Sociedade

De pombos à educação ambiental

Por Juan Piva* 

Tirei férias do trabalho e eles da escola, naquele mesmo dia. Caminhava pelo bairro, quando também os vi praticando um “esporte”, logo no primeiro momento de lazer deles. “Poxa, passou perto. Agora é você!”, indicou o menor. Por sua vez, o outro estudante acertou a fiação e espantou o alvo, acabando com a “brincadeira”, antes que eu me aproximasse.

Um casal de pombos acasalando estava na mira dos garotos, que viam graça na cena e queriam acabar com ela, conforme me contaram, quando os abordei. “O que essas aves fazem de bom?”, questionaram-me. Porém, foi difícil os convencer que apedrejá-las “não é legal”: de acordo com a Lei de Crimes Ambientais, elas são consideradas animais domésticos e, por isso, matá-las, feri-las, mau-tratá-las ou prendê-las – sem autorização – pode resultar em pena de reclusão inafiançável.

Falei para aquelas crianças que “os pombos são importantes para o equilíbrio do planeta, pois se alimentam de frutinhas e bichinhos, contribuindo, principalmente, com a dispersão de sementes e com o controle de insetos”. “Mas ouvi minha mãe dizer que eles já viraram praga!”, afirmou o maior, na tentativa de justificar o crime. “Na escola mesmo têm vários, até cagam na gente”, lembrou seu colega. Então perguntei: lá, jogam comida para eles? “SIM”.

Não foi nada fácil fazê-los acreditar que o aumento da quantidade de pombos no ambiente urbano é culpa nossa, que damos-lhes desde restos de merenda até pipocas – nas praças, como já fiz. Segundo uma dedetizadora, “pragas só surgem em locais onde encontram condições favoráveis para realizarem duas funções biológicas fundamentais para o crescimento populacional: alimentação e reprodução”.

Foto: Pixabay

 

“Nas cidades, o pombo vive cerca de cinco anos. Se imaginarmos que iniciam a vida sexual entre três e quatro meses de idade e que cada casal de pombinhos passa pelo ritual de acasalamento cerca de cinco vezes por ano, então, em uma vida, cada pombo deve procriar mais de 20 vezes. Cada casal pode ser responsável por até 40 novos indivíduos”, informou a empresa, ressaltando que das 309 espécies registradas, apenas duas podem ser chamadas de praga: a comum e a amargosinha.

O jornalista Mário Salvador destacou que, embora a pomba branca (comum) represente a paz e o Espírito Santo, a ave pode nos provocar prejuízos: “além de deixarem piolhos, pulgas e muita sujeira por onde passam, transmitem toxoplasmose, micose, problemas respiratórios graves, dentre outras doenças”.

“Autoridades são responsáveis por fazer com que o número de pombos não fuja ao controle e nós, como cidadãos, podemos fazer nossa parte: devemos entender que eles são capazes de buscar na natureza os recursos para a sobrevivência”, complementou o comunicador.

E os garotos? Agradeceram a “aula de educação ambiental” e foram, enfim, curtir as férias. (#Envolverde) 

* Juan Piva é graduado em Jornalismo, com especialização em Educação Ambiental e Políticas Públicas pela Esalq-USP. Iniciou sua trajetória na Comunicação Socioambiental há oito anos, como estagiário da Oscip Barco Escola da Natureza; já como assessor de imprensa dessa organização, passou a apresentar programas de tevê e rádio, com a intenção de democratizar a informação ambiental. É coautor do livro-reportagem “Voluntariado ambiental: peça importante no quebra-cabeça da sustentabilidade”, promotor do Empreendedorismo Socioambiental no Brasil, membro da Câmara Técnica de Educação Ambiental dos Comitês PCJ, jornalista responsável pelo Jornal +Notícias Ambientais e associado-fundador da Associação Mandacaru – Educação para Sustentabilidade.