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Planejamento urbano é crucial para preservar biodiversidade

Achim Steiner, do Pnuma, e Pawan Sukhdev, na COP 11. Foto: Manipadma Jena/IPS

Hyderabad, Índia, 22/10/2012 – A urbanização mundial terá implicações para a biodiversidade e os ecossistemas caso continuem as tendências atuais, com efeitos devastadores sobre a saúde humana e o desenvolvimento, segundo um informe apresentado no dia 19, na Índia. O estudo foi divulgado pelo Convênio das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CDB) ao encerrar sua 11ª Conferência das Partes (COP 11), que aconteceu na semana passada nesta cidade indiana. Intitulado A Perspectiva das Cidades e a Diversidade Biológica, é a primeira análise global sobre o impacto dos padrões projetados de expansão urbana sobre a biodiversidade e os ecossistemas cruciais.

“Como se projeta que até 2030 mais de 60% da população mundial viverá em áreas urbanas, por que não se preparar para isso e criar cidades que incluam a preservação da biodiversidade em seu planejamento?”, questionou Kobie Brand, da organização Governos Locais para a Sustentabilidade (Iclei), da Cidade do Cabo. A existência da Iclei, uma associação de cidades do mundo comprometidas com o desenvolvimento sustentável, sugere que o valor de reverdecer os centros urbanos ganha terreno. O Centro de Biodiversidade das Cidades da Iclei trabalha estreitamente com o CDB.

O estudo agora apresentado pelo CDB conta com a colaboração de 123 cientistas de todo o mundo, e afirma que 60% da terra que se projeta urbanizar até 2030 ainda está sem construir. Segundo o professor Thomas Elmqvist, do Centro de Resiliência de Estocolmo e editor científico do informe, isto oferece uma oportunidade para um desenvolvimento urbano baixo em carbono e eficiente em matéria de recursos.

“As cidades precisam aprender como proteger melhor e melhorar a diversidade biológica, já que esta pode existir nas cidades e é extremamente crítica para a saúde e o bem-estar”, indicou Elmqvist. Inclusive as hortas domésticas abrigam uma biodiversidade significativa. Um estudo de 61 jardins na cidade britânica de Sheffield encontrou quatro mil espécies de invertebrados, 80 de liquens e mais de mil plantas.

“Os habitantes das cidades amam a natureza, mas a dão como assentada. Não entendem a importância da biodiversidade. Assim, nos povoados e nas cidades incentivamos e premiamos os que protegem a biodiversidade, incluídos os sapos”, disse à IPS a estudante alemã Julia Hennlein, de 21 anos, que esteve da COP 11 integrando uma delegação juvenil.

O brasileiro Braulio Ferreira de Souza Dias, secretário-executivo do CDB, disse que “é nas cidades que são geradas as ferramentas de inovação e governança, por isso os centros urbanos estão em melhor posição de liderar a preservação da biodiversidade”. E acrescentou que “a maneira como estão projetadas nossas cidades, a maneira como as pessoas vivem nelas e as decisões políticas das autoridades locais definirão, em grande parte, a sustentabilidade global futura”.

No entanto, nem todos têm uma perspectiva positiva sobre a urbanização. Por exemplo, na Índia, país anfitrião da COP 11, há receios. “A menos que ocorram mudanças no atual modelo de desenvolvimento, as áreas urbanas continuarão vendo enormes migrações, e a Índia é um exemplo”, disse à IPS o ambientalista indiano de renome internacional, Ashish Kothari. “Se faz muito pouco para regenerar aldeias, mas, onde isto acontece, os imigrantes abandonam as cidades e voltam para seus lugares de origem”, ressaltou.

Aarati Khosla, do capítulo indiano do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), afirmou à IPS que, “mesmo as pequenas coisas, como o estacionamento eficiente de veículos, devem ser manejadas melhor para tornar sustentáveis os centros urbanos”. Nova Délhi e também Mumbai, o principal centro de negócios do país, estão, respectivamente, em 58º e 52º lugares entre 95 cidades analisadas por um informe da ONU Habitat, divulgado na semana passada. As más condições ambientais e a poluição são alguns dos principais motivos desses resultados.

A Índia, que atualmente sofre uma urbanização maciça, espera que sua população urbana salte dos atuais 30% para 50% até 2044. Este país representa 11% da população urbana mundial, que crescerá 15% até 2031. Neste presente insustentável, a urbanização “também tem um impacto importante sobre as áreas rurais, modificando meios de sustento, estilos de vida, padrões de consumo e geração de lixo”, pontuou Helene Roumani, coordenadora da Ação Local pela Biodiversidade, de Jerusalém, que participou da cúpula Cidades Pela Vida, de dois dias, paralela à COP 11.

Pedindo urgência aos governos locais para que entendam melhor o papel dos serviços do ecossistema no planejamento urbano, Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), enfatizou que os grupos urbanos grandes e pequenos dependem desses serviços para obter alimentos, água e saúde.

Sem compatibilização entre ambiente e desenvolvimento, é possível que um terço da população logo esteja vivendo em áreas com escassez hídrica, advertiu Steiner na apresentação do informe A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para a Água e os Mangues, iniciativa da secretaria da Convenção Relativa aos Pântanos de Importância Internacional, Especialmente como Habitat de Aves Aquáticas, conhecida como Convenção de Ramsar. Segundo esse estudo, o mundo perdeu metade de seus pântanos no Século 20.

“As pessoas, as cidades e o espaço azul estão estreitamente conectados”, disse à IPS o subdiretor geral da Convenção de Ramsar, Nick Davidson. “Os pântanos não só manejam a contaminação como promovem melhor saúde de muitas maneiras, e as cidades costeiras na Ásia estão particularmente sob grande pressão pelas demandas por meios de sustento”, afirmou. “Os que tomam as decisões realmente têm de fazer uma escolha difícil para equilibrar as prioridades de desenvolvimento e sustento com a saúde dos pântanos”, opinou. Envolverde/IPS