Opinião

SCD-1, um fenômeno do mundo dos satélites

Por Júlio Ottoboni*

São 24 anos no espaço, completados em fevereiro, em órbita da Terra, e ainda se encontra funcionamento. O Satélite de Coleta de Dados ( SCD-1), o primeiro de uma série prevista pela Missão Espacial Completa Brasileira ( Mecb), é hoje um fenômeno entre os satélites artificiais do mundo. Seu projeto inicial era para funcionar um ano, recolhendo dados ambientais das Plataformas de Coleta de Dados (PCD) espalhadas pelo território nacional.

Caso o SCD-1 alcance seu 25º ano no espaço, a serem completados em 09 de fevereiro de 2018, ele se tornará um dos mais bem sucedidos objetos espaciais com função de monitoramento ambiental já produzido pelo segmento aeroespacial. Um feito praticamente inédito na história da tecnologia satelitária desde o começo da corrida espacial, na década de 50. Esse é um dos satélites mais longevos em relação ao seu projeto inicial.

 

O tempo de 25 anos é calculado como o máximo de tempo para um objeto em órbita terrestre baixa, como a do SCD-1 que é de 750 quilômetros, sofra com o efeito de arrasto da gravidade do planeta e caia na superfície, geralmente se desintegrando na reentrada atmosférica.

“A longevidade do SCD-1 comprova o alto grau de competência técnica não só das equipes de engenharia espacial e de integração e testes que participaram do desenvolvimento do satélite, como também das equipes de operação em voo do Centro de Rastreio e Controle de Satélites do Inpe”, comentou  o engenheiro do instituto, Jun Tominaga.

O lançamento do SCD-1 colocou o Brasil entre as nações que dominam o ciclo completo de uma missão espacial desde sua concepção até o final de sua operação em órbita. Com 115 kg, o SCD-1 foi totalmente projetado, desenvolvido e construído pela equipe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos. Para seu desenvolvimento, o Inpe investiu em laboratórios com tecnologia de ponta, como o Laboratório de Integração e Testes ( LIT) e no desenvolvimento de técnicos e engenheiros.

Esse pequeno satélite foi um marco na coleta de dados ambientais e que são distribuídos para instituições nacionais governamentais e do setor privado. Elas desenvolvem aplicações e pesquisas em diferentes áreas, como estudo da química da atmosfera, previsão meteorológica e climática, controle da poluição e avaliação do potencial de energias renováveis.

O SCD-1 foi lançado com começo de fevereiro de 1993, a partir do foguete Pesagus, de origem norte americana. Nas próximas semanas ele completa sua órbita 127.000, algo próximo a marca de seis bilhões de quilômetros girando em torno do planeta. Para se ter uma ideia da trajetória, a distância média entre a Terra e Marte é de cerca de 225 milhões de quilômetros.

Devido a uma falha em sua bateria, desde 2010, o satélite tem funcionado quando está iluminado pelo Sol.  Com a falha no suprimento de energia, de acordo com o Centro de Rastreio e Controle do Inpe, o SCD-1 ainda consegue coletar e transmitir dados ambientais, que acabam destinados ao monitoramento de bacias hidrográficas, marés, meteorologia, clima,  pesquisas sobre mudanças climáticas e desastres naturais.

Atualmente, a carga útil do satélite se resume a um transponder de coleta e transmissão de informações telemétricas. O SCD-1 opera em horários determinados do dia, o que equivale a cerca de 65% do tempo total anterior.

O segundo transponder, denominado de serviço, que recebe os telecomandos do Inpe para as correções de órbita do satélite não funciona mais. A perda deste equipamento diminui a precisão das estimativas do posicionamento do satélite no espaço. Embora ainda se tenha condições de efetuar algumas operações de controle do SCD-1.

Os técnicos do Inpe fazem periodicamente manobras para manter os painéis solares apontados para o Sol, para captar energia, e o radiador voltado para o espaço a fim de dissipar calor. Desde sua colocação no espaço, a velocidade de rotação do satélite, que o manter em órbita,  vem diminuindo, dos iniciais 120 rpm para 5 rpm este ano. Isso tem afetado a estabilidade na rotação e no seu ângulo em relação à superfície do planeta. E tem causado uma elevação das temperaturas de alguns equipamentos embarcados, que hoje estão acima dos limites estabelecidos.

Apesar dos problemas mencionados, o SCD-1 continua fornecendo dados de carga útil válidos a seus usuários, de modo que, embora com alguma degradação, ainda realiza sua missão de coleta de dados ambientais em um nível satisfatório. (#Envolverde)

* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais  e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente.  É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.