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Seca ataca a economia com efeito dominó

O subsecretário de Agricultura, Michael Scuse (esquerda), analisa com produtores os efeitos da seca. Foto: USDA

Nova York, Estados Unidos, 24/7/2012 – Os Estados Unidos sofrem uma das secas mais severas em décadas, que está afetando as colheitas e causando preocupação no público quanto aos efeitos da mudança climática. Segundo novo relatório do Centro de Informação Climática do Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), a temperatura média em junho no Hemisfério Norte foi a mais alta jamais registrada. “Os eventos de seca, provavelmente, serão mais frequentes e intensos em muitas partes do mundo, sobretudo no sudoeste dos Estados Unidos”, disse à IPS o jornalista científico Andrew Freedman, da Climate Central, organização de pesquisa e difusão de notícias sobre ciência.

A seca, menos extrema, mas geograficamente mais espalhada do que a registrada nos anos 1930 – que iniciou um período de severas perdas agrícolas neste país –, agora afeta mais de 60% do território e 78% das regiões produtoras de milho, segundo o U. S. Drought Monitor, que realiza um mapa da falta de chuvas. “Nos 18 principais Estados produtores de milho, 30% das colheitas agora estão em condições más ou muito más”, afirma o Monitor em seu Informe Nacional de Secas. “Além disso, quase metade das pastagens e dos campos estão em condições más ou muito más”, acrescenta.

O Departamento de Agricultura respondeu a esta situação declarando oficialmente mais de mil condados em 26 Estados “áreas de desastre natural”, o que permite que os agricultores locais possam receber empréstimos de emergência da Agência de Serviço Agrícola. De todo modo, a seca sem precedentes inevitavelmente prejudicará os produtores, alertou John Hawkins, do Escritório Agrícola de Illinois (centro), um dos Estados mais afetados. “A perda de cultivos exerce pressão econômica e emocional sobre as famílias de agricultores”, pontuou Hawkins à IPS. “Temos alguns condados nas áreas mais afetadas pela seca (sul de Illinois) onde não haverá colheitas de milho ou soja neste outono (boreal), se não chover”, alertou.

Isto também pode ter sérias consequências para o resto do mundo, já que os Estados Unidos são o maior produtor de milho do planeta, com 40% da oferta. Também serão afetados os pecuaristas norte-americanos, que alimentam seus animais com soja e milho. Por efeito dominó, toda a economia deste país se verá prejudicada pelos eventos climáticos extremos. “Se o gado bovino e suíno receberem menos alimento, os preços da carne para os consumidores, provavelmente, aumentarão no próximo ano”, advertiu Hawkins.

O aumento dos preços do milho e da soja também afetarão em grande parte os produtores lácteos, impulsionando, por sua vez, a alta o preço do leite e do queijo, prevê o Departamento de Agricultura. De fato, o gado leiteiro está sofrendo o calor e a escassez de alimentos básicos. Em Illinois, “as vacas produziam 90 libras (40 litros) de leite, mas agora produzem apenas entre 60 ou 70”, contou Jim Fraley, da Associação de Produtores de Laticínios desse Estado, em conversa com a IPS. “Os agricultores estão fazendo tudo o que podem para manter os animais em um ambiente fresco”, destacou.

Entretanto, “haverá leite para venda”, assegurou à IPS o economista Roger Hoskin, do Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura. “Não creio que haverá filas nos supermercados para comprar leite, mas os preços continuarão em alta”, afirmou.

As atuais condições climáticas também desatarão outros eventos incomuns. Os Estados Unidos experimentam um drástico aumento no número de incêndios desde meados de junho, segundo o Informe Nacional de Secas. Mais de mil casas foram destruídas pelo fogo desde janeiro. No Ártico, o gelo derreteu em junho passado mais do que a média anual, segundo estudo feito na Groenlândia por Jason Box, do Centro Byrd de Pesquisa Polar. “É razoável esperar que 100% da área derreta com outra década de aquecimento” planetário, alertou.

Muitos concordam que a incomum onda de calor é outro sinal da mudança climática. Um novo informe da NOAA concluiu que, atualmente, devido a este fenômeno, a probabilidade de haver dezembros frios é metade da que havia há 50 anos. O relatório também focou no Estado do Texas, que sofreu sua temporada mais seca em 2011, e concluiu que as ondas de calor ali são hoje em dia 50 vezes mais prováveis do que na década de 1960.

Uma pesquisa divulgada no dia 16 deste mês pela Universidade do Texas mostra um aumento no número de pessoas que acredita que o aquecimento global é um fenômeno causado por atividades humanas. Demorou apenas quatro meses muito secos para que a porcentagem de texanos que negam a mudança climática caísse de 22% para 15%. Freedman acredita que a seca atual é produto tanto das atividades humanas quanto da variabilidade climática. “Não é preciso ser gênio para concluir que a redução das emissões de gases estufa, que causam grande parte do aquecimento da Terra, é uma boa ideia se queremos deter o processo e evitar o pior cenário, incluindo mais secas”, afirmou à IPS. Envolverde/IPS