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Sudão acusa Israel de atacar fábrica e promete represália

Doha, Catar, 25/10/2012 – O Sudão acusou Israel de bombardear uma fábrica de armamento militar em Cartum e ameaçou com represálias depois que duas pessoas morreram e outra ficou ferida no ataque. “Cremos que Israel realizou o bombardeio”, declarou o ministro de Cultura e Informação sudanês, Ahmed Bilal Osman, em entrevista coletiva. “Nos reservamos o direito de responder no momento e no lugar que escolhermos”, advertiu.

Osman disse que quatro aviões “invisíveis ao radar” participaram do ataque, ocorrido por volta da meia-noite local do dia 23, às instalações de produção militar de Yarmouk, no sul de Cartum. As forças sudanesas demoraram várias horas para apagar o fogo. Entre os restos de explosivos, foi encontrada evidência que aponta contra Israel, segundo Osman.

Harriet Martin, correspondente da Al Jazeera em Cartum, informou que, embora não tenham sido divulgadas as supostas evidências da responsabilidade israelense, declarações de testemunhas sugerem que as explosões aconteceram em razão de um ataque aéreo. “Há numerosos depoimentos de testemunhas dizendo que passou um avião e depois houve uma grande explosão branca”, contou Martin. “Esses depoimentos vêm de diferentes fontes, e também de gente que conheço. Assim, parece que algo aconteceu antes desta fábrica de munições pegar fogo”, disse a correspondente.

De uma distância de vários quilômetros podia-se ver o fogo, que atingiu uma ampla área, com grossas colunas de fumaça e rajadas intermitentes. “Ouvi um som como o de um avião, mas não vi nenhuma luz. Depois escutei as explosões e começou o incêndio no complexo”, disse um residente à agência de notícias AFP, que se identificou apenas como Faize.

Uma mulher que vive ao sul do complexo também contou ter visto duas explosões que desataram o incêndio. “Vi um avião que seguia de leste para oeste e ouvi explosões, com pouco tempo entre uma e outra”, contou. “Em seguida vi fogo, e a casa de nosso vizinho foi atingida por metralhadora, que causou danos menores. As janelas da minha casa foram sacudidas com a segunda explosão”.

A fábrica de Yarmouk é cercada por alambrados e localizada a cerca de dois quilômetros da principal estrada do distrito. Porém, pelo menos três casas na região receberam tiros de metralhadora, que deixaram paredes e muros com buracos de cerca de 20 centímetros de diâmetro, informou a AFP. Também houve danos menores em um depósito da Coca-Cola.

Osman informou que em Yarmouk são fabricadas “armas tradicionais. O ataque destruiu parte da infraestrutura do complexo, matou duas pessoas dentro e feriu outra, que está em estado grave”. Autoridades militares e da chancelaria de Israel, que há tempos acusam Cartum de abrigar membros do grupo palestino Hamás (Movimento de Resistência Islâmica), disseram à Al Jazeera que não tinham comentários a fazer sobre a acusação.

Em 2009, um comboio que transportava armas no nordeste do Sudão foi atacado pelo ar, morrendo dezenas de pessoas. Na época se especulou que Israel realizara a ofensiva, pois se suspeitava que esse armamento seria entregue a grupos palestinos na Faixa de Gaza. Israel nunca confirmou nem negou o ataque, enquanto parlamentares sudaneses rechaçaram a denúncia de transporte de armas nessa área.

Em 1998, a organização Human Rights Watch informou que uma coalizão de grupos opositores sudaneses denunciara o governo de seu país por abrigar em Yarmouk armas químicas que seriam enviadas ao Iraque, mas funcionários do governo de Cartum negaram esta acusação.

Em agosto desse ano, mísseis de cruzeiro dos Estados Unidos atingiram a central farmacêutica de Al Shifa, no norte de Cartum, que, segundo Washington, estava ligada à fabricação de armas químicas. Mais tarde foi questionada a evidência apresentada para essa acusação. Cartum tenta fazer com que Washington levante as sanções que lhe impôs em 1997 por supostamente apoiar o terrorismo internacional e por seu histórico em relação aos direitos humanos. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.