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O prenúncio de uma nova era

0706/2015- Krün- Baviera, Alemanha- Cúpula do G7 se reúne em Krün, na Baviera (Alemanha). Foto: Governo da Alemanha
0706/2015- Krün- Baviera, Alemanha- Cúpula do G7 se reúne em Krün, na Baviera (Alemanha). Foto: Governo da Alemanha

Por Vanessa Callau – 

A semana anterior começou com a notícia mais importante do século XXI, até agora: uma inesperada decisão da cúpula do G7 (formada por Alemanha, Grã-Bretanha, França, Estados Unidos, Canadá, Japão e Itália) de banir, até o final do século, o uso de combustíveis fósseis. Uma mensagem de impacto e que se, de fato, for implementada, mudará em algumas décadas a base da economia mundial.

Embora a decisão deva ser comemorada, também deve ser vista com cautela – pois os países não trouxeram à tona o que de fato torna essa intenção uma realidade – as metas vinculantes (compromissos que devem se tornar leis nos países que os assumem). É claro que a decisão do G7 aumenta a esperança de que as próximas negociações sobre o clima (que ocorrerão a partir de novembro, em Paris) poderão avançar no tão necessário estabelecimento de metas vinculantes globais de corte das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE).

Segundo informa o The Guardian, a questão de metas vinculantes ainda é um assunto de difícil consenso em países como Canadá e Japão, cuja matriz energética depende muito dos combustíveis fósseis. Dificuldade essa que será ainda maior na Conferência entre as Partes (COP) de Paris, quando ao invés de 7, teremos 196 países com condições energéticas, sociais e econômicas muito distintas entre si, tentando cada qual buscar um acordo que não deixe seu país em grande desvantagem tecnológica ou competitiva.

EUA e China, os maiores emissores de GEE do planeta, quando se reuniram em novembro do ano passado anunciaram um acordo onde se comprometem a ter metas de redução a partir de 2020. Apesar de tais metas também não serem vinculantes (força de lei), foram muito bem recebidas porque, historicamente, ambos os países tinham um posicionamento muito difícil de se dialogar para o estabelecimento metas. Esse acordo entre as duas super gigantes da economia e campeãs de emissões é também, portanto, uma importante sinalização de flexibilidade para estabelecimento de metas obrigatórias nas negociações do clima, no final do ano.

O Brasil tem, desde 2009, metas voluntárias de redução de 36% a 39% de suas emissões, metas estas que estão formalizadas na lei que criou a Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei 12.187/09). E o país também sinaliza que pode avançar nas negociações globais. Prova disso é que no fim desse mês, Dilma e Barack Obama terão um encontro em Washington no qual duas questões principais serão discutidas: educação e mudanças climáticas. A posição da diplomacia brasileira é pelo estabelecimento de metas vinculantes globais. Obama também tem se posicionado de maneira cada vez mais contundente no combate às mudanças climáticas. No entanto, em um congresso de maioria republicana, ele pode ter dificuldades de avançar nessa frente.

Estabelecer metas obrigatórias que sejam condizentes com as diferenças nas situações de desenvolvimento de cada país é o grande desafio das negociações do clima. Enquanto tais metas não forem estabelecidas, esses acordos não passam de boas intenções e retórica. A questão é que representantes de Estados, acostumados a defenderem, em acordos multilaterais, os interesses de seus países e suas economias têm o enorme desafio de colocar a humanidade acima de seus interesses nacionalistas e de pensar o planeta não como uma divisão de nações, mas sim como uma aldeia global. O desafio de pensar a natureza antes e acima da economia – e não como matéria-prima desta.  Esse tipo de negociação exige, ao mesmo tempo, grandes renúncias individuais, bem como alta disponibilidade e capacidade para cooperação. Algo nunca feito nas dimensões e escalas exigidas atualmente.

Banir os combustíveis fósseis é dever moral dos governantes de todo planeta. Quanto antes ocorrer, menos graves serão as consequências para a sobrevivência da humanidade. Porém, a economia global é baseada nesses recursos, não só como combustíveis, mas também como matéria-prima para uma infinidade de indústrias que permeiam todos os aspectos de nossas vidas. Como então esses países estão se preparando para um mundo assim, de baixo carbono? Esse é o tema do próximo artigo, a ser publicado dentro de um mês. (#Envolverde)

* Quer saber mais sobre mudanças climáticas eeconomia de baixo carbono? Deixe sua dúvida ou sugestão na página Vanessa Callau Sustentabilidade.

** Vanessa Callau  é consultora de inovação e sustentabilidade estratégica, certificada pela Harvard UniversityExtensionSchool, e com quase 15 anos de experiência no mercado. Já atuou junto a dezenas de empresas, com foco principal na geração e manutenção de valor para as empresas, seus acionistas e todos os demais stakeholders.