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Unesco amplifica o rádio

Mirta Lourenço, da Unesco, mostra o pôster de uma rádio de mulheres. Foto: A. D. McKenzie/IPS

Paris, França, 16/11/2011 – O desaparecimento do rádio é apregoado desde que a televisão se popularizou nos anos 1950, mas não só conseguiu adaptar-se à competição como foi se transformando para ser uma ferramenta cada vez mais necessária para o desenvolvimento, segundo especialistas. “O rádio é barato, portátil e tem enorme potencial de crescimento local e nacional”, afirmou Mirta Lourenço, chefe de desenvolvimento da comunicação na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Esta agência aprovou, na semana passada, proposta da Espanha para proclamar 13 de fevereiro Dia Mundial do Rádio, a ser comemorado de diferentes formas nos seus 194 Estados-membros. “O objetivo é promover o rádio comunitário e celebrar o serviço que oferece. Existe a sensação de que não foi reconhecido pelas muitas funções que realiza para a humanidade”, disse Mirta à IPS.

Durante a Conferência Geral da Unesco de duas semanas, que terminou no dia 10, os Estados-membros acordaram objetivos para aumentar a conscientização sobre a permanente relevância do rádio, especialmente para “setores marginalizados”, e impulsionar organizações comunitárias e indígenas a criarem novos canais.

Cerca de um bilhão de pessoas, uma em cada sete no mundo, não tem acesso a esse meio de informação e comunicação, segundo a Unesco. “Necessitamos expandir o acesso ao rádio porque, de certa forma, é inadiável. Uma vez que se compra o aparelho, ele é seu por toda a vida e faz uma grande diferença, especialmente para comunidades rurais”, afirmou a funcionária da Unesco.

Também se aproveitará o Dia Mundial do Rádio para destacar a necessidade de “potencializar o direito da sociedade civil à comunicação”, disse a agência. Além disso, permitirá “melhorar a interconexão entre comunicadores” e promover os direitos humanos e civis. O rádio foi usado com fins negativos, como a propaganda realizada durante as duas guerras mundiais, e para incitar a violência, como no genocídio de Ruanda em 1994. Entretanto, também tem um papel específico em situações de emergência e desastres, entre outras situações.

A Unesco criou um programa, com apoio da Suécia, para promover o uso do rádio em zonas rurais da África e produzir programas de qualidade sobre assuntos de interesse local, como questões sobre agricultura e saúde. A iniciativa incluirá emissoras dirigidas por camponesas e programas educativos sobre o uso de novas tecnologias da comunicação, como as mensagens de texto em massa aos quais os usuários poderão responder com mais consultas ou comentários.

“De acordo com minha experiência em muitos países em desenvolvimento, o rádio costuma ser a forma mais barata de comunicação para muitas pessoas que não têm dinheiro para comprar jornal ou um televisor”, disse Jamion Knight, jornalista que trabalhou na região do Caribe. O rádio “permite receber informação sobre o que acontece na comunidade e também no resto do mundo, e as pessoas podem compartilhar informação, que é uma poderosa ferramenta”, acrescentou.

Jamion utilizou o rádio para tratar de temas como depressão pós-parto, uma condição que não é muito discutida pelos meios de comunicação em geral, no Caribe. Informações como esta oferecem às mulheres a possibilidade de compreenderem seus sentimentos, explicou. O rádio também é um meio útil para reabilitar delinquentes, segundo a Unesco. Um dos projetos foi a criação de uma rádio carcerária na Jamaica, a primeira experiência desse tipo na região.

Tanto o pessoal penitenciário como os presos receberam treinamento para produzir e transmitir programas no contexto de um projeto da Unesco e da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (Cida). Um dos objetivos foi preparar os detentos para se reintegrarem à sociedade. No entanto, ainda não se sabe se esse e outros projetos da Unesco poderão ser mantidos devido à crise financeira atual que a agência enfrenta.

No encerramento da Conferência, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, fez um pedido urgente de doações para paliar a escassez de recursos pela decisão dos Estados Unidos de suspender sua contribuição em represália à incorporação da Palestina como membro pleno, no dia 31 de outubro. Essa decisão de Washington, justificada por duas leis da década de 1990, deixa a Unesco com um déficit imediato de US$ 65 milhões até o final deste ano e um vazio de 22%, ou US$ 653 milhões, para seu orçamento 2012-2013.

A urgência do assunto fez com que a agência já começasse uma exaustiva revisão de suas atividades planejadas para novembro de dezembro, informou Irina . “Interrompi temporariamente algumas atividades para revisar os custos”, explicou. O governo do Gabão anunciou uma doação de US$ 2 milhões, e a Unesco criou um site na internet para receber doações individuais.

A data escolhida para Dia Mundial do Rádio, que comemora a criação da rádio da ONU em 1946, foi proposta por Irina depois que vários países sugeriram datas vinculadas a promotores locais desse meio de comunicação. Entre os pioneiros está o norte-americano-canadense Reginald Fessenden, nascido em 6 de outubro de 1886, “inventor” da radiotransmissão da voz humana, e o italiano Guglielmo Marconi, a quem se atribui a primeira transmissão sem fio em código morse no dia 27 de julho de 1896.

Também foi proposto 30 de outubro, porque nesse dia de 1938 Orson Welles transmitiu nos Estados Unidos a obra adaptada para o rádio “A guerra dos mundos”, quando a audiência entrou em pânico acreditando que os marcianos realmente invadiam a Terra. Esta transmissão mostrou o poder do rádio e o impacto que podia ter nas comunidades. Ao declarar um Dia Mundial do Rádio, a Unesco pretende ressaltar e promover suas possibilidades para o desenvolvimento da mudança social. Envolverde/IPS