Opinião

Sobre Astor, acerolas e a Chapecoense

Por Juan Piva*

Recentemente, lembrei-me do primeiro presente de Natal (guardado na memória) que ganhei dos meus pais – Astor. Como eu era uma criança muito briguenta, aquele pastor alemão tinha a missão de me acalmar. No entanto, ele escapou numa tarde de domingo e não voltou legal; acordei na segunda com meu cachorro envenenado. Revoltei-me ainda mais por descobrir que alguns tios espalhavam veneno de rato nas intermediações.

Plantei um pé de acerola – minha fruta predileta – próximo de onde enterrei Astor. Cultivar aquela muda no lugar da raiva foi uma boa escolha. Por sua vez, como a maioria das crianças, era impaciente, e a demora em produzir frutos me deixava nervoso. Mais de 20 anos se passaram para eu fazer minha primeira colheita. Curioso que foi exatamente no momento em que me vi mais bravo com uma pessoa. Para não fazer besteira, fui pegar acerolas, fiz um delicioso suco, tomei e meu estresse diminuiu.

Meu pé de acerola. Foto: Juan Piva
Meu pé de acerola. Foto: Juan Piva

 

Dias depois, a notícia da queda do avião que transportava a delegação da Chapecoense, 21 colegas de profissão e tripulação me chocou. Jornalista e apaixonado por futebol (na mesma proporção que pela natureza), faltava-me palavras para traduzir minha tristeza pela morte das 71 pessoas envolvidas no acidente.

Embora meu trabalho exija respostas para a maioria das perguntas, algo mais forte que eu revela que nem tudo cabe uma explicação para os homens, “que perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… E morrem como se nunca tivessem vivido” (in GRETZ, Prof. Superando Limites – A viajem é mais importante que o destino). Melhor eu colher acerolas e plantar 71 sementes em homenagem às vítimas dessa tragédia! (#Envolverde)

* Juan Piva é graduado em Jornalismo, com especialização em Educação Ambiental e Políticas Públicas pela Esalq-USP. Iniciou sua trajetória na Comunicação Socioambiental há oito anos, como estagiário da Oscip Barco Escola da Natureza; já como assessor de imprensa dessa organização, passou a apresentar programas de tevê e rádio, com a intenção de democratizar a informação ambiental. É coautor do livro-reportagem “Voluntariado ambiental: peça importante no quebra-cabeça da sustentabilidade”, promotor do Empreendedorismo Socioambiental no Brasil, membro da Câmara Técnica de Educação Ambiental dos Comitês PCJ, jornalista responsável pelo Jornal +Notícias Ambientais e associado-fundador da Associação Mandacaru – Educação para Sustentabilidade.