. “Em um país sacudido pela violência por todos os cantos, temos uma direção política que não dá o bom exemplo. Uma linguagem que em nada contribui para a concórdia e a solução pacífica dos conflitos”, afirmou à IPS.

“Oxalá a vitória de quem triunfar seja clara, não por uma diferença mínima, para benefício da tranquilidade do país”, disse o analista Jesús Seguías, da Datincorp. Por seu lado, Chacón afirmou que “se a diferença for muito grande, o governo de Maduro poderá ter um começo mais cômodo, porque tem o desafio de ser mais eficiente ou o povo começará a cobrança”, enquanto na oposição haveria uma reacomodação.

Para Malaver, “se o resultado for apertado, apesar de ganhar o oficialismo, permanecerá o estado de confronto, como se esta eleição fosse um primeiro round à espera de um definitivo, pois a parte do país que não aceitou a política de concentração de poder, militarista e o estadismo de Chávez menos ainda aceitará isso de Maduro. Envolverde/IPS