Opinião

A pecuária de um futuro consciente

Por Katherine Rivas da Envolverde*

Paulo Pianez é Economista e Mestre em Qualidade e Estatística pela Unicamp. Diretor de Sustentabilidade do Grupo Carrefour desde 2008 elaborou múltiplos projetos para colocar o grupo na liderança da proteção ambiental e segurança dos clientes e funcionários.

Participa do Conselho Diretor do Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável e motivou desde 2009 a criação de uma Plataforma com estes princípios para o Grupo Carrefour.

Em entrevista para Envolverde ele nos conta da iniciativa. Confira!

Como funciona a Plataforma de Pecuária Sustentável?

É simples. Você pega uma determinada região produtora ou fazenda e fica sob uma coordenada geográfica para fazer a leitura via satélite. Com essa coordenada você traça um perímetro em torno daquela propriedade e você sabe exatamente qual é a vegetação desta.

Então por cada compra que o Carrefour fizer, esta vai ser cruzada com a base de dados que está no satélite, esta é a base de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Se ao fazer o cruzamento há desconformidade será gerada uma alerta então nós vamos identificar se foi uma região de desmatamento ou uma área embargada e vamos suspender o fornecimento daquela fazenda ou frigorifico.

E a verificação do trabalho escravo responde a que critérios?

Os dados não relacionados ao desmatamento a plataforma faz cruzamento. Eu tenho o CNPJ de todos os produtores e frigoríficos da nossa rede. Em cada compra a gente cruza os dados do CNPJ e se houver sobreposição deste a fazenda é automaticamente excluída.

O Carrefour fechou um compromisso pelo Desmatamento Zero. É esta a política?

Sim, a gente está prometendo um desmatamento zero. Não é nem desmatamento legal ou desmatamento liquido zero. Com a nossa Plataforma implantada nossos fornecedores ou frigoríficos não podem sob nenhuma hipótese derrubar nenhuma árvore segundo o estabelecido na contagem de 2010. Então nosso nível de preservação será o mesmo que há seis anos.

Como funcionará a implantação da Plataforma?

Nosso objetivo é que até o segundo semestre de 2017 todos os frigoríficos façam parte da iniciativa. O Carrefour conta com 28 frigoríficos e seis plantas que pertencem ao Bioma Amazônia. Nossa campanha para conscientizar o consumidor deve chegar em todas nossas lojas a nível nacional em novembro e dezembro.

Como manter o mesmo nível de comercial no mercado com esta nova estratégia?

O trinômio que determina os nossos consumidores é: Preço, Qualidade e Segurança. Então a gente está muito voltado para as questões de segurança ambiental, segurança sanitária e qualidade do produto. Mas se você não oferecer o produto ao preço do consumidor de nada adianta as iniciativas. Então um dos objetivos do programa é que o preço não aumente. Então todos atuam de forma sustentável e o fornecedor consegue comprar a carne no mesmo preço.

Há uma descrença por parte da sociedade em relação a Pecuária Sustentável. Muitos consideram que não vai além de uma estratégia de marketing de grandes grupos. Como o Carrefour vai lidar com isso?

Esse será o nosso grande desafio. O consumidor médio pode até ter uma consciência ambiental ou social, mas ainda está muito desconectado disso. O ato de compra hoje virou automático. As pessoas não conseguem conectar que a carne vem de um animal que pode ter sido criado em uma região cheia de problemas do ponto de vista ambiental social e trabalhista.

Então o desafio é contar essa história e engajar o consumidor com a causa, que ele entenda que pode fazer acontecer. Estamos fazendo pesquisas com grupos de consumidores. Com esses dados vamos construir uma campanha, mas usaremos meio eficientes de comunicação, como sites e redes sociais. Não adianta a gente criar uma campanha televisiva que dura poucas semanas, é cara e tudo mundo esquece. Queremos eficiência.

Por que a aliança entre sustentabilidade e grandes redes de mercado hoje é imprescindível no mundo comercial?

Eu diria que é também uma questão econômica, o consumidor passa a exigir isso. E se a gente não cuidar da forma como produzimos daqui a pouco vamos saturar a nossa capacidade. Ou a gente não vai ter o produto para vender ou não vai ter quem comprar. Então sustentabilidade hoje é uma questão intrínseca da economia e em alguns anos será uma questão normal no ato de compra. (#Envolverde)