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Kuwait lidera ajuda humanitária à Síria

O lixo acumula nas ruas da cidade síria de Homs. Foto: Freedom House/cc by 2.0
O lixo acumula nas ruas da cidade síria de Homs. Foto: Freedom House/cc by 2.0

 

Cidade do Kuwait, Kuwait, 17/1/2014 – Diante do agravamento da crise humanitária na Síria, a comunidade internacional prometeu esta semana US$ 2,4 bilhões para ajudar os afetados pelo conflito nesse país. Na segunda conferência de doadores para a Síria, o emir do Kuwait, xeque Jaber al Ahmad al Jaber al Sabah, liderou a comunidade internacional com a contribuição de US$ 500 milhões, superando os US$ 380 milhões prometidos pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Arábia Saudita e Catar, duas monarquias do Oriente Médio ricas em petróleo, deram US$ 60 milhões cada uma, enquanto a Alemanha contribuiu com US$ 109 milhões, todos bem atrás do Kuwait. Além disso, organizações não governamentais e instituições benemerentes contribuíram com mais de US$ 400 milhões na conferência patrocinada pelo governo kuwaitiano. O total arrecadado superou os US$ 2,4 bilhões.

A quantia exata será anunciada em breve, disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, expressando sua satisfação pelos números. Porém, não se conseguiu reunir os US$ 6,5 bilhões que o fórum mundial havia solicitado.

Consultada sobre esse déficit, a secretária-geral adjunta de Assuntos Humanitários, Valerie Amos, afirmou aos jornalistas que a quantia de US$ 6,5 bilhões não era a meta na conferência do Kuwait. “Esse é o montante requerido para todo o ano”, afirmou, qualificando de “grande sucesso” o resultado da conferência.

No encontro do Kuwait foi pintado um retrato catastrófico da Síria, onde 9,3 milhões de pessoas, quase metade da população do país, precisam de urgente ajuda humanitária. As últimas estatísticas são terríveis: mais de dois milhões de crianças sírias não vão à escola, dois em cada cinco hospitais já não funcionam e quase metade das ambulâncias foram roubadas, incendiadas ou danificadas.

Além disso, quase metade dos médicos foram obrigados a abandonar o país, e cresce a ameaça da poliomielite. “Algumas partes do país têm apenas uma hora de eletricidade por dia, e muitas pessoas não têm acesso seguro a água potável”, disse Ban aos doadores. O secretário-geral destacou que qualquer recuperação política deverá ser construída com base em uma ajuda humanitária sustentada.

A primeira conferência, realizada em janeiro do ano passado também no Kuwait, conseguiu US$ 1,5 bilhão por parte de 43 doadores, incluindo os US$ 300 milhões oferecidos por esse país do Golfo. Cerca de 90% dessas promessas se concretizaram, informou Amos em entrevista coletiva. Esses fundos ajudaram no ano passado a fornecer água potável a dez milhões de pessoas na Síria, e permitiram que organizações de saúde prestassem serviços para mais de 3,5 milhões de sírios, entre eles mais de um milhão de crianças que receberam vacinas, segundo a ONU.

Amos relatou aos doadores que, quando visitou a Síria há quase dois anos, só um milhão de pessoas precisavam de assistência humanitária. Agora, somam 9,3 milhões, lamentou, “quase a população do Chade, da Suécia ou da Bolívia”, e há quase seis milhões de refugiados. “O próprio tecido social está destruído, e o sectarismo se arraigou, com numerosos exemplos de comunidades vítimas de ataques em razão de sua religião”, afirmou a secretária-geral adjunta. Também disse estar preocupada pelos persistentes informes sobre pessoas que não têm o que comer em algumas comunidades sitiadas.

Por sua vez, John Kerry, após anunciar sua contribuição de US$ 380 milhões, disse aos doadores: “Não consideramos que nossa tarefa, nem a de ninguém aqui, seja simplesmente assinar um cheque”. O secretário de Estado acusou o regime de Bashar al Assad de usar a fome como arma de guerra e negar aos trabalhadores humanitários acesso às populações civis presas no fogo cruzado.

“Se o regime permite o acesso de inspetores de armas internacionais e da ONU, certamente pode fazer o mesmo para a ajuda humanitária neutra”, afirmou Kerry. Desde o começo do conflito, em março de 2011, os Estados Unidos têm sido o maior doador, com US$ 1,7 bilhão em ajuda humanitária.

O porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), Jens Laerke, explicou à IPS que parte das doações é concedida sob a condição de ser destinada a atender emergências específicas ou a apoiar setores ou atividades determinadas. Mas “alguns doadores preferem dar dinheiro de forma mais flexível, para que seus sócios na ajuda humanitária possam decidir onde é mais necessário”, acrescentou.

Além disso, Laerke explicou que “todos os fundos prometidos na conferência serão destinados a financiar ações de ajuda na Síria ou em países vizinhos”. Na Jordânia, Líbano, Turquia, Iraque e Egito há mais de três milhões de refugiados sírios. Laerke disse que sempre há uma demora entre o anúncio da doação e sua concretização efetiva. “Em última instância, depende do doador cumprir essas promessas”, ressaltou.

Ban Ki-moon disse na conferência que as famílias sírias sabem bem que a ajuda humanitária pode salvar vidas, mas não resolver a crise. A ONU é um dos patrocinadores de um encontro internacional sobre o conflito sírio que acontecerá no dia 22, na cidade suíça de Montreaux, e que procurará reunir na mesa de negociações representantes do regime de Assad e da oposição. “Espero que marque o início de um processo político, estabeleça um organismo de governo de transição com pleno poder executivo e, o mais importante, acabe com a violência”, ressaltou Ban. Envolverde/IPS