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Tomando Wall Street de assalto

Centenas de todos os lugares do país se somaram ao movimento Occupy Wall Street em Bajo Manhattan. Foto: Christian Papesch/IPS.

Nova York, Estados Unidos, 3/10/2011 – O pouco movimentado Parque Zucotti del Bajo Manhattan costuma ser lugar de espairecer para os financistas de Wall Street na hora do almoço. Contudo, há algumas semanas, se transformou em acampamento de centenas de manifestantes do movimento Occupy Wall Street. Desde 17 de setembro, manifestantes de todo o país se somam ao movimento que questiona as injustiças do sistema capitalista e reclama mais democracia e liberdades individuais.

A base está instalada diante da Liberty Plaza, onde fica o quartel-general da Nasdaq (National Association of Securities Dealers Automated Quotation), a bolsa de valores eletrônica, e onde funciona o escritório da companhia para o desenvolvimento de Bajo Manhattan, encarregada da construção da área devastada pelo ataque de 11 de setembro de 2001. “Isto é um renascimento democrático”, afirmou, no dia 27 de setembro, a vários jornalistas o ativista e professor da Universidade de Princeton, Cornel West, antes de se dirigir a cerca de dois mil manifestantes que realizavam uma assembleia geral da Occupy Wall Street (Ocupemos Wall Street).

A convocação inicial do protesto foi feita em junho por dois grupos de ativistas sociais, hackers e artistas: Adbusters e Anonymous. “Tentamos construir a comunidade e a cultura que gostaríamos de ver no mundo”, explicou Isham Christie, estudante de filosofia e de teoria do cinema do centro de graduados da City University of New York e um dos organizadores da manifestação. Para ele, trata-se de “uma luta por um mundo mais justo”.

Christie disse à IPS que “as pessoas alijadas da sociedade de consumo, ou que não têm trabalho, ou moradia, podem vir e receber apoio. Tentamos criar uma alternativa à sociedade capitalista, exploradora e opressiva em que vivemos”. “Se a única verdadeira guerra fosse a guerra à pobreza, então colocaríamos dinheiro nela”, dizia um cartaz que Cornel West ergueu na manifestação. O professor destacou a diversidade dos presentes. “É sublime ver todos os diversos gêneros, cores e orientações sexuais, e todas as culturas diferentes nesta Liberty Plaza”, destacou.

Outro manifestante, Gaye Ajoy, nascido na Turquia, disse à IPS que “gostaria que mudasse toda a estrutura social, as ideias de capitalismo e distribuição da riqueza. Gostaria de ver uma mudança para algo que realmente honre o verdadeiro povo. Estou contra 1% da população ser proprietária do país inteiro, não importando ninguém mais”. Ajoy acredita que os pontos de vista de seus companheiros se assemelham às ideias do movimento contracultural de 1960 e 1970, de ativistas como Martin Luther King Jr. ou Gloria Steinam.

Comparado com a estrutura elitista dos bancos e das empresas aos quais se opõe, o Occupy Wall Street não tem hierarquias. Todos podem falar e participar das discussões e, portanto, qualquer um pode assumir uma responsabilidade ou rejeitá-la. Brian Phillips, de 25 anos e consultor do Google do Estado de Washington, chegou a Nova York há alguns dias e já é o diretor de comunicações do protesto. Como muitos outros, renunciou à sua vida anterior para participar do movimento.

“Era diretor comunitário em meu Estado, lidava com um complexo de US$ 4 milhões. Renunciei ao meu emprego para estar aqui e ajudar essa gente”, declarou à IPS. A comunicação, interna e externa, é chave para estes protestos. Por meio de sites, câmeras web, Twitter e transmissões ao vivo, o Occupy Wall Street se conecta com outros movimentos nacionais e internacionais. “É muito, muito importante estarmos conectados à internet. Precisamos que o mundo veja e saiba o que estamos fazendo”, disse Phillips.

“Por transmitirmos do Occupy Wall Street, que é o quartel-general da revolução, temos outras dez cidades que começam a ser ocupadas, como Boston, Chicago, Los Angeles, Austin, Charlotte. Há um monte de lugares aderindo. O movimento está crescendo mais rápido do que esperávamos”, acrescentou o ativista.

O movimento também atrai as mídias locais e internacionais graças ao crescente apoio de figuras conhecidas, como o linguista Noam Chomsky e o raper Immortal Technique. O fato de a polícia novaiorquina prender cerca de 80 pessoas em uma marcha não autorizada rumo à sede das Nações Unidas também atraiu a imprensa. “As empresas jornalísticas, NBC, MSN, todas essas, não vão informar sobre nós, não vão dizer a verdade”, disse Phillips à IPS.

Quem queria saber o que realmente acontecia no Parque Zucotti era Bettina Schröder, da cidade alemã de Colonia, que leu sobre o movimento na internet em visita a Nova York. “Sabíamos que acontecia algo, e viemos ver. Pensávamos que era menor, é bom ver que há muita gente. Espero que sejam mais e mais. Está só começando”, disse Schröder. Seu noivo, Martin Peutsch, estava especialmente satisfeito com o local escolhido.

“Wall Street é o lugar correto. Muitos norte-americanos sofrem muito com a crise bancária”, disse Peutsch à IPS. “É hora de mobilizar a resistência e mostrar aos bancos dos Estados Unidos que não podem fazer o que querem e nada acontecer”, disse Schröder, que também destacou o aspecto internacional do movimento, afirmando que “há muitos outros em vários países diferentes. As pessoas estão falando, e é realmente bom”.

O professor West comparou o “outono norte-americano” com a Primavera Árabe e previu que o Occuppy Wall Street terá longa vida, desde que os manifestantes se mantenham firmes. “Devemos manter o impulso, porque é impossível traduzir a questão da cobiça de Wall Street em uma ou duas reclamações”, afirmou. “Definitivamente, estamos falando do que Martin Luther King chamaria de revolução – uma transferência de poder dos oligarcas para as pessoas comuns de todas as cores – e é um processo gradual, democrático, não violento. Porém, é uma revolução”, acrescentou West. Envolverde/IPS