Ligue os motores, Angela

O destino do mundo depende, em um nível espantoso, da chanceler alemã. Foto:The Economist

A economia mundial corre grave perigo. Muito depende de apenas uma mulher

“Aos botes!”. Esta é a mensagem curta e grossa que os mercados de títulos estão mandando em relação à economia mundial. Os investidores estão correndo para comprar títulos do tesouro americano, alemão e de um número cada vez menor de economias “seguras”. Quando as pessoas estão dispostas a pagar ao governo alemão pelo privilégio de manter títulos de sua dívida, e estão dispostas a emprestar recursos ao governo americano a uma taxa nominal de menos de 1,5%, elas estão esperando anos de estagnação e deflação ou estão aterrorizadas com a perspectiva de desastre iminente. Qualquer que seja o caso, algo está muito errado com a economia global.

Este algo é uma combinação de crescimento vacilante e um aumento do risco de uma catástrofe financeira. As economias estão enfraquecendo ao redor do mundo. As recessões na periferia da zona do euro estão se acirrando. Três meses consecutivos de dados de desemprego ruins sugerem que a recuperação dos Estados Unidos pode estar em apuros. E os maiores mercados emergentes parecem estar em uma rua sem saída. O PIB do Brasil está crescendo mais lentamente que o do Japão. A Índia está uma confusão. Até a desaceleração do China se intensificou. Uma recuperação global que tropeça com tanta rapidez após a recessão anterior evoca uma estagnação generalizada ao estilo japonês.

Feita em Atenas, piorada em Berlim

Cabe agora aos políticos europeus lidar de maneira firme e definitiva com o euro. Ainda que eles desenvolvam uma solução crível, isso não garante uma jornada suave para a economia mundial; mas não gerar uma solução garante uma tragédia econômica. O destino do mundo depende, em um nível espantoso, da chanceler alemã, Angela Merkel.

Por um lado parece injusto responsabilizar apenas Merkel. Políticos estão fracassando em todos os lugares – de Délhi, onde a reforma foi paralisada, a Washington, onde a paralisia gerada pelo partidarismo ameaça gerar uma combinação letal de aumentos de impostos e cortes de gastos ao fim do ano. Na Europa, como os alemães não se cansam de relembrar, os investidores não estão preocupados com o governo prudente de Merkel, cujo predecessor reestruturou a economia de modo doloroso há dez anos; o problema é uma perda de confiança nos países não reformados e menos bem administrados.

Seja ousada, bitte

Fora da Alemanha, desenvolveu-se um consenso a respeito do que Angela Merkel deve fazer para preservar a moeda única. A estratégia inclui trocar o foco sobre a austeridade por muito mais foco em crescimento econômico; complementar a moeda única com uma união bancária (com seguros para depósitos válidos em toda a Europa, supervisão bancária e união de recursos para recapitalizar ou fechar bancos insolventes); e adotar uma forma limitada de mutualização de dívida para criar um ativo conjunto seguro e dar a oportunidade às economias periféricas de reduzir gradualmente o fardo de suas dívidas. Esta é a mensagem de Washington, Beijing, Londres e, com efeito, da maior parte das capitais da zona do euro. Porque os políticos mais argutos do continente não entraram em ação? Angela Merkel, cabe a você.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.