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Vazamento ameaça ecossistemas em Papua Nova Guiné

O vazamento ameaça ecossistemas marinhos de Papua Nova Guiné. Foto: Mauricio Ramos/IPS

Sydney, Austrália, 14/1/2013 – Os arrecifes de coral e os ecossistemas marinhos da província de Milne Bay, no sudeste de Papua Nova Guiné, correm sério risco de um dano ambiental no longo prazo. As razões: o vazamento de combustível de um navio que encalhou no Natal em um arrecife da ilha Kwaiawata e a demora das autoridades em mobilizar uma adequada resposta ao acidente.

“A área tem algumas das correntes mais rápidas do mundo, e esta demora aumentou as probabilidades de o combustível se espalhar além da embarcação”, disse à IPS o professor de ciências ambientais na Universidade de Papua Nova Guiné, Chalapan Kaluwin. “É muito cedo para avaliar o alcance do dano, mas existem ecossistemas frágeis nesta área, e o impacto nos arrecifes, na vida marinha e nos recursos marinhos dos quais dependem as comunidades da ilha provavelmente será de longo prazo”, alertou.

O navio frigorífico japonês MV Asian Lily, de 136 metros de comprimento, passava sem carga por Milne Bay, província formada por 160 ilhas, em sua rota desde a Nova Zelândia, quando ocorreu o acidente. O governador de Milne Bay, Titus Philemon, só foi informado do corrido pelos moradores vários dias depois de o barco ter encalhado.

Nurur Rahman, gerente executivo de Operações Marinhas na Autoridade Nacional de Segurança Marinha (NMSA), disse à IPS que o combustível, que vazou de um dos tanques do navio, se espalhou por cerca de 115 quilômetros da costa da ilha. Kwaiawata, com não mais de três quilômetros de comprimento e localizada no distrito de Samarai Murua, ao norte do estreito de Jomard, um corredor marítimo de intenso movimento, tem uma população de aproximadamente 200 pessoas.

Henry Vailasi, administrador provincial de Milne Bay, disse que não havia aldeias no lugar do acidente, mas ressaltou que o vazamento afetará toda a linha costeira da ilha. Milne Bay contém uma grande diversidade de vida marinha, incluindo mais de mil espécies de peixes, 630 de moluscos e 360 de coral rochoso, bem como algas marinhas e mangues. Os ecossistemas são vitais para a subsistência das comunidades locais, pois lhes garantem alimento e proteção na costa. Das famílias no distrito de Samarai Murua, 70% dependem da pesca e de outros recursos para sua subsistência.

Em uma declaração pública, a NMSA informou que um rebocador estava no lugar do acidente desde 27 de dezembro, e que uma equipe de especialistas subiu a bordo do MV Asian Lily acompanhada de sua tripulação. Representantes dos proprietários da embarcação se reuniram com moradores da ilha para analisar a situação, encontro que, provavelmente, será seguido por consultas entre autoridades nacionais e provinciais com as comunidades afetadas.

Um porta-voz da companhia Pacific Towing PNG Ltd., que trabalha para resgatar o navio, informou que o vazamento de combustível foi contido e que era avaliada a extensão dos danos. No dia 5, a Federação Internacional Anticontaminação de Armadores de Navios-Tanque, que vem assessorando o governo de Papua Nova Guiné sobre a melhor forma de conter o vazamento, apresentou uma proposta de limpeza.

Milne Bay apresenta sérios desafios de navegação para os barcos internacionais, incluindo seus densos sistemas de arrecifes. Pelo estreito de Jomard, que liga os mares de Coral e de Salomão, passam por ano mais de mil embarcações. O estreito é fundamental para o comércio entre Austrália e Ásia. Nos últimos anos houve vários problemas marítimos na área. Em 2006, o navio cargueiro Zhi Qiang, com 40 mil toneladas de açúcar não refinado, encalhou em um arrecife do arquipélago de Louisiade durante uma viagem entre a Austrália e a península da Coreia, liberando uma grande quantidade de carga e combustível no mar.

Vailasi disse à IPS que o governo da província está seriamente preocupado com a qualidade da informação e da assessoria oferecida aos navios quando passam pelo estreito de Jomard. “Este barco não tinha um prático a bordo quando encalhou. Queremos que a região passe a ser uma área em que seja obrigatória a presença de práticos, e já pedimos à NMSA que nos auxilie sobre como conseguir isso”, acrescentou. “Este é um alerta para o governo e para os proprietários de navios”, ressaltou Kaluwin. “Existe um plano de contingência regional em caso de vazamentos”, mas Papua Nova Guiné ainda deve realizar o seu, acrescentou.

Um estudo sobre riscos de contaminação marítima em Papua Nova Guiné, feito em conjunto por NMSA e Papua Nova Guiné Ports Corporation, em associação com vários conselheiros internacionais, concluiu que as leis do país devem ser atualizadas, pois devem acompanhar as convenções da Organização Marítima Internacional. O informe também alerta que, enquanto não forem aprovados e sancionados cinco projetos de lei redigidos pela NMSA, os poderes do governo para prevenir e conter qualquer tipo de contaminação marítima continuarão sendo limitados. Envolverde/IPS