Opinião

Cidade cinzenta 

Por Leno F. da Silva*

Depois do sucesso do livro “50 tons de cinza”, a sua adaptação cinematográfica foi broxante. Mix das cores branca e preta, as tonalidades cinzentas lembram frieza, neutralidade e, quiçá, assepsia.

Neste início de nova gestão municipal, para deixar a cidade mais “Linda”, o atual prefeito decidiu encobrir os Grafites, uma modalidade de arte urbana valorizada em diversos países, pulverizando tinta cinza nos muros da Av. 23 de Maio.

Prata, versão cintilante do cinza, já está presente na maioria dos automóveis que circulam pelas ruas da cidade. De certa forma, as principais vias e avenidas seguem a mesma direção, estampando a cor cinza-escura nas suas faixas de rolamento.

Pode-se considerar também que o alumínio seja uma versão brilhante do cinza, que tem no aço inox uma categoria mais nobre desse tom, presente em esquadrias, janelas e fachadas de residências e edifícios comerciais.

Quase me esqueci: cinza é a cor do uniforme da Polícia Militar, e dos camburões da ROTA. Talvez cinza seja a não cor, ou a cor escolhida para encobrir as outras sem usar o branco.

Numa cidade tão vibrante, a opção do mandatário municipal pelas nuances cinzentas apagaram um pouco da vida que pulsava em cores, contrastes e traços distintos, os quais estavam pintados nos muros como uma galeria aberta 24 horas por dia, numa mostra permanente e acessível para quem circulava por uma das mais volumosas avenidas desta metrópole. Por aqui, fico. Até a próxima. (#Envolverde)

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.