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Sendai compartilha lições de gestão de desastres

Keiko Shoji (esquerda) dá aula de costura para mulheres afetadas pelos terremoto e tsunami de 2011. Foto: Suvendrini Kakuchi/IPS

 

Tóquio, Japão, 15/10/2012 – Os restos da devastada escola primária de Arahama, no município de Sendai, ensinaram algumas lições ao seu diretor, Takao Kawamura, nos meses seguintes à tragédia causada pelo forte terremoto e consequente tsunami que, no dia 11 de março de 2011, atingiram o nordeste do Japão. A primeira é que sobrevivemos à horrível tragédia simplesmente porque estávamos preparados para o desastre; a outra é o importante desafio que enfrentamos agora, explicou Kawamura.

“Temos o compromisso de nos preparar melhor para o próximo desastre, aprendendo com os erros daquele dia fatídico”, destacou o professor ao falar para um grupo de especialistas em desenvolvimento que visitou a região na semana passada, por ocasião da reunião conjunta de governadores do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que aconteceu na semana passada em Tóquio.

Nas reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial participam diretores de bancos centrais, ministros da Economia ou da Fazenda e Desenvolvimento, executivos de corporações privadas e acadêmicos para debater sobre diferentes temas da atualidade, como as perspectivas econômicas mundiais, erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico e a eficácia da ajuda.

Kawamura compartilhou suas ideias com os visitantes no teto da abandonada escola, onde então aterrissou o helicóptero de resgate, enquanto ele ordenava à equipe de professores que protegessem a vida das crianças que ficaram ilhadas após o tsunami de ondas com dez metros de altura que destruiu o restante do prédio. Experiências como a da comunidade de Kawamura mostram a necessidade de o governo japonês e o Banco Mundial colocarem a gestão do risco de desastre na agenda de desenvolvimento de Sendai, capital da província de Miyagi.

A visita dos especialistas internacionais faz parte do Diálogo de Sendai, no qual representantes de organismos multilaterais de crédito, de governos nacionais e locais, do setor privado e da sociedade civil reuniram-se por dois dias para troca de ideias sobre como fortalecer o compromisso internacional para mitigar o impacto de desastres no mundo. O encontro também destacou o interesse colocado na gestão e prevenção de desastres nas reuniões do FMI e do Banco Mundial.

“Aprendemos muitas lições com o desastre, que se refletem no papel do governo da cidade na preparação com vistas a esses fenômenos”, disse a prefeita de Sendai, Emiko Okuyama, em seu discurso de abertura do Diálogo. “Com base em uma política de mitigação, assumimos um enfoque integral que inclui a implantação de múltiplas salvaguardas e a criação de uma nova política ambiental com medidas energéticas”, acrescentou.

Em Sendai, com 1,6 milhão de habitantes e porta de entrada para o nordeste do Japão, morreram 891 pessoas no terremoto. Não é menor, mas a quantidade de vítimas diminuiu consideravelmente graças aos rígidos códigos de construção para resistir a tremores de terra. Por certo, as histórias dos sobreviventes respondem à necessidade de construir resiliência em nível comunitário, regional e oficial.

Kawamura explicou que Arahama, uma vasta planície salpicada por 1.600 casas a 15 quilômetros de Sendai, tem um dos melhores programas de preparação para desastres. Por isso, nenhum dos alunos morreu na escola, acrescentou. Após o terremoto e o tsunami, as crianças não entraram em pânico porque as simulações de resgate eram feitas regularmente na escola. Uma delas, inclusive, armazenou os suprimentos. De fato, poucos dias antes de 11 de março de 2011, Kawamura decidiu que os suprimentos que estavam no ginásio fossem armazenados em áreas altas, o que evitou que fossem levados pelo tsunami. Envolverde/IPS